sexta-feira, 22 de novembro de 2013

DOMADOR











                                         
Sinto o cheiro das flores de laranjeiras invadirem minhas ventas e a brisa suave da primavera já mostra sua cara, dizem pelaí que este ano o desfile vai ser o maior de todos os tempos , deu na rádio que vão apostar quem coloca mais cavalo na rua, upa pá pá, e aquele baio frente aberta a pouco arrocinado vai ser a flor de estampa do piquete, mas o rosilho do guri do patrão, ficou manso de boca e trote macio, me desculpe o patrãozinho, mas ficou lindo inté pra o montar das moças, um fachadão.

Me alembro quando vim pra estancia, diz que meu pai babou um calavera a facão numa tasca, por causa de trago e uma  china candongueira e só teve tempo de apanha as pobrezas, mete numa carroça, vim de contabrando tapado com um couro de boi , que a poliça tava na cola dele, e se aquerenciou aqui ,ficando de posteiro neste fundão, por gratidão do dono das terras, pra ocasião em que cantaram os ferros e num vupt ele alçou a perna com o rapazola se tremendo todo e mijando perna abaixo pelo cagaço do entrevero, achava  que por ser doutor era fácil cobiçar a percanta novinha na zona, preferida do zarolho maleva que já trazia mais de dez mortes nas costas, ficou sabendo tempo depois que aquele moço era filho de um estanceiro rico e tinha campos que numa galopeada das baguala levava bem uns dois dias pra cobrir tudo.

Me criei guacho e xucro, sem sabe lê nem escreve, minha mãe ficou  na cidade, dizem que virou mulher da vida e morreu de doença do sangue e fraca dos “polmão”, meu pai tempos despois veio a morre emaranhado numa cerca de arame farpado quando voltava da venda com o sortido e ficou lá a noite toda e só foi encontrado no outro dia na soalheira ,cozido , de tanto vinho que bebeu.

Fui mandalete nas lavouras de arroz, sempre com um casquinho de chifre, pras precisão de se um acaso fosse picado de cobra, que cruzeira naquelas banda era mato,curei bicheira, castrei touro, comi os bagos na salmoura, muita novilha atracada não deu pra salvar o terneiro e o nonato fervido com pirão na pimenta era a bóia para guentar o tirão, fui coimeiro  nas cancha de osso, alambrador, esquilador, changueador, domador, as vezes, a troco de fumo e canha, e sendo depenado nos cabarés com pinguanchas ligeiras de beiço pintado e olhar rebenqueadores, mas meu oficio que sempre me gustó foi o de lonqueador, lida de horas a fio, courear, preparar o couro, limpar raspando os pelos, fazendo tentos, tranças, costuras e retovos.  Arreios de meu feitio correram fama e ganhei uns trocados, e lhe garanto se não fosse esta dor nas costas tava até hoje lonqueando e fazendo garras.

A pequena ponta de gado foi mermando, as galinhas ,as ovelhas, só restou este cusco ovelheiro me fazendo companhia, numa magreza de dar dó, uma angústia, ralho com ele, espanto, mando se aquerenciar noutro rancho, mas nada, parece que nem é com ele.

Não respeitam os mais velhos, nem adeus eles dão, passam pela gente e nem olham, se alojaram na casa grande, puxaram um fio dos postes que plantaram na estrada, é uma barulheira, não consigo entender, ficam amontoados na frente daquela caixa que  mostra gente lá dentro delasem prosear e nem mesmo se olharem, não tem roda de mate nem tampouco de causos,  e este piá sotreta tá sempre aqui no galpão espalhando meus tareco, até meu pelego presente do seu Dionísio na ultima comparsa que fizemos, a martelo, tá com o carnal todo rendado e cheio de pulgas deste guaipeca de fresco lá da cidade, ah se não fosse esta dor nas costas, dava uma sumanta de relho no pai dele, passava urtiga braba na bunda do guri e botava campo fora com a cachorrada atrás. 

