sexta-feira, 5 de outubro de 2012

SANGRANDO


Éramos jovens tínhamos apitos, andar alegre e decidido, seria mais uma traquinagem afinal. Homens mais velhos puxavam o cordão, de uma proscrita UNE, camisetas com estampa do "CHE", uns fumavam maconha, outros bebiam cerveja preta, outros iam por não serem covardes, outros por ideais, e uns por  Romantismo e as gurias. Ano de 1979. Inauguração da Praça Argentina, por um Ditador de  Opereta. Todos cantavam a canção abaixo.
Uns fundaram partidos e hoje se digladiam em campos opostos, outros mantinham a chama estudantil acesa de Paixão e Barbosa. Éramos jovens, ao vento, sem documentos, com lenços,para enfrentar o  gás lacrimogêneo, e bolitas para os cavalos escorregarem.
"Não Chores Mais (No Woman, no cry)
Gilberto Gil
Bem que eu me lembro
Da gente sentado ali
Na grama do aterro, sob o sol
Ob-observando hipócritas
Disfarçados, rondando ao redor...
Amigos presos
Amigos sumindo assim
Prá nunca mais
Tais recordações
Retratos do mal em si
Melhor é deixar prá trás..".

SANGRANDO

A massa, plebe ignara
Segue seus lideres, como ovelhas inconscientes,
Rumo ao matadouro.
Seres inanimados, sem vontades nem anseio
Apenas meros executantes de atos autômatos e dispersos
Gritam nas ruas
Vociferam nos microfones mudos
E jogam a vida no beco escuro da omissão
Tudo resume-se em pequena parábola
“Em terra de cego quem tem um olho é rei”
Para mim é aleijado ou monstro
Um verdadeiro anormal
Para movimentar tanta gente
Tolher tantas idéias, fazendo verdadeira lavagem cerebral

Robôs do século vinte! Uni-vos!
É o brado retumbante que aturde os confins da subconsciência
E, todo aquele que fugir a regra
Será queimado na fogueira do radicalismo

A onda tem uma seqüência assustadora
Tal qual bola de neve crescendo a olhos vistos
O objetivo é um só:
O bem estar do ego do senhor

A segurança cuida de todas as irregularidades
A vigilância é constante
Os jornais amarelam nas bancas
Esperando a vez de virem a ser
A grande palmatória dos lúcidos que não aderiram

Do alto do prédio construído com suor e sangue
Um martelo ressoa forte na cabeça de acéfalos humanos
Sobre este imenso barril de pólvora
O cheiro de revolta irrita as narinas
Postado ao lado da cruz que carrega
O homem sente o próprio semelhante degenerar
Num ato desesperado oferece a mão descarnada e fria
Onde o mínimo de solidariedade já exauriu-se
E, julga ouvir a voz abafada dizer:
_ Tudo bem cara, estou apenas sangrando...
 
JOAO DE DEUS VIEIRA ALVES








terça-feira, 2 de outubro de 2012

POVO DO MATO- CAINGUANGUE


"Eles estavam aqui antes dos brancos,antes do negros, antes dos exploradores, vivem ? em reservas, a poeira da estrada é o que lhes resta, a miséria e a fome, e o pouco de terra que lhes resta, querem tirá-la , por aqueles que vivem se queixando nos noticiários da televisão, se tem seca esperam que o governo ajude, se chove  demais querem que o governo ajude. Vender balaios, dançar no calçadão, e esperar as migalhas dos passantes. 









Um barco sem rumo, sem timoneiro
Um andarilho, vagando sem dinheiro
Ambos parceiros

Poço sem fundo, sem saída
Arvores frondosas de outrora
Hoje, carcomidas, tombadas

Errantes dos becos escuros
Fabricantes de cestas
Povo do Mato, Cainguangue

Coxilhas, flechas, flechilhas
Calçadas, moradas, derrocadas
Lanças partidas, vidas quebradas

Tetas magras caídas
Filho desnutrido sugando
Orgulho ferido, enterrado

Donos da terra
Mãos estendidas, esmolando comida
JOAO DE DEUS VIEIRA ALVES