quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Quem não tem cão...(Causo)

                         
Durante as férias de verão tenho por hábito voltar a minha terra, São Gabriel, Terra dos Marechais onde o churrasco de ovelha, assado no fogo de chão , o capão fica estendido numa cruz de pau , sendo temperado com uma salmorita , respingada com um punhado de folhas verdes, uma fritada de traíras pescada na hora, uma boa canha e aquele palheiro puro, pra espantar os mosquitos, na beira do fogo enquanto a cambona chia e as mariposas bailam a luz disforme das salamandras que crepitam de um pai de fogo.
Pois bem, vamos ao causo que é tarde e vem chuva, fomos de fusca, eu, meu tio e o cunhado dele, ambos pesando bem mais que cento e vinte quilos, mais as tralhas de pesca, cacaredo e mochila, o fusca veio gemia, dava estouro e nós seguimos  rumo à fronteira do estado pela duzentos e noventa a fora , o limpador de para-brisa não funcionava, minto, funcionava de maneira manual, o passageiro além de ser copiloto, tinha a missão de quando chovia, e choveu muuuito aquele dia, o mecanismo era simples, um barbante amarrado às palhetas e passado entre a ventarolas, e conforme a intensidade da chuva, aumentava ou diminuía o ritmo, lá pelas bandas de Butiá a correia dentada foi pro saco, não tinha reserva e nem auto peças nas proximidades, o jeito foi tirar a meia elástica de um dos gordos, que tinha flebite e usar como correia “provisória” definitiva. Levamos quase dez horas pra chegar em São Gabriel, viajem que se faz em até quatro horas.
Posamos na cidade, e ao raiar do sol, fomos em direção ao local da pescaria no famoso rio São Borja, chegando lá percorremos um cinco quilômetros a pé, até o local do pesqueiro, e para nossa frustração o rio tava atorada, devido a seca na região, e desvio pras lavouras, fazer o que o jeito foi tentar a sorte nos sangões que eram formados pelos baixios do rio, o parceiro do meu tio, resolveu colocar a rede de lambari prá iscar espinhel, sem camisa e só de cueca, Bueno, foi o tempo de ele entrar e sair a toda d’água, com uma palometa em cada mamica, e outra enfiada no rego, jogou-se na areia escaldante e se viu livro daqueles bichos com dentes afiadíssimos, mas como o que não tem remédio, remediado está, e ninguém mais ia entrar naquela água, as palometas foram usadas de isca.
Iscamos umas quatro linhas de fundo, e uma com boia de espera próximo ao sarandizal, e tarde passou modorrenta e quente, a noite caiu ,fizemos fogo e preparamos aquele arroz de china pobre, e sentamos á beira do fogo para comer. De repente ouvimos barulhão dentro d’agua , um estrondo, formou-se uma onda demais ou menos dois metros de altura, que atingiu o nosso acampamento, refluiu e voltou tudo a calmaria dantes, a tabuinha da linha reluzia ao brilho da lua cheia no meio do sangão, meu tio falou ,” se for o que to pensando é um dourado dos grande, que  se ferrou, e ficou preso nas raiz”, a luz esconde-se atrás de uma nuvem, foquei com uma lanterninha paraguaya, e jogou outra linha e conseguiu que o anzol pegasse na linha que prendia a tabua e foi puxando devargazinho, e começou a pesar e cortar as mãos,chamou ajuda , o compadre amarrou a linha na cintura, e foi puxando, quando aproximava-se da margem , imaginem...outro estrondo e aquilo que vinha na linha se mostrou( bah .ainda hoje me arrepiou) era uma arraia de uns oitenta centímetros de circunferência e uma cauda de uns dois metros, barriga branca e lombo preto como a noite, e com muito esforço conseguimos  tirar o bicho d’água, o compadre querendo executar a arraia com uma pistolinha 32, cada tiro batia no lombo e batia nas arvores, morreu ali e de manhã é que  fomos ver direito o que era.
  Como fusca não tem bagageiro , colocamos a raia no amarrada sobre o teto e resolvemos vir direto para Porto Alegre,porque o sol já escaldava justamente no dia mais quente do ano, andamos uns cem quilômetros e o fusca adernou pra um lado, pneu furado, troca por estepe, careca e meio murcho, liso que se passasse por sobre uma moeda podia saber o valor. E seguimos, quer dizer tentamos, mais alguns quilômetros, uma faiscadas no asfalto, o pneu simplesmente dissolveu-se, e  o aro fazendo sulco nos asfalto, vermelho vivo em brasa, ficamos parado no meio do nada, borracharia nem pensar, ainda mais Domingo, meu tio numa atitude de desespero, debruço-se sobre o fusca, e recuo logo, pelo impacto, ato continuo foi até o posta-luvas, pegou um canivetinho que cortava até pensamento, cortou rente o rabo da raia, tirou a cauda e falquejou as abas do lado ,ficando redondo, que coube certinho no aro ainda fumegante e soldou , e serviu de pneu para virmos embora, pois aquele sol todo tinha deixado o couro dela  dura como ferro.
Ainda no Enart passado nosso acampamento era visitado, sempre a atração era aquele “disco de arado” que fazíamos entrevero, que alguns juram que viam dois olhinhos se mexendo. Ah! E a cauda ficou de recuerdo, uso como antena de televisão, nunca mais paguei TV a cabo, e tenho mais de quinhentos liberados, e nunca passarinho algum pousou nela, por causa do ferrão que continua ativo.
Bueno acalmou-se a chuva, vou buscar o bragado ,para uns tiros de laço, lá pras bandas da Lagoa da Maria Rosa, dizem que é assombrada, mas isto outro causo.Inté.