Mas hoje, tem desfile .Madrugaram na estância, carnearam ovelhas e novilho abriram um valetão, espetos de lado a lado, canha a la farta, música ,arreios e aperos luzindo, tudo de pilcha nova e umas camisas da mesma cor dizendo sei lá o que. Ah. Mas hoje tô um pouco melhor fiz uma infusão com ervas, álcool e passei nas costas , remendei as garras , tomei banho na cacimba, ajeitei a carapinha, que já mostra uns flocos de algodão, bombacha de grivo com meu nome bordado, jaleco de couro de capincho, lenço vermelho, camisa xadrez, as botas com mossa das esporas garroneiras, a guaica lonqueada, trançada e enfeitada com os cartuchos do chimitão das confiança, e meu chapéu pança de burro, que muitas vezes foi minha casa nas noites de ronda, sol inclemente e frios  de entanguir , e meu lunanco já tá pronto prum quero , não me misturei na festa, vou esperar  aqui na sombra e sigo com eles rumo a cidade, já sinto o tropel, já tão chegando , levanta cusco , vais de escoteiro a meu lado, pachola , ouvindo as palmas do povo, vamo ,tchê , a dor nas costas tá aumentando e este cavalo não consigo achar a volta, a dor tá aumentando, vou tomar meia de canha com butiá e aguento o repecho, já tão na curva do açude e na frente vem o patrãozinho e o piá entonado.Ah. Montei e tô junto do piquete, mas eles não me esperaram, continuaram, ah se não fosse esta dor ,dava uma galopeada e raiava com estes borra-botas, onde já se viu deixar um parceiro prá trás, e tu jaguara sarnoso, nem pra  acoar tem força ou morder as patas destes matungos.       

Na estancia ,encilham, montam ,formam o piquete , o porta bandeira na frente com brasão da cabana, referência na criação de cavalo crioulo, rumam para o desfile, contornam o açude , entram no corredor e sob a centenária figueira, um destinto lenço esfarrapado, numa cruz tosca carcomida, desperta a atenção do guri que indaga o pai, de quem é aquela cova.
__ Não te importa ,dizem que que aí enterraram um negro véio, que se meteu a domar um cavalo maleva, levou uma rodada e se planchou com as costas na cerca de pedra da mangueira, ficou entrevado e morreu, e como não tinha ninguém por ele , colocaram ele aí, pra servir de adubo e bóia pras formigas, e nem com reza braba conseguem tirar este cusco chaguento só pele e osso de cima dessa sepultura.

NA. Os erros ortográficos, devem-se a fala do narrador da estória.







segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Raízes Africanas, Solo Gaúcho



