quinta-feira, 6 de setembro de 2018

José e Pilar - Documentário (Resenha)

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Resenha Documentário José e Pilar

Gravado nos anos 2007 e 2088 pelo documentarista, Miguel Gonçalves Mendes uma produção brasileira e espanhola. Trata-se da intimidade do escritor português e o relacionamento com Pilar. Podemos constatar que o escritor, usa no seu processo de criação, ouvir música clássica e jogar paciência (solitário) no computador antes de começar seu labor. Permeiam suas interações com seus admiradores respondendo perguntas e se posicionando a respeito de Deus, trechos de seus livros que vão sendo recordados, através das documentários.
                Além disso, a rotina de Saramago, de maneira mais natural possível, as refeições, de pijama, uma enorme biblioteca, viagens realizadas. Aos críticos sobre a figura de Pilar, o que estaria Yoko Ono para John Lennon, não transparecem no documentário, sim como mulher dinâmica e parceira fiel e incentivadora, musa e fonte de inspiração do escritor. Tudo é por Pilar.
                Quando a doença se agrava é o momento que emociona e causa tristeza, interrompe sua viagem, e acaba sendo internado. O recurso cinematográfico, é tosco, beirando ao amadorismo, existem vozes em ao fundo que atrapalham a fala dos protagonistas quase em “off”, a mescla dos idiomas (português e espanhol) atrapalham bastante a compreensão, mas perpassa a ideia de uma intimidade “natural” que soa forçado pela presença da câmera.
                Enfim, como escrevi e verbalizei em aula, SARAMAGO, é o próprio Elefante da Viagem. Fico com as frases iniciais do filme. “Como comunidade a espécie humana é um desastre, e diferença entre morrer e viver é o estar e o não estar.”


João de Deus Vieira Alves


Ensaio sobre a Cegueira -Blindness -Resenha do Filme

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Blindness – “Ensaio sobre a Cegueira”


O filme tal qual o livro começa com a cena pormenorizada do primeiro ataque de cegueira sofrida por um motorista num semáforo de uma metrópole qualquer do mundo. Aos poucos os personagens principais vão sendo apresentados, o médico oftalmologista, o menino estrábico, a prostituta dos óculos escuros, o médico e sua esposa são confinados, começam a chegar os demais pacientes no manicômio. As cenas são perturbadoras no encontro do primeiro casal, leva o espectador menos avisado a esfregar os olhos a fim de dissipar a névoa, o local físico onde os cegos estão alojados, vai aos poucos degradando-se, tal como os humanos. (O narrador num primeiro momento, pelo homem de tapa-olho (Danny Glover), a voz do megafone é perturbadora). A cena da pá e melhor detalhada no livro. A cena da morte do ladrão de carro é mais impactante que no filme, o cego chefe da ala 3 (Gabriel Garcia Bernal) imitando Stevie Wonder  e cantando a canção “ I Just Call To Say I Love You” cego de nascença e ícone da musica pop é impagável, os tiros quebram a harmonia propositalmente usados com o volume redobrado, o despojos dos bens são extasiantes, fiel ao livro. A cena do adultério, funciona no filme no livro, se a mulher do médico tivesses outra reação contrária a passividade, denunciaria que ela não estava cega, tanto que ela confessa que viu. Na sequência desde a escolha das mulheres que seriam carnais, libido e luxúria, em troca de comida, há uma tensão crescente, a brutalidade no filme continua nauseabunda, o amargor na boca, produz a sensação de um soco na boca do estomago por um lutador de boxe peso-pesado. As cenas do estupro coletivo são descritas em plano fechado, em meio a névoa e num jogo de luz e sombra, fixando-se em dois personagens, porém os gritos horrendos ao fundo, passam verossimilhança ao que está acontecendo. A cena da cega morta a socos durante o estupro, seu translado nos braços das outras mulheres de volta à cela, sua limpeza por elas, visando devolver-lhe um pouco de dignidade, martela a cabeça do espectador/leitor e nota-se que ela não termina ali vai além do filme e livro. A morte do  cego Chefe Ala 3 e o cego da contabilidade , apanhando o revólver disparando a esmo, o horror do incêndio, o fogo como como elemento depurador, a libertação, guiadas pela mulher que que enxerga vagam sem rumo pela cidade em ruínas, tais como zumbis, cenas impactantes, quando a mulher do médico, no supermercado faz escolha de alimentos, é derrubada por cegos, que com o olfato aguçado, percebem o cheiro de carne aguçado, percebem o cheiro de carne , dos salames que ela carrega. A chuva benfazeja é depurativa e faz com que lave corpos e espíritos doridos. O cão das Lágrimas tem seu papel reduzido em relação ao livro, talvez humanizado por juntar-se a trupe, enquanto na mesma escadaria em desce quatro cães vadios, devoram a carcaça do cadáver de um homem.


João de Deus Vieira Alves