É isso. 


João de Deus Vieira Alves

domingo, 6 de agosto de 2017


 PROGRAMAS PARA O ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA





Vinheta Narrativa



 I – Tema: Sua história...seu poema...” Eu prefiro contar uma história real, vou contar a minha...” – 25/05/17 ( 00:20:30). O aluno estão sentados em círculos. Caroline comenta que houve batida na vila e “esculacharam” o Pai dela que é trabalhador. Christian "rapper" e MC, sempre de boné, quer ser policia, mas se não der “Sor” vou ser soldado do tráfico e “morrê” numa vala como meu irmão, trocando tiro com os “homi”, é intemrropido por Ketlin, mas ele era vida louca. Ewerton baixinho esperto; “Sor”, sou homem e não covarde. Moniki , mesmo que eu tente esquecer a alma guarda. Tainá com o joelho apoiado na cadeira e rabiscando o caderno, cenho franzido, tenho nojo de ir visitar o Pai naquele lugar, Tuane tímida perdeu o pai assassinado, e a mãe dela faz com que seja a babá dos irmãos menores e empregada domestica, e só pode estudar a noite com auxilio de uma lanterna, enquanto a mãe “trabalha” á noite, mas mesmo assim ela _ acha-se demais pró seu quintal“ vou ser Professora de Espanhol”, Paulo o galã da turma,vai sair da favela e voltar de cabeça erguida, “pois favela e lugar de guerra e paz” , e Dionathan , grandalhão,quieto e desengonçado ri de tudo, antes de bater o sinal,Christian fala para o Grupo” Depois de tantas perdas a gente não chora mais ,primeiro o coração sangra e,depois as lágrimas vem , quando vem”. “Bate o sinal do recreio, eles saem voados, rindo e brincando, e o Professor fica em pé no centro da sala, sentindo o gosto do sal na boca, fruto de  algum “cisco” que lhe quebrou o vidro dos olhos”.  


“Prova de Língua Portuguesa” – 07/04/17 (00.35.18). São vinte e seis alunos matriculados, vinte e quatro regulares e duas inclusões.  A professora anuncia que conforme cronograma da Disciplina haverá prova do trimestre. Há um murmúrio geral. As classes estão dispostas lado a lado, em fila indiana frente à mesa da professora. Stephanie protesta que não teve para estudar. Micaela ri baixinho e cochicha o suficiente para que todos na sala escutem. “ficou na avenida até as três com os guris , só no energético e funk proibidão”. A professora pede silêncio. Revisa o conteúdo ,  sujeito, verbo, o uso dos porquês, acentuação, monossílabos, oxítonas, paroxítonas,etc... o texto a ser interpretado e a música de Gilberto Gil – Domingo no Parque- que ninguém conhecia. Distribui as provas e grita para o Joelson desligar o celular,tirar os fones do ouvido. Vai até a porta ,e antes de fechá-la , acena para um funcionário da escola que está conduzindo um cadeirante com Síndrome de Down , que ficará no pátio até o término da aula. Após começarem a prova, a professora vai até o fundo da sala onde uma menina ficou de costas para turma , e coloca uma prova na sua mesa e um lápis em sua mão, ela fica olhando para o vazio, ela é portadora de autismo e  tem o palato aberto, e sua salivação e em consequência a baba,causa repulsa em alguns alunos da turma.