Raízes Africanas, Solo Gaúcho
João de Deus Vieira Alves


                Quando o trem resfolegou na estação, deixando atrás de si , um rastro de fumaça, lágrimas e infância perdida. Quando a retina plasmou a moldura dos campos e o contorno dos cerros.  Venâncio acomodou-se no banco de madeira com a trouxa de roupas contra o peito, e lançou a chispa de seu olhar em direção ao futuro.
                Anos mais tarde, com os filhos espalhados, esmolando nos sinais, a mulher que morreu cedo, na fila interminável da previdência social. Os lábios grossos ressecados, mal seguram as baganas e o tremor e inchaço são sintomas do trago e fumo.
                Não mais o verdor dos campos, cancha reta, jogo de osso, truco, galpão e siesta nos pelegos. Albergue e sopa do pobres. Portas na cara e desprezo. O brilho de outrora, é opaco, a voz roufenha repete a ladainha, e perturba quem espera ônibus no fim-da-linha.
“ Foto, olha a foto, fotooo”
                O vento da primavera mostra seus primeiros sinais e as juntas doridas alertam que o mês será chuvoso, ouve que num parque da cidade há grade acampamento, festas e poderá catar latinhas para vender e quem sabe, as sobras da festança lhe sejam alcançadas, para aplacar a fome que é sua parceira “hace tiempos”.
                Negro forte, num upa estava no lombo de algum malino, por diversão e farra, garantindo o municio e  os vícios , e um chego na zona de meretrício , onde as chinas candongueiras e de pernas grossas amainam o minuano e tornam as noites mais aconchegantes.
                Os caminhos são os mesmos, as avenidas largas da indiferença, de cada ser ensimesmado, nos labores da faina diária.
                Sob a marquise no meio da cidade que pulsa ao redor, a saudade dói e corrói como ácido, o vento da madrugada uiva em seus ouvidos, batendo de encontro ao rosto aguça os sentidos, máscaras de granito e ferro, luzes frias e insensíveis balouçam, passos ressoam na calçada, risos vagos e ilusórios, seres indefinidos e tristes. A marginalia circula livremente, o racismo salta aos olhos dos homens da justiça e ser negro é crime! A cor da pele o estigmatiza, a chacota e o ridículo doem mais que mil chibatadas ou ferro ardente em brasa. Os bêbados vomitam verdades no rosto da sociedade perplexa, órfãos do destino imploram pão  , moedas  piedosas caem em suas mãos.
                Encolhe-se no fétido cobertor carcomido e cheio de pulgas, mero espectro, onde a noite em pesadelos, cavalga fletes de pelo dourado, com seu aperos de prata brilhantes, carona, lombilho, pelegos e badana, a moda da fronteira, e a voz do bisavô , mansa e pausada, atravessa o oceano e traz a Mama África para acalentar seu sono.
                Foram cativos em diversas aldeias, seguindo em fila indiana, presos ao libambo , atados pelo pescoço a outros infelizes, os doentes e insubmissos abandonados ao longo dos caminhos, gargantas abertas para medo aos demais, carregavam sacos com pedras e areia, para aumentar a resistência e o suplicio, como premio por viverem ganhavam ração e fumo e aguardente, eram batizados e obrigados a obedecer e temer um Deus que não era o  seu. Mesma cor, falares diferentes, igual destinos, mesma sina, jamais haviam visto o mar, um navio, um homem branco, temiam ser devorados por seres antropófagos na outra margem. Nus, cabelos raspados, quase sem água e comida. Epidemias avassaladoras, jogados ao mar os corpos, de volta aos seios de Yemanjá, quando batia forte o banzo, levando-os a loucura e suicídio.
                Cata lixo em meio ao Parque, revirando restos, olha aparvalhado moças e rapazes, pilchados, cheirosos, como se obedecessem a um manual, contrastando com os tradicionais autênticos , sem rédea ou bocal, que chegaram neste lugar e como desbravadores de outrora, conquistaram o espaço, onde foram segregados com seus animais, para hoje após os reconhecimento do poder público e adoção pela grande mídia, virar ponto de referencia.
                A noite fria enregela os ossos, carros temáticos desfilam na avenida fronteira ao rio que banha a cidade, aplausos, fotos e turistas.
                Os principais jornais noticiam no dia seguinte, estampam manchetes de capa “ DESFILE TEMATICO, NOSSA RIQUEZAS “, encerra a Semana Farroupilha.
                Na parte sobre a cultura africana trazendo o Rei Congo e a Rainha Mina,  atabaques, Lanceiros Negros, junto ao meio-fio próximo a arquibancada, uma figura imponente com um saco preto na mão, tirador de estopa e vincha na carapinha branca, cata latas, olhos castigados pela luz, molambo eivado de cicatrizes pelo corpo e na alma, moldurando um gaúcho despilchado  e pés no chão, esquecido e desprezado, correrá o mundo em contraponto com a beleza do desfile.
                No derradeiro estertor, na campa onde repousa, aponta na banca de revista, e entredentes, sentindo a agulhada no peito, num supremos esforço balbucia, na golfada derradeira de sangue:
                                              “ Foto, o..lha, a...fo.tooooo”



quinta-feira, 11 de julho de 2013

A menina das Rosas

Rosa,  era seu nome
rosas, vendia
Rosa, espinhava compaixão
Paixão, por rosas havia
e Rosa, sorria, então!


Rosa, nas mãos trazia
calos, espinhos, lágrimas e rosas


Até, Rosa que vendia rosas
nem rosa era, era botão


Cara suja, roupa esfarrapada
Bonita, sofrida

Rosa menina! Rosa criança.


