1.
INTRODUÇÃO
O
presente trabalho visa numa situação preliminar falar sobre os “Recursos Não
morfológicos na Formação de Palavras”, e suas respectivas formações tais como
onomatopeia, o redobro (ou reduplicação), o amálgama, a eponímia, a extensão semântica,
bem como algumas formas mais ágeis de utilizar palavras ou sequências já
existentes; o caso do truncamento e acronímia, conceituando-as e citando
exemplos e sua aplicabilidade no dia-a-dia.
2. DESENVOLVIMENTO
a.
As palavras onomatopaicas são formadas
por uma sequência de sons da fala que pretende reproduzir um dado estímulo não
verbal. (Vilhalva, 2008, p. 53).
“Onomatopeia é uma palavra de origem grega
que significava criação de palavras”.
A sequência fonética ao reproduzir o som forma
em sua excepcionalidade uma expressão linguística, é o caso de um doce de leite
que tem sua marca registrada no Rio Grande do Sul como “mu-mu”, a partir de
partícula do “mu-gido” da vaca, passa ter a identificação e seu uso consagrado,
e por óbvio, sinônimo de coisa fácil, sem empreender esforço.
Ex: João não trabalha e nem estuda, só quer
“mu-mu”.
Veja-se que o sentido na frase, não faz
alusão que João, imite a vaca, e sim queira a obtenção de seus propósitos pela
lei do menor esforço, sem dispender sacrifício, e nesta esteira teremos
desmembramentos morfológicos com aumentativos “mumuzão” e diminutivos
como “mumuzinho”.
Recurso muito usual na poesia a
onomatopeia, serve para complementar a ação, dar suporte ao verso, aumentando
seu dinamismo e vivacidade.
Ex: Plaft! Plaft! Sopre a tábua
Batendo a rouba encardida!
Plaft! Plaft! E a mão
ferida
Já não suporta o sabão!
Plaft! Plaft! Sobre a tábua
Batendo a roupa encardida
Enquanto a mágoa da vida
Encardia o coração.
(Dimas
Costa,1997,P.33)
b.
Redobro
ou reduplicação
Processo criação de palavras que consiste
na repetição de uma palavra já existente, e frequentemente mais empregado com
formas verbais, indica intensidade de ação: lufa-lufa e cai-cai são exemplos que me ocorrem para ilustração.
Exemplos:
Na lufa-lufa diária, esquecemos até de comer.
Rodrigo nunca será um
craque, é muito cai-cai.
Note-se que lufar- verbo infinitivo.
Significa soprar com força (o vento), sendo que no redobro “lufa-lufa”, representa na acepção popular; grande afã, pressa, e
partindo da premissa que, falando de pessoas, cair significa perder o equilíbrio, levar uma queda, o redobro em
“cai-cai”, dá o sentido pejorativo de pessoa que faz corpo-mole, e não se
esforça para persistir.
c.
Amálgama
A amálgama designa um dos
processos morfológicos de formação de novas palavras (neologismos), isto é, um
dos tipos de neologia. Consiste numa unidade lexical (palavra) resultante de um
processo morfológico que se baseia na fusão de duas ou mais palavras. Nesta
fusão permanece o início da primeira unidade lexical e o fim da segunda, outras
combinações são possíveis, sendo este recurso frequentemente utilizado na
construção de nomes comerciais.
Exemplos: a amálgama telefonia consiste na fusão das palavras telefone e radiofonia,
permanecendo o início da primeira (telefone)
e o fim da segunda (radiofonia).
* telefonia =
telefone + radiofonia
A amálgama “brincanagem” de uso popular na fala e
não dicionarizada formalmente, é uma expressão comum utilizada, composta pela
junção das palavras brincadeira e
sacanagem.
*Você tá de brincanagem com a minha cara né?
O aparecimento de siglas tornou-se
ingrediente ativo incorporado ao cotidiano, havendo o apagamento por se tratar
de abreviaturas, e seus derivados colocaram-se no sistema gramatical da língua
portuguesa.
Exemplo: EsFECS ( Escola de Formação de
Cabos e Soldados)
*Os Esfecianos da Turma de 81
confraternizaram ontem.
d.
