terça-feira, 25 de setembro de 2012

Meu amigo está velho


Meu amigo está velho... hoje constatei isso
Já não tem o entono  de outrora
Sempre gostou da farra, uma boa briga
Filhos espalhados, perdi as contas (alguns  nem existem mais)
Já não lhe apetece o sol, a sombra tampouco
Mal saí a noite já está recolhido

É.. meu amigo, está velho

Quando alguém de menor estatura, pouca idade , o desafia
Qual criança indefesa, me olha , pede proteção

O ocaso de nossa existência é igual parceiro
O que nos resta, cuidar da casa
ficar lobuno no oitão
Sendo enxotado para fora, mandao para o quarto
já que está pertubando na sala

É... meu amigo está velho
Nem dentes possuí mais
Quanto sucesso no passado
tendo seu nome dito na rádio
eterna ameaça à carteiros e motoqueiros

_Hoje, quando lates, logo advém a tosse
 Não te preocupes
A fidelidade é recíproca.

Ficou um buraco no pátio...
Seguiu em busca da luz no céu dos cachorros!


sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Homem não chora?



      Para quem é nascido e criado até a adolescência na fronteira do estado, especificamente na campanha. Aprendendo desde cedo à lida bruta nas agruras do tempo e intempéries, enrijecendo o corpo e alma para os sentimentos mais comezinhos, incorporamos ao nosso “modus vivendi”, o adágio machista de que “homem não chora”.
         Por vários anos, quando os reveses da vida se abatiam sobre nós, vi muitas vezes meu pai sair do banheiro com os olhos vermelhos e inchados, e acreditava piamente que ele tomava banho com os olhos aberto, e o sabonete lhe queimava a retina, que o minuano soprava forte naquelas plagas, e volta e meia, um cisco lhe caía no olho.
         Na década de oitenta já formado como sargento da Policia Militar, em patrulhamento de rotina, recebemos comunicado via rádio do desaparecimento de uma menina de cinco anos com “Síndrome de Down” , e seu pai estava na Praça XV desesperado. Era sábado à tarde, e vínhamos pela rua Venâncio Aires recolhendo para o Quartel após um dia exaustivo,  por coincidência a encontramos na esquina da Av. João Pessoa e deslocamos com ela ao encontro de seu pai.
     Este relato me ocorre como forma de mostrar uma experiência marcante, bem como prestar homenagem a dois valorosos soldados com quem tive a honra de trabalhar.
       Ao chegarmos ao local de encontro, a menininha correu em direção ao pai babulciando seu nome, recebendo afetuoso abraço dele.
      Na gélida  noite que se avizinhava, constatei contra o recorte  das luzes, nos rostos graníticos e esculpidos em ébano de meus colegas, homens que não titubeavam  diante de um tiroteio, de turbas ensandecidas ,incêndios, enfim, todas as vicissitudes atinentes a profissão.Lágrimas,sim, lágrimas que escorriam abundante pelas faces e molhavam o fardamento. E ali no centro da metrópole fria e inumana, que eu descobri que homem chora,sim.
ALVES

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Pedro e Paulo








Domingo, dias atuais. mês de Setembro correndo solto, sol a pino, quarenta graus à sombra, o suor encharca e o sal queima a pele tostando pelos.
Dia da Grande Final de Paleteada do Concurso de Freio de Ouro da Associação dos Criadores de Cavalo Crioulo na Expointer na cidade de Esteio, no Rio Grande do Sul.

Anos atrás, dia friorento, chuvoso, açudes não dando vau, taipas invadindo várzeas, Estância duplo “W”, Passo Grande, distrito de Cerro do Ouro.
O moço fora visitar o pai, por estar com saudade e principalmente pedir aumento da mesada, visto que o custo de manutenção da “faculdade”, das moças que trabalhavam a noite nas boates da capital, o carro esportivo, aluguel do apartamento, os amigos de copos e farras, estava custando caro e nada mais justo pensava ele, afinal sendo o velho um dos grandes criadores de cavalos crioulos, um dia tudo aquilo seria dele.
Numa de suas muitas noitadas e farras , quando ficou sabendo que uma das muitas mulheres de “vida fácil” que tinha cambicho, estava grávida, em principio não dera a mínima, mas após tomar uma decisão, resolveu que ficaria com a criança após o nascimento.
 Então combinado com alguns colegas da faculdade resolveram raptá-la, e numa noite numa pensão de quinta categoria, no breu do quarto ínfimo, sem fazer barulho para não acordar a mulher que dormia virada para canto da parede, pegaram o menino do berço, e o fruto desta relação vinha agora com ele pra ser criado na fazenda do velho.

Com a morte do velho, assumiu a fazenda, sem canudo, mas  neste país onde quem tem plata, títulos e gentes são comprados , era temido e respeitado , tornando-se um dos principais expositores da Expointer e o cavalo de sua propriedade  BTJOVEM da Santa Cruz era favoritaço para o freio de Ouro daquele ano.
 A estrela principal era o ginete, (seu próprio filho,) campeiro dos quatro costados e um prego nos arreios. No camarote das autoridades o fazendeiro, cofia o bigodão bem cuidado, copo de uísque na mão, antegozando os prazeres da noite onde levará seu filho para se esbaldar como ele fizera outrora, estava cercado de bajuladores, apadrinhados políticos, e toda a camarilha que cerca os poderosos.