JOAO DE DEUS VIEIRA ALVES










sábado, 22 de junho de 2013

Análise do Poema em linha reta, de Fernando Pessoa, na voz de Osmar Prado














Trabalho de Fonologia

Análise do Poema em linha reta, de Fernando Pessoa, na voz de Osmar Prado

João de Deus Vieira Alves
Lucas Reis Gonçalves




Por afinidade, gosto ou (a ilusão de menos) trabalho, selecionamos a obra poética de Fernando Pessoa para realizar a análise fonológica proposta pelo cronograma da disciplina. Não apenas uma “obra poética” do bastante venerado poeta português, mas a realização oral dessa obra. Dentre as tantas interpretações que circulam pelo meio virtual, uma delas nos chamou a atenção: Osmar Prado, na novela O Clone, fazia um personagem alcoólatra que lia, e não só lia, falava Fernando Pessoa em diferentes situações da trama novelística. E, numa dessas, pego no flagra, com o uísque na mão, ele desatou a declamar o poema mais que famoso Poema em linha reta. E foi por aí que iniciamos o namoro com o material. Pelo Clone, vê só.
A gravação, como quase tudo hoje, está disponível no YouTube – site de compartilhamento de vídeos que dispensa maiores apresentações. Com base nela, numa duração de aproximadamente dois minutos e meio, recolhemos informações suficientes (e até demais!) para execução da análise em questão.
Ressaltando aqui que a gravação utilizada de fonte para a coleta de dados provém de um trecho de um episódio d’O Clone, é importante também lembrar que o texto falado pelo ator não coincide exatamente com a obra original. Adaptando algumas coisas para a situação em ação e cortando outras, o personagem de Osmar Prado desenvolve a sua leitura sobre o poema de Pessoa. Assim sendo, o discurso que importa a nós, nesse momento, é o do personagem. E é ele que é transcrito aqui, com suas versões em transcrição fonética e transcrição fonológica:

Eu nunca conheci quem tivesse levado porrada.
[Èew Ènu0k« koøeÈsi ke0J0tSiÈvEsI leÈvadU poÈXad«]
/Èeu ÈnuNka koNeÈsi keNtiÈvEse leÈvado poÈrada/

Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
[ÈtodUz ÈuZ ÈmewS koøeÈsidUs te0J0ÈsidU ka0peÈo0J0s i00ÈtudU]
/Ètodos Èos Èmeus koNeÈsidos teNÈsido kaNpeÈoeNs eNÈtudo/

E eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
[iÈew kiÈta0t«Z 8 ÈvezIs ÈteøU ÈsidU XiÈdZikUlU abi 8ÈsuXdU]
/eÈeu keÈtaNtas Èvezes Èteøo Èsido riÈdikulo abiÈsurdo/

Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
[kiÈteøU soÈfRidU i0S0oÈvalJUz ikaÈladU]
/keÈteøo soÈfRido eNSoÈva´os ekaÈlado/

Quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
[ÈkWa0dU Èna0w0 ÈteøU kaÈladU ÈteøU ÈsidU maXiÈdZicUlU aÈi0d«]
/kuÈaNdo ÈnaN+o  Èteøo kaÈlado Èteøo Èsido maRiÈdikulo aÈiNda/

Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
[Èew kiÈteøU ÈfejtU veXÈgoø«S finaÈ0seR«S peÇdZidwi00pReSÈtadU  Èse0J0 paÈgaX]
/Èeu keÈteøo Èfeito verÈgoøas finaNÈseras peÇdidoeNpresÈtado ÈseN paÈgar/

Que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
[kiÇkWa0daȍR« duÈsokU suRÈZiw miÈteøU agaÈSadU]
/kekuÇandaȍRa doÈsoko suRÈZiu meÈteøo agaÈSado]

Pra fora da possibilidade do soco;
[pRaÈfR« daposibiliÈdad duÈsokU]
/pRaÈfRa daposibiliÈdad duÈsoko/

Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
[Èew veRiÈfikU Èki Èna0w0 ÈteøU ÈpaX ÇniStuÈtudU ÈneStSI Èmu0dU]
/Èeu veRiÈfiko Èke ÈnaN+o Èteøo Èpar ÇnistuÈtudo Èneste ÈmuNdo/

Todo mundo que eu conheço e que conversa comigo
[ÇtoduÈmu0dU ÈkJew koÈøesU ikiko0ÈvEXs« kuÈmigU]
/ÇtodoÈmuNdo Èkeu koÈøeso ekekoNÈvErsa koÈmigo/

Nunca teve um ato ridículo,
[Ènu0k« teviu0ÈatU XiÈdZikUlU]
/ÈnuNka teviÈuNato riÈdikulo/

Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
[Ènu0k« Èfoj siÈna0w0 ÈpRinsipI ÇtoduÈzelIS ÈpRinsipIs naÈvid«]
/ÈnuNka Èfoi seÈnaN+o ÈpRinsipe ÇtoduÈzeles ÈpRinsipes naÈvida/

Ah,ah, quem me dera ouvir de alguém a voz humana
[Èa Èa Èke0J0 miÇdERoÈvi dZjAÈge0J0 Èa ÇvozuÈma0n«]
/Èa Èa ÈkeN meÇdERoÈvi dealÈgueN Èa ÇvozuÈmana/

Que me confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
[Çkimiko0feÈsasI Èna0w0 peÈkadU Èmajs ÇumajnÈfa0mi«]
/ÇkemekoNfeÈsase ÈnaN+o peÈkado Èmais ÇumainÈfamia/