Eponímia
Esta palavra se formou do Grego epi-,
“sobre”, mais onyma, “nome”. Um epônimo é uma palavra que se usa para designar
algo a partir do nome do criador ou de uma marca.
Exemplos:
“estrogonofe”.
Gilete é filete - a marca da lâmina de barbear, criada por King Camp Gillete. Xerox é marca/fabricande de
máquinas fotocopiadoras, Eu comprei uma maquina xerox (eu comprei uma fotocopiadora)
O Strogonoff é um prato de origem russa; na verdade, chamava-se
Strogonov. Tudo começou no século XVI por meio da alimentação dos soldados
russos, os quais comiam rações de carne cortadas em barris com sal grosso e
aguardente para preservar o alimento.
Por
meio de um cozinheiro do Czar russo Pedro, o Grande, a comida foi melhorada e
refinada. O general que protegia o cozinheiro se chamava Strogonov; daí surgiu a ideia de dar tal nome ao prato.. Masoquismo é
uma tendência ou prática parafílica, pela qual uma pessoa busca prazer ao
sentir dor ou imaginar que a sente. Em um sentido extenso pode-se considerar
como masoquismo também a forma de prazer com a humilhação verbal. termo
masoquismo deriva do escritor austríaco Leopold von Sacher-Masoch.
e.
Truncamento
É um
processo de redução de uma palavra, que elimina uma sequência, geralmente final
da palavra (Vilhalva,2008,)., Sobre
o truncamento, especificamente, (Gonçalves,1999,)
estabelece os seguintes critérios, buscando mostrar sua sistematicidade:
O truncamento é um recurso morfológico de
natureza expressiva. Assim, não há distanciamento de significado entre a forma
reduzida e a palavra-matriz; o que há é a utilização da forma truncada para a
expressão de um tipo específico de enunciado: a expressão do pejorativo. Ex.: analfa.
O truncamento
reproduz parte da base e acrescenta uma vogal final –a, nem sempre presente na palavra-matriz. A
vogal –a funciona como uma espécie de afixo de truncamento. Ex.: estrangeiro
> estranja.
A formação do truncamento não leva em conta o
acento da base. Ex.: baterista
batera; flagrante > flagra.
O truncamento é sempre paroxítono.
f.
Acronímia
A acronímia é também um
processo de redução, mas o seu domínio de intervenção é uma sequência de
palavras. Em termos práticos, a acronímia consiste na criação de uma palavra a
partir do(s) grafema(s)que se situa(m) no início das palavras que integram um
título ou uma frase. A forma resultante é foneticamente realizada como um
contínuo, e não como uma sequência de sons independentemente articulados. (Vilhalva
,2008)Acronímia – «Conjunto de processos morfológicos que levam à formação de
acrónimos, cuja particularidade é a de serem pronunciados como uma palavra
corrente; apresentam-se sob a forma de siglas, amálgamas ou de novas unidades
lexicais. A acronímia é um fenómeno neológico muito produtivo em língua, com
grande dinâmica, por exemplo, na atribuição de nomes próprios para designar
novos objetos, instituições ou organismos. Exemplo:
SENASP – Secretaria Nacional
Segurança Pública
ASCAF – Associação dos
Criadores de Frango
g.
Sigla
Termo complexo abreviado ou nome
formado a partir das letras iniciais dos seus elementos. Uma sigla forma uma
sequência cuja pronúncia é alfabética, silábica ou ambas. Exemplos: CEEE, IBGE,...
h. Extensão Semântica
Consiste na atribuição de um novo significado a uma palavra já
existente, é um dos processos morfológicos de formação de novas palavras
(neologismos), isto é, um dos tipos de neologia, na troca de vocabulário entre
a língua geral e as línguas de especialidade, ou seja, um conteúdo semântico já
existente passa a adquirir novas polissemias através do seu uso.
Exemplo: Papel, substância constituída por elementos fibrosos de origem
vegetal, os quais formam uma pasta que se faz secar sob a forma de folhas
delgadas, para diversos fins: escrever, imprimir, embrulhar, etc.
Ex: Este papel autoriza a
entrega da encomenda. (recibo)
Ela tem um bom papel na novela.
(parte que o ator representa).
Não aceitam ouro ,só papel. (Dinheiro)
i.
