terça-feira, 12 de julho de 2016

Angioplastia (Baseada no Poema Pneumatórax)







Palpitações, isquemia, apneia e tremores noturnos.
A vida inteira que sonhou e que não viveu.
Arritmia, arritmia, arritmia.
Foi levado ao médico.
___ Diga quarenta e cinco.
___ Treze... treze...treze...
___ Inspire.
...................................................................................................
__ O senhor tem duas artérias entupidas e o coração está fraco.
__ Então, doutor, não é possível tentar a cineangiocoronarioplastia?
__ Não. A única coisa a fazer é dançar um funk ostentação.
JOAO DE DEUS VIEIRA ALVES






segunda-feira, 11 de julho de 2016

Soneto de (In) Fidelidade





Se, mudo de amante ,eu não aguento!

Nunca pelo desmazelo, pois sempre sustento

É a velhice chegando nas asas do vento;

Pois, até despir a roupa, causa sofrimento!



Quando a noite o sonho for tormento,

Nem um doutor, nem uma mãe-de-santo

Hão de ver meu siso num esgar de espanto,

Para benzer ou mitigar meu sofrimento,





Em mim tua lembrança, cruel me torture

Quem teve a sorte,e astúcia de detetive

Quem teve a lassidão,  na grama e lama.





Rezo que a ereção  sempre perdure.
Eu possa te dizer o pavor(que tive):

No bacanal o viagra, jazer sob a cama.


JOAO DE DEUS VIEIRA ALVES















sexta-feira, 1 de julho de 2016

PRAÇA XV Nº 16


PRAÇA XV Nº 16


O amigo Oculto

" Alguns segredos devem permanecer escondidos. "





          Todo mês de março, após a ressaca das férias, quando a vida começa lentamente a tomar conta de nós e o ano finalmente parece que vai deslanchar, uma das tarefas que não se pode abrir mão, para quem tem filhos em idade escolar.É a romaria de pais, levando a tiracolo as famigeradas listas de materiais a serem comprados, a fim de encarar o ano letivo.


              Munidos de paciência, tempo, pouco dinheiro, fomos cumprir a gincana de: Pergunta daqui? Especula dali? Pechincha acolá?

Após semanas de intensa aventura, por livrarias, feiras e a grande novidade do momento: As lojas de preço único. Finalmente, quando se pensa que tudo está resolvido...


A pergunta vem, rascante, seca e implacável, no intervalo do Jornal Nacional, no exato momento do ajeitar da erva na cuia.
__ E a mochila, Pai?



Mochila:  serve para causar deslocamento na coluna,carregar livros, cadernos, mini-games, merenda; no caso dos adolescentes o inseparável telefone celular ( que nunca tem cartão e/ou está na caixa postal,e as vezes como certos centroavantes “fora da área de cobertura”), e nos intervalos dos recreios, recheada de jornais serve também de bola.



Isto posto, refeitos do susto , os calos e a bolhas dos pés, já sofrendo de antemão, vamos dormir e ter sonhos coloridos com mochilas, merendeiras, malas e todo o tipo de bagageiro.



Após um dia de trabalho, a caminho de casa, chegamos numa banca de camelôs, com artigos importados, bugigangas “paraguayas”, onde estavam expostas diversas mochilas.



Fomos atendidos por um casal jovem, atenciosos e solícitos, e uma graça de criança que estava no carinho, que chamava atenção pelo intenso azul de seus olhos e os cabelos louros cacheados.



Mas, como filho que estuda pela manhã, e mora dentro da televisão à tarde, se não for mochila do “POWER RANGERS”, não serve.



Voltamos a banca para trocar a mochila. Só que desta vez ao invés do simpático casal com seu lindo bebê, quem nos atende, é um senhor grisalho. Diante da pergunta inevitável, por eles, o surpreso vendedor, nos argumentou que faria a troca da mercadoria, e era proprietário daquela banca naquele local a mais de dez anos, e não conhecia nenhum casal conforme a descrição feita por nós, no que foi corroborado pelo demais proprietários de bancas da rua.



Ainda, sestrosos e incrédulos, fomos abordados por um vendedor de cahorro-quente, que ouvia a conversa:



__ Olha, senhor, um casal com estas características, teve uma banca aqui, há mais ou menos quinze anos, mas foram mortos num assalto junto com seu filhinho.
Pesquisando, nos arquivos da Policia , descobri num jornal de quinze anos atrás, com a seguinte manchete:
CRIME NA PRAÇA
 “Casal de artesões é barbaramente assassinado, junto com seu filho.
     Nas fotos que ilustravam a reportagem, estava o simpático casal, que nos vendera a mochila e seu filho  tinha o sorriso mais radiante, que nunca.




JOAO DE DEUS VIEIRA ALVES