Que me contasse, não um ato de violência, mas uma covardia!
[ÇkimikoÈ0tasI Èna0w0 u0ÈatU ÈdZi vjoÈle0sj« ÇmajÈzum« kovaXÈdZi«]
/ÇkemekoNÈtase ÈnaN+o uNÈato Ède vioÈleNsia ÇmaiÈzuma kovarÈdia/

Ó príncipes, meus irmãos,
[ȍ ÈpRinsipIs mewziXÈma0w0s]
/ȍ ÈpRinsipes meuzirÈmaN+os/

Onde é que há gente no mundo?
[onÈdEkj« ÈZe0tSI nuÈmundU]
/onÈdEkea ÈZeNte noÈmundo/

Poderão as mulheres não os terem amado,
[podeÈRa0w0 ÈaZ 8 muÈlJERIS 8 Èna0w0S ÈterI0 aÈmadU]
/podeÈRaN+o Èas muÈ´ERes ÈnaN+os ÈtereN aÈmado/

Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca! Nunca!
[Èpde0J0 teXÈsidU tRaÈidUz Èmajs XiÈdZikUlUZ Ènu0k« Ènu0k«]
/ÈpdeN tersÈido tRaÈidos Èmais riÈdikulos ÈnuNka ÈnuNka/

E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
[iÈew kiÈteøU ÈsidU XiÈdZikUlU Èse0J0 teXÈsidU tRaÈidU]
/eÈeu keÈteøo Èsido riÈdikulo ÈseN tersÈido tRaÈido/

Como é que eu posso falar com os meus superiores sem titubear?
[koÈmwE kiÈew ÈpsU faÈla ku0ZÈmews supeÈRjoRIs Èse0J0 tSitubeÈaX]
/komoÈE keÈeu Èpso faÈla koNsÈmeus superiÈores ÈseN titubeÈar/

Sem meter goela abaixo pelo menos um bom gole de uísque ou de cachaça?
[Èse0J0 meÈte guÇelaÈbaSU ÈpelU ÇmenUÈzu0 Èbo0w0 ÈglI dZiÈwiSkI Èow ÈdZI kaÈSas«]
/ÈseN meÈte guÇelaÈbaSo Èpelo ÇmenuÈzuN ÈboN Ègle diuÈiske Èou Ède kaÈSasa/

Eu, que tenho sido vil, literalmente vil,
[Èew kiÈteøU ÈsidU Èviw literawÈme0tSI Èviw]
/Èeu keÈteøo Èsido ÈviL literaÈmeNte ÈviL/

Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
[Èviw nusenÈtSidU meSÈkiøU Èi iÈ0fa0mI Èda viÈlez«]
/ÈviL nosenÈtido mesÈkiøo Èe iNÈfame Èda viÈleza/

Análise dos processos no Poema em linha reta

                Antes de iniciar a análise dos processos em si, seria interessante destacarmos os desconfortos que tivemos em relação às transcrições fonética e fonológica.  Primeiro, e com grande intensidade, a alternância evidente entre as fricativas alveolares ([s] e [z]) e as fricativas alveolo-palatais ([S] e [Z]) na fala de Prado, como em

[Ènu0k« Èfoj siÈna0w0 ÈpRinsipI ÇtoduÈzelIS ÈpRinsipIs naÈvid«]
e em
[iÈew kiÈta0t«Z 8 ÈvezIs ÈteøU ÈsidU XiÈdZikUlU abi 8ÈsuXdU]
               
Como se vê, há uma clara variação da pronúncia do ator. Parece haver, dentro do discurso todo, traços do sotaque carioca – traços esses em evidência na problematização proposta – que, naturais, permeiam a declamação. Em momentos de maior ênfase, ele dá prioridade às fricativas alveolares.  Já quando corre rapidamente o verso, cai em algumas fricativas alvéolo-palatais -  ainda que, às vezes, fracamente.
O segundo desconforto, porém muito menor, é provocado também pelo sotaque carioca. No uso das róticas em posição de coda, como em [abi 8ÈsuXdU] exigiu um particular cuidado durante a audição. Fora isso, o trabalho foi o mesmo. Cansativo e bastante relativizado.
Agora, quanto aos processos, podemos começar pelos níveis hierarquizados através das aulas da disciplina. Ou seja, a partir da ordem de apresentação dos processos fonológicos produzida em aula, iniciaremos a análise de cada processo e sua ocorrência no material produzido pela declamação do ator da novela.