No outro lado da cidade um jovem prepara-se para mais um turno estafante de serviço, a lida bruta o castigava desde pequeno, órfão de mãe que definhara jovem, corroída pela cirrose e enfisema, na escravatura da bebida, fumo e venda do corpo.
Ele foi entregue a própria sorte, sem conhecer o pai, e uma alma caridosa o acolheu no Pão dos Pobres, de onde saiu para sentar praça na Brigada Militar.
 Maldizia a sorte de logo hoje, estar escalado naquele Parque, fazendo o Patrulhamento Montado, ele gostava de montar e não tinha o fundilho encerado, sendo de sua responsabilidade o tordilho mais indócil do regimento, resquício de quando era cavalo de saltos na hípica e fora doado por ter derrubado e aleijado o filho de grande empresário escapando assim do sacrifício que estava destinado, e se afeiçoaram, pois os deserdados se juntam pra terem amor.
A filhinha do colega nascera prematura, fora boleado, tinha que cumprir a escala,

Na raia o frenesi tomou conta da assistência, no momento do filho do fazendeiro entrar na pista, e, diga-se de passagem, formavam um conjunto lindo, seu porte altivo, soberbo e algo pedante, com olhar de ébano penetrante e desafiador, junto com o crioulo malacara marchador, narinas infladas , nervos e músculos retesados e olhar superior.
Seu parceiro na empreitada um Negro Velho, peão de estirpe que lhe ensinara os segredos da lide campeira, laçar,domar, curar bicheira ,guasguear uma lonca, ajudar dar cria as vacas atracadas e derrubar terneiro nos trompaços com petiços pipeiros, gineteando os capões, onde volte e meia plantava  figueira para fula dos peões, que tentavam sestear em seus pelegos a sombra dos cinamomos.
 O tourito sobre ano com o botão da guampa brotando, deixou o brete bufando ,aspirando à liberdade, olhos fixos no horizonte, levantando poeira e berrando, e já lhe saíram no rastro a dupla de peões em seus fletes cortando o vento.
Porém momento da abordagem, antes das bandeiras que delimitam o percurso, no encontrão da paleta no novilho, o jovem ginete, errou o ponto de esbarro, e prensou com toda força a perna , neste entrechoque bárbaro, ouvi-se um grito horrendo, o estalo do osso partido, quebrando a perna do moço, caindo de lado sendo arrastado pelo estribo, seu parceiro que vinha do outro lado, não divisou o seu dupla, pela polvadeira formada na confusão de casco ,ferro, arreio   e patas ,seguiu em perseguição à rês que se mandou a la cria.

Os alaridos e gritos de socorro chamaram a atenção do brigadiano de serviço, que na relancina chamou nas esporas e dando de rédeas no seu cavalo, saltou a cerca e galopou em perseguição ao crioulo que arrastava o ginete, chegando junto, e com precisão e força atávica desprendeu o pé preso no estribo, tomou a pulso o corpo do ginete içou-o por baixou do braço num átimo de segundo antes do choque fatal contra a murada do fim da pista, colocando-o desmaiado sobre a garupa de seu tordilho.

Com a chegada da ambulância apeou do cavalo e auxiliou na remoção da maca, para a emergência ali instalada. O pai do moço que assistira a tudo entrou correndo na pista, e quis saber quem era aquele destemido brigadiano que salvara a vida de seu filho, chegou junto a ele, que estava de costas, botas pretas de cano alto sujas, pernas arqueadas, culote amarfanhado, jaqueta do fardamento lavada em suor com respingos de sangue misturada a terra, a espada pendente a lado do corpo embainhada.
A fazer sombra sobre a testa o chapéu de abas-largas, que em sinal de respeito sacou da cabeça para cumprimentar o fazendeiro,que lhe tocara os ombros, e quando este se virou o fazendeiro atônito, magnetizado por aquele olhar .
Teve ali mesmo uma sincope fulminante e caiu morto, na pista de rodeio, cercado do séqüito que lhe acompanhava e bajulava.
Pois quisera o destino que aquele brigadiano que salvara seu filho, fosse o outro gêmeo, que mamava junto à mãe no momento do rapto.
 E foi isto que o fazendeiro viu antes de suspirar e partir, aquela cabeleira negra, sobrancelhas grossas, na maça do rosto no lado esquerdo a pinta em forma de ‘‘u”, marca indelével dos homens da família e a marcante diferença de um para o outro, inconfundíveis pares de olhos verdes... que um dia deixara chorando num cabaré na Capital, e enxotara a pontapés, quando soubera que iria ser pai.




