terça-feira, 27 de novembro de 2012

Negro Lanceiro


( Nara Elizene e Tio Ornés , o autor e Tio Luiz,inspiradores do Poema, seres iluminados verdadeiros herdeiros de "Porongos)

Poema vencedor Troféu de Primeiro Lugar do Concurso Literário Gaúcho -Poesia do ENART 2012. 




Negro Lanceiro

Autor: João de Deus Vieira Alves


baú empoeirado das lembranças
envoltos pela bruma, em fragmentos
correm varas da mangueira do tempo
libertando  tropilha de recuerdos.
vêm do fundo do campo d'alma
rebentando a corrente dos olhos.
voz rouca, embargada
narrando  “cosas”, com calma

muitos , muitos janeiros
embaçados de viver e sofrer.
barba e cabelos de algodão  
dando à fisionomia  aguda impressão
velhice, ternura, sofrimento .
olhar vestindo, os piás, calados
histórias, causos, lendas
temores, assombrações, bravura.

cativos na Mama Africa
garroteados ao libambo seguem
os doentes e fracos abandonados
gargantas abertas, o medo , o horror
epidemias, suícidos  ,loucuras
pesadelo, realidade, escravidão
liberdade utópica, traição

tempo de  chagas abertas
rompem torrentes, como coriscos
retumbam campinas na mente,
ecos do cantar de ferros e aço.
Noventa e três, volta com força
Gumercindo , e sua gente
Carpintaria, Salsinho, Campo Osório
cruentas batalhas, sangue irmão derramado
defendendo ideais, que diziam ser justos.

gritos hediondos, rouba-lhe o sono
 trezentos degolados do Rio Negro.
como esquecer o Cabo Duza,
castelhano do peito vermelho.
Nicolau, preto e soldado
de a cavalo, lança à destra..
velho Domingos, mateiro desbravador,
condutor de tropas, nas coxilhas e canhadas.


Vinte e três,  uma  ferida aberta ...viva
pica-paus, chimangos, rebeldes, maragatos
ombreando lado a lado, voluntários
Passo Fundo a Pedras Altas.
no combate da Conceição
pisou o Barro vermelho da lagoa
mescla do sangue, seiva e fibra
dos bravos que tombaram naquele chão.

Depois veio a Paz? Não.... as esquinas !
 miséria, o esquecimento
 farda feita em frangalhos
Sem soldo, nem  provimento
no exílio dos asilos
árvore frondosa de outrora
peleando com nacos de vida
relegado, doente e só.

uiva o minuano , ouvidos cansados
balançando  cruzes  de madeira toscas
campa fria,  grotões esquecidos.
não mais coxilhas,   o corredor deserto
invés de campos, abandono e dor
cavalos de papel, a flutuar no etéreo
clarins mudos, sem toques de avançar
restou a tristeza, nesta cadeira-prisão

fogo morto nos galpões
coberto baixeiro sobre penas mortas
grades, concreto como horizonte
Adeus, Nego Venâncio, cavaleiro de luz
manancial de águas claras
somos  parte de ti, meu irmão
despilchados, esquecidos
Pretos.Pobres.Provisórios.Pé-no-chão



sábado, 3 de novembro de 2012

Frases,ora frases...




Da Posse


“ Algumas pessoas adotam filhos, animais de estimação e uma série de quinquilharias inimagináveis; Os poetas adotam uma mesa de bar, um canto só deles, e disso não abrem mão nunca"








Ninho desfeito

"Filhos são pássaros,voam, quebram a gaiola, e as cobertas amarfanhadas, dão a exata noção, de ninho vazio..."




Tristecidade

"Sempre tive mais admiraçao por aqueles que ficam serio, as vezes, carrancudos;e menos por aqueles que riem de tudo e para todos,porque esses sempre escondem alguma tristeza..."

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

BICHOMEM

A poesia de Manuel Bandeira abandona os  meios acadêmicos e fere os olhos  dos professores e alunos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, chaga aberta na calçada da Oswaldo Aranha, esta é a Casa Lar do BICHOMEM. 
                                       
                                       



Bichomem

O homem é bicho

o homem é lobo do homem

bicho-homem, homem-bicho

resto dos restos, dignidade perdida,

perde o nojo, vive o gozo

mata a sede, sacia a fome,

a sombra do ontem

do que foi já não lembra

sem roupa, sem teto, sem nome,

se foi o amor próprio, só restou vicio e esquina

solidão e desprezo, a rua é seu lar.
JOAO DE DEUS VIEIRA ALVES