1.        Apagamento
Temos, em alguns determinados momentos, a supressão de um elemento (consoante e vogal) no meio de palavra, como em

[ÈkWa0dU Èna0w0 ÈteøU kaÈladU ÈteøU ÈsidU maXiÈdZicUlU aÈi0d«]

Nesse caso, temos supressão de uma vogal [i] (ou semi-vogal [j]) e uma consoante [s] ou [Z]. Conforme o estudo da Fonologia, esse processo de apagamento é comumente chamado de síncope.

Outro tipo de apagamento corrente na análise fonológica é a apócope, que define a supressão de elementos no final da palavra. Esse tipo de apagamento ocorre também na fala do poema de Pessoa em situações como

[pRaÈfR« daposibiliÈdad duÈsokU]
ou
[Èa Èa Èke0J0 miÇdERoÈvi dZjAÈge0J0 Èa ÇvozuÈma0n«]

Nesse último trecho de fala, temos um apagamento da líquida final /r/, o que não deixa de caracterizar o evento como a supressão do elemento no final da palavra.

Há também, funcionando como apagamento, a monotongação, que suprime uma vogal do encontro vocálico como ditongo. Vê-se, por exemplo, em

[Èew kiÈteøU ÈfejtU veXÈgoø«S finaÈ0seR«S peÇdZidwi00pReSÈtadU  Èse0J0 paÈgaX]

ou em
[miÇdERoÈvi]

Em ambos os casos, temos o apagamento de elementos no interior das palavras.

2.      Assimilação
Assim como o processo de apagamento, as assimilações tomam lugar de vários versos do poema.  Temos, por exemplo, a assimilação da nasalidade pela vogal que a antecede em passagens do tipo
/ÈviL nosenÈtido mesÈkiøo Èe iNÈfame Èda viÈleza/
ou
/Èa Èa ÈkeN meÇdERoÈvi dealÈgueN Èa ÇvozuÈmana/

Em outros momentos, encontramos o vozeamento de fricativas pelo fato de estarem na posição anterior a um elemento sonorizado, como em
[Èpde0J0 teXÈsidU tRaÈidUz Èmajs XiÈdZikUlUZ Ènu0k« Ènu0k«]

3.      Epêntese
Dentro do discurso de Osmar Prado, encontra-se um caso de inserção de uma vogal (breve) para a pronúncia da palavra ‘absurdo’ em
[iÈew kiÈta0t«Z 8 ÈvezIs ÈteøU ÈsidU XiÈdZikUlU abi 8ÈsuXdU]

4.      Crase
Temos uma situação especial, que pode talvez vir a ser definida como apagamento, mas preferimos tratar como crase. O encontro de duas vogais, formando uma (no caso a ser exposto, uma glide), seria capaz de definir esse processo que pode ser visto aqui:
[podeÈRa0w0 ÈaZ 8 muÈlJERIS 8 Èna0w0S ÈterI0 aÈmadU]
Aqui as vogais de mesmo som das duas palavras acabam se combinando e sendo pronunciadas conjuntamente. Torna-se possível assim, pelo ritmo e pela fluidez do texto, reunir os fonemas em apenas um fone só.

Conclusões e observações
                De largada, assumimos uma conclusão óbvia e bastante presente no decorrer do trabalho: o trabalho. A labuta toda pra produzir – principalmente – as transcrições e ouvir e reouvir o áudio da declamação do poema nos fez virar a cabeça umas quantas vezes, umas para trocar de ouvido, e outras pra arejar ela própria. A voz do Osmar Prado, ator decorado há muito, já se tornou irritante. Pobre homem.
                Mas é aí que está a graça. A partir desse esforço todo, na tentativa de escutar uma fricativa mais posterior ou mais anterior; de ouvir um /r/ carioca e não um /R/ gaúcho; de entender onde há apagamento, onde há epêntese; a partir de tudo isso, visualizamos algumas fronteiras e limites que desenham as ferramentas e os terrenos da Fonologia e da Fonética.
                Já no âmbito da especificidade do discurso poético, o esquema é outro. Nota-se facilmente a peculiaridade desse tipo de fala. Contrário a uma conversa espontânea ou uma gravação de certo corpus delimitado, a poesia declamada adquire aqui um caráter único na sua realização. O ritmo, a sucessão de fonemas, a ênfase em determinados pontos da pronúncia são características que moldam uma espécie de fala pré-estabelecida, fala essa com um fluxo de linguagem ágil e correto. Correto no sentido de completo – unitário. Esse fator de unidade dá a poesia uma sutil ideia de texto decorado – um texto exato. Não é à toa que esse fluxo acaba aglutinando todos os versos, um sobre o outro, verso sobre verso, até confundir a cabeça de quem os analisa.