sábado, 8 de setembro de 2012

UM PRAÇA QUE É NOME DE RUA




No dia 20 de Março de 1966, ele sentou praça na Brigada Militar, no 2º RPRMont, em Santana do Livramento, nascido em 08 de Setembro de 1940 na cidade do Alegrete.
Pertenceu ao heróico e saudosista grupamento dos “Abas-Largas”, patrulhando a Fronteira do Estado, mantendo a lei e a ordem a cascos de cavalo, fez parte da Banda de Música, a conhecida “ Furiosa”, que a todos encantava e admirava nas retretas, nos desfiles , nas paradas, e principalmente nos desfiles de 07 e 20 Setembro, “quando a Pátria se engalana”.
Por, reveses que a vida apronta, veio para Porto Alegre, para tratar da saúde, no tempo em que o “stress”, e o alcoolismo não eram tratados com o respeito necessário.
Foi morar num loteamento novo, pertencente ao município de Guaíba, incipiente e promissor, que mais tarde , viria a ser  hoje, o jovem município de Eldorado do Sul.
Já reformado, gozava as benesses da nova vida, e era uma da figuras mais populares do lugar onde morava, sendo  conhecido como um dos primeiros habitantes do bairro.
No ano de 1983, mais precisamente no dia 10 de Julho , quando uma das maiores enchentes, que já foram registradas até hoje, naquela localidade, desabrigou muita gente, deixando centenas de flagelados, como sempre voluntário, trabalhou dias afinco, socorrendo famílias inteiras,incansável. Mas... numa noite de domingo,fria e chuvosa, a vida foi-lhe ceifada, por um ônibus, na contra-mão, na estrada que corta o município ao meio.
No ano de 2002, também no mês de julho, foi aprovada por unanimidade a moção, para que no Bairro Cidade Verde, uma rua passasse a ter o nome dele.
Hoje, no Bairro Cidade Verde, na Cidade de Eldorado do Sul, no Estado do Rio Grande do Sul, existe a ” Rua JOÃO DE DEUS ALMEIDA ALVES.”
Bato continência e me perfilo, a ti , Cabo véio, praça que virou nome de rua, meu PAI.

João de  Deus Vieira Alves - 1º Ten

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

ONDE ESTÃO OS ABAS LARGAS?


Uma homenagem a estes bravos homens que a casco de cavalo redesenharam o  Mapa do Rio Grande, e que de alguma forma ainda vigiam nosso Sul, sejam nas hostes celestiais, seja em sua memórias indeléveis, o na ativa ,onde houver necessidade.

 
João de Deus Vieira Alves

Nos idos de 50, o Esquadrão foi lançado
Quando dois Oficias e um Sgt, trouxeram do Canadá
Modelo de Patrulhamento
Que pela estampa fundiria o gaúcho da Pampa Larga, com o cavalo crioulo
Para atuar na Fronteira do Estado
Assim ficava criado o Patrulhamento Rural Montado

Redesenharam o mapa do Rio Grande
Marcando a cascos de cavalo
Por contrariar interesses escusos do poder vigente
Foram recolhidos a Capital
Anexados ao Regimento Bento Gonçalves
Sem contudo apagar o seu ideal

Em 56 por força de Decreto
Transformou-se RC em RPRMon
O Regimento “Cel Pillar” foi o pioneiro
Voltando, estes bravos guerreiros a defender o pago
com indômita galhardia

Onde estão os “Abas Largas”?
Onde estão os “Abas Largas”?

Ao redor dos Quartéis, nos hospitais, nos asilos, padecendo nas filas dos pecúlio,
ou servindo nas fileiras celestiais, Lembranças só fazem chorar
As botas num canto jogadas, capa rural carcomida de traças
O velho chapéu desabado pelos anos, talabarte roto e culote sem vinco de outrora
As esporas, remotas relíquias de andanças, tinem em eco nos peitos cansados

Onde estão os “Abas Largas”?
Onde estão os “Abas Largas”?

Continuam vivos na retina
Singrando vales e coxilhas
Centauros fardados, Quixotes farrapos
Dormindo ao relento, sobre os arreios em fundos de campo
Cortando geada, passando fome
Pois charque, água e bolacha
Era a comida dos homens

Por onde andam?
Os Oritz, Portos, Almeidas, enfim ...
O Sgt Caetano e seu beliscão de alicate
O Schultz com o relho rabo de tatu
Que fazia dupla afinada com a velha “35”
Moralizando as tascas onde família não entrava
Em Livramento no Cabaré da Maria Gorda
Em Bagé no Bico Verde, São Gabriel na Rua do Chapéu
Em Uruguaiana na Vinte Oito

Por onde andam?
Policiando carreiras, combatendo abigeato
Agindo como Juiz de Paz em pendengas de vizinhos
Servindo de estafetas, estreitando laços
Prestando assistência, velando o sono das casas

Onde estão os “Abas Largas”?
Onde estão os “Abas Largas”?

Perderam-se no tempo
A evolução, o progresso, os relegou a extinção
O burburinho de vozes, cascos e tinir de ferros
Farfalham no torvelinho da infância campeira

E... quem souber, aonde estão
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