Por
transposição semântica:
Nesse caso, não temos um
novo significante, e sim, um novo ou significado atribuído ao mesmo
significante, sem perda do significado original. A lista, nesse caso, poderia ser longuíssima,
com formações imprevisíveis: repaginados (Veja=com nova aparência), xiitas
(idem=pessoa que é fanática por uma idéia), laranja (Veja=falso proprietário),
mico (idem=mau negócio), grampear (idem=prender), gato (idem=ligação
clandestina de eletricidade), turbinar, siliconar (idem=aumentar uma parte do
corpo por cirurgias plásticas), provedor (idem=ligação com a Internet), mala (O
Dia=pessoa inconveniente), montadoras (idem=fábrica de automóveis) etc.(Alves,1992).
Analisando os exemplos
supramencionados, passamos discutir até
que ponto esses exemplos podem ser considerados ”palavras”, visto que as palavras do ponto de vista morfológico são
estruturas ou unidades menores, sendo nomeados de constituintes morfológicos.
Para tanto para termos palavra é necessário que um radical, um especificador
morfológico, constituinte temático, especificadores morfossintáticos, que irão
realizar a flexão morfológica.
Na onomatopeia as palavras
formadas por uma sequência de sons, tendo um estímulo sonoro não verbal, os
exemplos citados “ mu-mu” , corruptela do mugido da vaca e “plaft-plaftt” o som
da roupa na tábua do tanque, nos passam a impressão sonora, e seus
constituintes não preenchem os requisitos morfológicos para a formação de
palavras. No redobro e duplicação cria uma terceira palavra, o segundo elemento
e o clone do primeiro, empregado em formas verbais, portanto, palavra
morfológica.
A amálgama, eponímia, o
truncamento, anomínia e a extensão semântica podemos considerar palavras com
suas particularidades e idiossincrasias, visto a manutenção dos processos
morfológicos na origem da palavra e duas derivações.
Arriscamos afirmar que os
processos levantados são recorrentes na Língua Portuguesa, tendo em alguns
casos o impeditivo do léxico, se é dicionarizada ou não, e a questão da
dinamicidade deveria ser acompanhada com atualização “dicionaral”?
3.
CONCLUSÃO
Este trabalho não esgota o
assunto e nem tem a pretensão e alcance para tanto, visa com base nos exemplos
coletados mostrar a diversidade lexical da língua, enquanto organismo vivo,
sofrendo influências na formação de palavras com recursos não morfológicos e
sua ortodoxia e os acréscimos de expressões com inclinação mais fonológica que morfológica
contribuição importante para a riqueza gramatical, na língua falada e escrita.
Poeminha Ocasional
É preciso xerocar a sentença desta decisão
Draconiana
Pois até para
um masoca , existem fardos mui pesados
Plaft soa o tapa na cara
No vagabundo
que só quer mu-mu.
Pois sendo,
estranja e analfa foi pego no flagra
Na lufa-lufa
diária brigando com a eletro telefonia
Nesta
brincanagem que ora funciona, ora falha
Fazer gato da
CEEE e crime afim no SENASP
Referências Bibliográficas:
ALVES, Ieda. Neologismo: criação lexical. São
Paulo: Ática, 1990. ípios)
BASÍLIO, Margarida. Teoria lexical. 3. ed.
São Paulo: Ática, 1991. (Série Princípios)
COLLISCHON, Gisela. Acento secundário em
português. Letras de hoje. Porto
Alegre, v. 29, no. 4, p. 43-53, dez. 1994.
CRYSTAL, David. Dictionary
of Linguistics and Phonetics. Blackwell, 2001.
KEHDI, Valdir. Formação das palavras em português. São
Paulo: Ática, 1992. (Série Princípios)
LORD & ZUNG.
How does the lexicon work? Word. v. 43, n.3, p. 349-373. 1992.
LUFT, Celso Pedro. Novo manual de português,
gramática, ortografia oficial, literatura, redação, textos e testes. São Paulo:
Globo, 1996.
MONTEIRO, José. Morfologia portuguesa.
Fortaleza: EUFC, 1986.
ABREU, Rosa – Isso é uma palavra,
Ver.ABRALIN, p.113-130,dez.2006
VILLALVA,A .Morfologia de Português, Lisboa:Univ.
Aberta,2008,Cap.2