“Sala de Audivisual” -19/05/17 (00.40:32) Mais Canções de Temática Afro. A Sala é pequena é aconchegante, poltronas confortáveis, onde se jogam displicentemente, Thainá e Moniki brigam com Ketlin e Cristhian pelo lugar do fundo, e após a dificuldade inicial do Professor em lidar com o computar multimídia, Tauane vem em seu socorro  assume controle e coloca no canal de vídeos da Internet.Youtube. São apresentados os versos da Canção Negro Drama recitado pelo cantor Seu Jorge. Ewerton, Paulo e Moniki não gosta. Acham chato e paradão. Negro Rei do Cidade Negra causa estranheza. Ewerton ,o menorzinho da sala exclama: Pô Sor mais negro se f....Identidade de Jorge Aragão , alguns da letra, e outros nãogostam da imagem. Sorriso Negro de Fundo de Quintal, acalma um pouco os ânimos , as gurias pedem para colocar um clipe de um cantor inglês  ruivo aquele, Ed Sheeran,  ganhador de vários prêmios. Os guris vaiam. Faltando pouco para o fim da aula, colocamos umfunk da moda Nego do Borel e Annita, acendem-se a luzes e lês cantam e dançam. De repente a Diretora, irrompe Sala adentro,olhos faiscando, desliga o áudio. Fomos dedurados.    

João de Deus Vieira Alves







quinta-feira, 13 de julho de 2017

Poema Tirado de uma ocorrência policial



Marliese era doméstica numa mansão luxuosa e morava na
Guajuviras num prédio invadido
Uma noite ela chegou num Batalhão da PM
Vomitou
Berrou
Cambaleou
Depois foi jogada no pátio do Hospital Psiquiátrico e morreu de overdose  

segunda-feira, 10 de julho de 2017

Abandono


Skyline Pidgeon (Elton Jonh)

"Turn me loose from your hands, let me fly to distant lands
Fly away, skyline pidgeon, fly
 Towards the dreans fly you,ve left so very ,so very for brhind "





ABANDONO

 Oh! Pombo que voas tristes
De um globo ao outro


Sem importar-se, com a chuva, nem com a sexta-feira
Tua companheira foi morta, enquanto comia migalhas nas pedras molhadas


Será que a chuva é continuação de tuas lágrimas?

JOAO DE DEUS VIEIRA ALVES


segunda-feira, 6 de março de 2017

JANGADA DE PEDRA: INTERTEXTUALIADE, IBERISMO NUMA LEITURA SUBLIMINAR



A JANGADA DE PEDRA: INTERTEXTUALIADE, IBERISMO NUMA LEITURA SUBLIMINAR

João de Deus Vieira Alves*
Professora Responsável Regina Zilberman


“Dificílimo acto é o de escrever, responsabilidade das maiores.(...) Basta pensar no extenuante trabalho que será dispor por temporal os acontecimentos, primeiro este, depois aquele, ou se tal mais convém às necessidades do efeito, o sucesso de hoje posto antes do episódio de ontem, e outras não menos arriscadas acrobacias(...)” – Saramago , A Jangada de Pedra,1986




RESUMO: O presente artigo analisa a obra A Jangada de Pedra , de José Saramago, sob o ponto de vista do sentimento ibérico na intertextualização com alusões aos fatos passados e presentes na história de Portugal em relação à União Européia e o mundo, o estilo oral, características da tradição oral populares em que a vivacidade da comunicação e mais importante do que a correção de uma linguagem escrita.

ABSTRACT: This article analyzes the work of The Stone Raft, Jose Saramago, from the point of view of feeling Iberian with allusions to past and present events in the history of Portugal for the European Union and the world, oral style, characteristics of oral tradition popular in the liveliness of the communication and more important than the correction of a written language.