                Tudo isso para explicitar a dificuldade pela qual passamos e por qual, provavelmente, todo o fonólogo já passou algum dia. 

domingo, 26 de maio de 2013

E AGORA?


O que faço, para te esquecer?

Cada olhar, gesto ou palavra
Cheiros,perfumes,músicas
Sussuros,murmúrios,lamentos
Te trazem prá mim

O que faço, para te esquecer?

Casamentos,momentos,relentos
Discussões,ambições,paixões
Brigas,intrigas,fadigas
Te levam de mim

O que faço, para te esquecer?

Bares,luares,cantares
Carnavais,sinais,teus aís
Te trazem prá mim

O que faço, para te esquecer?

Se tudo acima dito
Desdigo esperando em vão
Lembrando de ti,enfim...
JOAO DE DEUS VIEIRA ALVES

sábado, 18 de maio de 2013

Fragmentos


Sempre tive medo de agulhas, quando brincava de cavalinho nos travesseiros colocados na janela, desce daí guri, vou contar pro teu pai quando ele chegar, pois meu sonho era ter um cavalo igual aqueles que via puxando os canhões no desfile militar, mais tarde fiquei sabendo serem mulas e os canhões não eram de brinquedo, os arreios não estavam firme no parapeito e caí de cabeça no chão, entre os galhos das roseiras; resultado são três pontos sobre o olho esquerdo, na verdade ao todo são nove, mais três quando cabeceei a nuca de um zagueiro na decisão de futebol, vila x vila, quando na escaramuça depois do jogo, desmanchamos as goleiras de taquaras e na pressa de recolher as roupas , veio junto a calça vaqueira, orgulho do melhor atleta deles e hasteamos no eucalipto mais alto do campinho onde atuávamos,  e depois incendiamos num ritual de guerra tal qual os índios que víamos no cinema nas matinés, moço o pai disse pra eu dizer pro senhor que eu sou filho dele aí o senhor que conhece ele deixa eu e o meu irmão entrar de graça que depois ele fala com senhor moço, tá bom?, uma judiaria sei disso hoje, pois naquele inverno rigoroso da fronteira, o pobre ia pra escola só de bermuda e chinelos de dedos, tão ou mais pobre e órfão como muitos de nós, e outros três pontos lembrança de uma garrafa de uísque barato que estilhaçou, quando os  “homi” invadiram o cabaré, pra ver se tinha “de menor”, não adianta a gente sabe,  tapa na cara, chute na bunda, depois eu volto neguinha tô trabalhando, na parede vagabundo, não maloca o bagulho porra!, fui  escondido pelas putas debaixo da cama, todo mijado e chorando, tomei muita água de melissa para me acalmar, tudo isso, quando precisou costurar, era necessário anestesia com injeção dentro do corte aberto, precisava? Vai vendo. Levei facada, que ficou a milímetros da jugular, pois se não é o bêbado  protetor que estava em pé no corredor do ônibus, que com sua voz embargada cantava só você que me ilumina meu pequeno talismã  e faz de conta que sou o primeiro e um homem de moral não fica no chão  ,Adeus Tia Chica, fomos recebidos à bala, porque vago não sesteia nem faz pausa para cafezinho e baixar policia conta ponto para os manos, ei tio liga pra FASE e avisa que vou tá lá antes do meio dia prá garantir a brita,  e os incêndios, bem estes não avisam, quando começam e nem onde vai ser, e os bombeiros experientes olhavam pra ele e apagavam com os olhos e  mesmo que tu tenha acabado de sentar  a mesa, pedir uma cerveja gelada  porção de fritas e picadinho, mete-se a cara e vamos em frente, tudo isso sai no mijo, mas agulha doutor, agulha não, pode ser antibiótico via oral? Gargarejo de malva morna, com sal e comprimidos, cambará, ou aquelas xaropadas que os jujeiros vendem? Demora,sim,demora.eu aguento, mas injeção,não, isso não, pois é quando se larga do serviço tudo que se quer é entregar o armamento tirar o fardamento e sair correndo para casa ,o colete salva-vidas, que após horas com o calor escaldante, parece que faz parte do teu exoesqueleto, e o cheiro é coisa que impregna e tu leva anos até ser desfeito,. O destino,ah,o destino, nos prega peça e ver outro colega de farda chorando te cala fundo, porque nossas vidas são espelhadas,qual foi? Que houve?Minha filha, precisa de transfusão de sangue, ninguém lá em casa é compatível, no setor de pessoal os doadores foram doar para um amigo da unidade que ajudou a consertar a viatura, aquela que  o motorista tira a bateria do fusquinha dele e coloca para não ficar a  pé no setor, é raro eu sei, AB positivo; é o meu digo de supetão, e o senhor doaria? Claro, respondo, já me cagando de medo da agulha. Tive Natais esquecíveis e outros memoráveis , mas o presente mais singelo e hoje amarelado e com pátinas é um cartãozinho com letra tremula, com desenho de um magricelo fardado e a mensagem . AO MEU PAPAI NOEL DE SANGUE.”BIGADA”