 
1. IBERICIDADE
            O Romance publicado em 1986, ano em que Portugal ingressou na Comunidade Européia, atual União Européia, discute através da ficção e adesão aos demais países europeus, mostra através do sentimento ibericista do autor, uma inusitada e utópica viagem da Península Ibérica, que a separar-se da Europa, romperia com laços históricos, lançando numa aventura em busca da união de um povo com sentimentos convergentes, lusos e espanhóis, no nascimento de uma nova ordem e uma nova Nação.
            O alinhamento da península com países da periferia do capitalismo, viaja ao encontro da identidade em consonância e a proximidade às ex-colonias portuguesas e espanholas, alguns elementos de cunho fantástico permeiam a obra, a própria antítese, está no titulo uma jangada de pedra pode até ser construída, porém o fim precípuo para a qual um barco é projetado, não é possível, e somente funciona no imaginário através da ficção e metáfora de se dar vida a um ser inanimado, e alegoria de algo que é na essência feito pra flutuar, afundará ou ficará marcando passado, no eterno drama de lançar-se “por mares nunca dantes navegados”, ou permanecer na mesmice, introspecção e retrocesso.
            A par disso a viagem da península, mostra o ressentimento e uma ponta de inveja que os portugueses olham a Europa além das fronteiras dos Pirineus. Como nos afirma Claudia Amorim em citação de Eduardo Lourenço, no ensaio intitulado “Nós e a Europa – Ressentimento e fascínio” esse sentimento de marginalidade de Portugal em relação à Europa é antigo e, no processo histórico do desenvolvimento do capitalismo na Idade Moderna, e estagnação ibérica é fato incontestável.Mas é durante o século XIX que essa “conotação deprimente, esse sentimento de desvalia que o Portugal e a Espanha dos séculos XVII e XVII não viveram” (LOURENÇO,1994,p.26) torna-se dramático. (IPOTESI,2011,p.112).
2.  A OBRA
            O resumo da obra servirá para contextualizar a proposta deste trabalho, visto o amplo material a cerca de sua publicação com trabalho e ensaios, e pretendermos através de uma leitura subliminar abordar Saramago, como um escritor através de seu pensamento filosófico e político.
            O Romance inicia-se com a narração de alguns casos insólitos _ Joana carda e vara de negrilho. Joaquim Sassa e o arremesso de uma pedra ao mar, José Anaiço e os estorninhos e Pedro Orce e o tremor da terra e Maria Guavaira e fio de lã – onde são interligados mais adiante na narrativa.
            A Península Ibérica acaba de se soltar do continente europeu. Joaquim Sassa fica sabendo do fenômeno ocorrido com José Anaiço, indo à sua procura para saber a correlação desses fatos com a desagregação da Península. Joaquim Sassa  e Jose Anaiço partem em Dois Cavalos  ( o carro de Joaquim Sassa) rumo à Venta Micena ( Espanha) à procura de Pedro Orce, que sente constantemente a terra tremer. As autoridades, comprovando tal fenômeno. Decidem por ir a Lisboa. A caminho da capital portuguesa, fazem uma pequena estada em Albufeira. O caos nesta e noutras cidades é generalizado. A população, sem ter moradia, começa a invadir hotéis, que estão vazios por falta de turistas. Choques entre o povo e as tropas do governo geram um clima de intranqüilidade. A parcela rica da Península Ibérica acaba por abandoná-la, levando consigo boa parte de seus capitais por receio dos movimentos populares que aconteciam. Ao chegarem a Lisboa, hospedam-se no Hotel Bragança. O fenômeno dos estorninhos chama a atenção da Imprensa, que descobre os nossos protagonistas. Manchetes nas redes de televisão, rádios e jornais levam as autoridades a buscarem Joaquim Sassa e Pedro Orce para averiguações. Joana Carda vai ao encontro do grupo por ser portadora do outro fenômeno (aludido no ínício do enredo). Joana carda hospeda-se no Hotel Borges. O grupo empreende uma viagem à Ereira, onde Joana passou a viver depois de separada e se dá o fenômeno da vara de negrilho. Inicia-se um romance entre Joana e José Anaiço. Ao chegarem ao local do risco, encontram o Cão Constante, carregando um fio de lã azul na boca, que se junta ao grupo, afeiçoando-se no caminho na casa de Joaquim Sassa no Porto. “O destino do grupo é a casa de Maria Guavaira, viúva há três anos, portadora de outro fenômeno”: ”... não fiz mais do que desmanchar uma meia velha, dessas que servia para guardar dinheiro, mas a meia que desmanchei daria um punhado de lã, ora o que aí está corresponde á lã de cem ovelhas, e quem diz cem diz cem mil, (adágio popular na tradição oral portuguesa: de quem conta um conto, aumenta um ponto) grifo nosso,  que explicação se encontrará para este caso,...”. Começa um idílio amoroso entre Maria Guavaira e Joaquim Sassa. O rádio noticia a probabilidade de colisão entre a Península e o arquipélago de Açores. Inicia-se outra etapa da viagem, em direção ao oeste peninsular. A Viagem é feita pelo grupo em uma galera, pois Dois Cavalos não funcionará mais. Maria Guavaira conduz a galera que é puxada inicialmente por um, posteriormente por dois cavalos (Pigarço e Alasão). A evacuação do leste português é generalizada, deixando cidades abandonadas e a população em desespero.
            Os governos português e espanhol mostram-se ineficientes quanto ao amparo desse grande contingente de emigrantes. Já distantes da Europa, os Estados Unidos e o Canadá preparam-se para dar as boas vindas à Península, começando a idealizar as novas relações estrangeiras entre esses dois grupos. Acontece o inesperado – a península acaba por se desviar do arquipélago de Açores, mudando naturalmente seu curso ao norte. Todos reiniciam o retorno às suas casas. Os viajantes, entretanto, resolvem continuar viajando – agora em direção aos Pirineus. As duas mulheres do grupo acabam por ter relações com Pedro Orce, o que provoca um clima instável nos viajantes. Os viajantes permanecem juntos, mesmo com certo ressentimento que predominava. Chegam ao fim da Península, extasiados com o espetáculo natural que presenciam. A Jangada de Pedra para. Portugal fica voltado aos Estados Unidos e a Espanha a Europa.Pedro Orce ainda afirma que a terra treme, o que acaba por se confirmar com a retomada do movimento peninsular, que fica a girar em torno do seu próprio eixo durante um mês. “ Dois Cavalos seguia devagar (...), agora os viajantes demoravam-se nos lugares (...) agora os viajantes demoravam-se nos lugares(...)”.Por essa ocasião, as mulheres percebem que estão grávidas, não sabendo ao certo sobre a paternidade. O grupo encontra Roque Lozano, o qual viera em seu burro (Platero) para ver o desregramento. Roque Lozano se junta aos viajantes para retornar à sua casa (Zufre), como era a idéia de todos. A Península começa a vagar rumo ao sul. Os Estados Unidos perdem o interesse de antes pelos povos peninsulares, onde “todas” as mulheres ficam grávidas. Joana Carda tem pressentimentos quanto a Pedro Orce. Este morre no momento em que a galera para e ele não sente mais o tremor da terra. O grupo descansa para retomar a viagem. O tempo da narrativa é psicológico. Embora haja referências cronológicas, elas não predominan, além em grande parte imprecisas. O espaço é a Península Ibérica a vagar pelo Oceano Atlântico.  
            Os narradores são múltiplos e alternados, notando-se a intervenção direta do autor, o que anula um pouco a presença do narrador tradicional. Algumas características das personagens principais são, Joana Carda é Portuguesa, divorciada que mora na região de Ereira. Ao riscar o chão com uma vara de negrilho, os cachorros de Cerbére começam a ladrar, ação que não faziam há séculos.Joaquim Sassa é Português (Porto), trabalha em escritório, estando de férias por uma praia do norte de Portugal, lança uma pesada pedra no mar, espantando-se com a grande distância que ela vem a tomar antes de afundar. José Anaiço é Português (Ribatejo) com o oficio de professor que fica sendo acompanhado constantemente por uma nuvem de estorninhos.Pedro Orce, quase sessenta anos, espanhol da região de Orce, farmacêutico no vilarejo de Venta Micena. Ele sente a terra tremer enquanto os sismógrafos não conseguem detectar nenhum tremor. Maria Guavaira, habitante da Região rural da galiza, puxa um fio azul de lã de uma meia que se multiplica exageradamente em comprimento. È este fio, através do cão Constante, que traz os outros personagens acima à sua casa.
            O autor utiliza períodos e parágrafos muito longos (estes chegando às vezes a uma página ou mais). Há uma total erradicação dos sinais de pontuação (usando predominantemente a vírgula e o ponto). As falas de narrador e personagens são às vezes confundidas, onde o uso do discurso indireto livre é bastante influenciador. A metalinguagem também se faz presente no romance, onde se percebe leves doses de ironia. Dividida em vinte e três capítulos, a obra preserva o português lusitano ( imposição do autor aos países de língua portuguesa), fazendo-se valer de expressões populares típicas de Portugal.
3. INTERTEXTUALIZAÇÃO
            Na análise dos intertextos podemos verificar dentre tantos existentes ao longo da obra alguns que se destacam tais como: A citação de Saramago, do livro O Ano da Morte de Ricardo Reis, 1984, sobre as andanças do heterônimo de Fernando Pessoa:
           
            “As mortas, porque tinham morrido, deixaram-se ficar, com aquela inabalável indiferença que as distingue da restante humanidade, se alguma vez disse o contrário, que Fernando visitou Ricardo, estando um morto e o outro vivo, foi imaginação insensata e nada mais...” (SARAMAGO, 1989, p.28).

Os novos paradigmas amorosos, em uma península à deriva, pressupõem que se viva o presente e que nele os afetos se estabeleçam com respeito e solidariedade como a engendrar uma nova humanidade constituída dos homens imaginários que a península procura:
 “Um dia que já lá vai, D. João o Segundo, nosso rei, perfeito de cognome e a meu ver humorista perfeito, deu a certo fidalgo uma ilha imaginária, diga-me você se sabe doutro país onde pudesse ter acontecido uma história como esta”. E o fidalgo, que fez o fidalgo, foi-se ao mar à procura dela, gostaria bem que me dissessem como pode encontrar uma ilha imaginária. A tanto não chega a minha ciência, mas esta outra ilha, a ibérica, que era península e deixou de o ser, vejo-a eu como se, com humor igual, tivesse decidido meter-se ao mar à procura dos homens imaginários. (SARAMAGO, 1989, p.61).

Saramago tem em sua obra, um ritmo cinematográfico, haja vista o seu livro Ensaio sobre a Cegueira foi adaptado para o cinema e lançado em 2008, produzido no Japão, Brasil, Uruguai e Canadá, dirigido por Fernando Meirelles (realizador de O Jardineiro Fiel e Cidade de Deus), em 2010 o realizador português Antonio Ferreira adapta um conto retirado do livro Objecto Quase, conto esse que viria dar nome ao filme Embargo, uma produção portuguesa em co-produção com o Brasil e Espanha.

“Nunca na minha vida vi tanto pássaro junto, pela idade que mostrava ter não deviam faltar-lhe esta e outras experiências, São para cima de mil, acrescentou, e tem razão, pelo menos foram mil e duzentos e cinqüenta os convocados para esta ocasião. Afinal, alcançaram-nos, disse Joaquim Sassa, vamos dar-lhes outro esticão e acabamos de vez com eles, José Anaiço olhava os estorninhos que voavam em circulo largo, triunfantes, olhava-os com expressão atenta, concentrada.”...)” Hitchcock dá palmas na platéia , são os aplausos de quem é mestre na matéria. (SARAMAGO,1989,p.64-66).

Ganhador do Premio Nobel de Literatura de 1998, e também do Premio Camões em 1995, o mais importante premio literário da língua portuguesa, Saramago foi considerado o responsável pelo efetivo reconhecimento internacional da prosa em língua portuguesa, em Jangada de Pedra ele homenagem o escritor Espanhol, Juan Ramon Jimenez, Nobel em 1956.

"Platero y yo", o burro Platero, de Juan Ramón Jiménez (1881-1958), poeta espanhol.
"Platero es pequeño, peludo, suave; tan blando por fuera, que parece todo de algodón, que no lleva huesos. Sólo los espejos de azabache de sus ojos son duros como dos escarabajos de cristal negro.
Lo dejo suelto y se va al prado, y acaricia ligeramente con su hocico las florecillas rosas, celestes y amarillas... Lo llamo dulcemente: "¿Platero?", y viene a mí con un trotecillo alegre que parece que se ríe...
Come cuanto le doy. Le gustan las naranjas mandarinas, las uvas moscateles, todas de ámbar, los higos morados, con su cristalina gotita de miel... Es tierno y mimoso igual que un niño, que una niña...; pero fuerte y seco por dentro, como piedra. Cuando paseo sobre él, los domingos, por las últimas callejas del pueblo, los hombres del campo, vestidos de limpio y lentos, se quedan mirándolo:
- Tien' asero.
Tiene acero. Acero y plata de luna, al mismo tiempo.
Cuando ya de noche, vuelve Platero del campo con su blanda carga de ramas de pino para el horno, su paso es menudo, como el de la señorita del circo en el alambre, fino, juguetón... Parece que no anda. En punta las orejas, parece un caracol debajo de su casa...
Y en el campo, que va ya a diciembre, la tierna humildad del burro cargado empieza, como el año pasado, a parecer divina..."

“E conta lá chegar montado nesse burro,Quando ele não puder comigo, iremos a pé os dois, Como é que o seu burro se chama, Um burro não se chama, chamam-lhe, Então, como é que chama ao seu burro, Platero. E vão de viagem, Platero e yo.” (SARAMAGO,1989,p.67).

4.  A SUBLIMINARIDADE
A Jangada de Pedra nos leva a bordo nesta viagem a interpretações subliminares do pensamento saramaguiano, o seu fervor comunista e por óbvio seu anti-americanismo, faz com que exprima o sentimento pacifista, revisitando a Teoria da Evolução de Darwim , de que a partir do momento que o primeiro macaco desceu das arvores , começou a corrida até os megatons (critica clara às Bombas Atômicas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki), os helicópteros socorrendo a população e chegando com betume para tentar a fenda que separa a península do restante da Europa, em tempos de paz num campo primaveril é antagônica, a  imagem que nos remete ao filme Apocalipse Now de Francis Ford Coppola ,   o psicodelismo ,  e o drama das pessoas que foram vitimas do napalm (fósforo incandescente) que eram queimadas vivas. A foto da garota Kim Phuc, nua, fugindo de seu povoado que estava sofrendo um bombardeio de napalm, até hoje é lembrada como uma das mais terríveis imagens da Guerra do Vietnã.
Os nomes dos hotéis são propositalmente denominados Bragança, ironia sobre um dos nomes da família real portuguesa, grande e pomposa, mas já sem atrativo e “glamour” de outrora, Portugal na contramão do desenvolvimento Europeu, sem atrativos turísticos e conseqüente fuga e não acolhimento, e a pensão Borges é um tributo em nome de sua admiração e inspiração num dos mestres do realismo fantástico o Argentino Jorge Luiz Borges.
Dois Cavalos, em principio um carro, após a galera puxada por dois cavalos, chamados pela cor dos pelos, Pigarço ou Picasso,diz-se do cavalo, malhado de preto e branco ou de côr grisalha,e Alasão, pelo da cor de canela.) , e também a utopia da União Ibérica, que seria conduzida por um icone da pintura e das artes, um gênio espanhol, Pablo Picasso, um comunista empedernido.
A Ironia e critica contra os italianos e franceses, uma brincadeira no auge da crise,  do caos estabelecido, o narrador sugere que chamem os italianos que tem grande experiencia em viadutos, visto os que foram construídos na época do Império Romano, e ser ,hoje o trânsito de Roma um dos mais caóticos do mundo, e também e mordaz com os intelectuais franceses ao afirmar “ E nós , portugueses, que poetas devemos buscar a França , se lá nos ficou algum, Que eu saiba, só o Mário de Sá Carneiro...(  Uma vez que a vida que trazia não lhe agradava, e aquela que idealizava tardava em se concretizar, Sá-Carneiro entrou numa cada vez maior angústia, que viria a conduzi-lo ao seu suicídio prematuro, perpetrado no Hôtel de Nice, no bairro de Montmarte em Paris, com o recurso a cinco frascos de arseniato de estricnina.
 As mulheres grávidas no fim do romance, cria o otimismo do renascimento, porém a dúvida sobre a paternidade,  tema recorrente na história de portugal colonizador, que após anos de saque e exploração, volta para casa e facha porta a seus filhos.
A mitologia grega e parte importante na trama , os cães que guardam o portão do Inferno , Cerbero e caronte o barqueiro que fará a derradeira viagem e o fio azul, o fio de Ariadne, que conduziu Teseu para fora do labirinto, salvando-o do Minotauro, passa-nos a esperança de uma geração , um novo povo, uma ordem.



5. CONCLUSÃO

Ao concluirmos estas considerações precárias no presente trabalho , vamos nos reportar à personagem Souza, alter-ego de saramago e não por acaso seu segundo nome, que soa pretensioso e megalomaniaco, em relação a vida e sua visão de futuro:
Daí a dias, já na sua terra portuguesa, será herói, dará entrevistas à televisão, á rádio e à imprensa, Foi o primeiro a ver, senhor Sousa, relate-nos as suas impressões do terrível momento.Repetirá vezes sem conto, e sempre há-de rematar a ornamentada história com uma pergunta ansiosa e retórica, de causar arrepios e que a sí proprio arrepia deliciosamente, como um êxtase. (SARAMAGO,1989,P.25)
Vinte e quatros anos após suas previsões, com A instabilidade e quebra de alguns sitemas economicos na União Europeia, não estaria Saramago, olhando e afirmando.Viram?,eu não avisei,pois!


Referências

JOSÉ Saramago - Wikipédia, a enciclopédia livre.
CINTRA, Teresa Colturalto, Auto-intextualização em Romances de Saramago, São Paulo,2008
AMORIM,Claúdia. Nas fissuras da península e do sujeito, Juiz de Fora,2011-07-10
LOURENÇO, Eduardo, Nós e a Europa, In.: Imprensa Nacional/Casa da Moeda,1994
SARAMAGO, José, A jangada de Pedra. São Paulo,1989,Companhia das Letras,315p.


sábado, 4 de março de 2017

Vidas (In Memorian)


Vidas (In Memorian) 


Três mulheres numa só
Vidas diferentes
Anseios mil
Momentos especiais, brigas e brincadeiras
Discussões e cumplicidade
Imã e metais unidos

Primeira a letra E
Liberdade e rebeldia

Inconstância e irreverência
Lágrimas e paixões avassaladoras

- Meu lado contestador

Segundo a letra  N
Sorriso bonito, simpático
Alegria e espontaneidade
Inteligente e compreensiva
 - Meu lado culpado

Terceira a letra I
Amargurada e responsável
Consciente e tristonha
Força interior maior que a luta
- Meu lado sério

Três mulheres , um destino
Três vidas,  UMA AMIGA

Esteja em PAZ.





LA NIÑA DE LOS DULCES

(Tradução  e Montagem de Manuela Arcos)* 


Dulce, era su nombre

dulces vendía.

Dulce, amargaba dolor

Pasión por dulces tenían

Y Dulce, entonces, se reía


 


Dulce en sus manos traía

Heridas, amargor, lágrimas y dulces

Hasta Dulce, que vendia dulces

Ninguana dulzura tenía, sino amargura.



Cara sucia, ropa rota

Hermosa, morocha, sufrida.


Dulce Niña



 


*Professora de Lingua Espanhola

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Urbanus- Viadutos e Palácios




Pão e vinho, te darei
Um teto, um chão
Te amarei e cuidarei

Pão e vinho, te darei
Uma mesa posta, um vaso de flores
Te cobrirei e acalantarei

Pão e vinho, te darei
Uns filhos, uns cães
Te beijarei e estuprarei

Pão e vinho, te darei
Uma calçada, uma sarjeta
Te espancarei e matarei



domingo, 1 de janeiro de 2017

Feliz Ano +- Novo

Passam os anos, e ficamos nesta esquina chamada vida
As pegadas ainda frescas
E... Um longo (ou nem tanto) caminho a ser percorrido
Sigamos...






João de Deus Vieira Alves