segunda-feira, 13 de maio de 2013

MADRUGADA e COVIL



MADRUGADA 

No meio desta cidade que pulsa ao redor

A saudade dói e corrói como ácido
O vento da madrugada uiva nos meus ouvidos,
batendo de encontro ao rosto
Aguçando o sexto sentido
Máscaras de granito e ferro
Luzes frias e insensíveis balouçam
Passos ressoam na calçada
Risos vagos e ilusórios
Mulheres vendem o corpo por migalhas de amor
Seres indefinidos e tristes
A marginália circula livremente
O racismo salta aos olhos dos homens da Justiça
E, ser negro é crime!
A cor da pele o estigmatiza
A chacota e o ridículo doem mais que mil chibatadas
ou ferro ardente em brasa
Os bêbados vomitam verdades no rosto da sociedade perplexa
Os órfãos do destino imploram pão
ao cavalheiro que passa impassível e célere
Moedas piedosas caem em minhas mãos
Palavras de escárnio e "conforto"
Sou mais um inválido
Cego ... e terrivelmente só



COVIL



Quando os homens abandonarem
o aconchego das cobertas e a comodidade do cansaço
descerem das camas quentes, sentando na beira da calçada
nas madrugadas geladas para admirarem a lua e as estrelas
talvez, sejam mais felizes

Mas, infelizmente não é assim
somos filhos da pressa apressada
suamos enlatados nos coletivos
brigamos todos por um lugar ao sol

Minha casa já não me pertence
meus filhos não conheço-os
amor feito às pressas
sem gozo, sem calma
obrigação, nada mais!

As ruas passam, os meses, os anos
continuamos na mesma
as luzes dançam em ritmo acelerado
Metrópole, Megalópole
qual lobo ferido e acuado
perdido na selva medonha
gravata e terno de aparências
relógio-ponto, senhor implacável
café amargo, antídoto sereno
cercas e muralhas de papéis-oficio
Nós lutamos contra o tempo.

JOAO DE DEUS VIEIRA ALVES












sábado, 11 de maio de 2013

O Visitante




            Ele amanheceu sozinho e atônito. O amargo na boca, a sensação de corpo pesado, o sonho fora tão real, e o cinzeiro transbordando, as taças de vinho no tapete junto às almofadas amarfanhadas, lhe deixam mais confuso.
            O prédio fica na rua mais movimentada da grande metrópole, um arranha-céu imponente, dominando a paisagem. Destaca-se dos demais, por sua arquitetura futurista.
            Hermenegildo Dantas caminha pensativo, sorumbático, sozinho em meio à multidão que o cerca, suando desconfortável, dentro do terno de grife famosa e gravata de seda italiana, a mão gordurosa, quase deixa escapar a pasta de executivo abarrotada, sentindo os espinhos furar o papel celofane e fustigarem a outra mão.
            Fogo ardente! Queima o peito. Adrenalina insuflada. Correr...o nada é tudo que se quer.
            Adentra o  prédio, pára quando vê o homem de terno e camisa preta. Deve ser algum novo representante comercial, que fica tomando o tempo dos médicos, atrasando a consulta dos pacientes.Pensou..
            Na recepção, o guarda uniformizado lhe pede a identidade, ato continuo, apanha sob a mesa e entrega-lhe o crachá de visitante. Despreza o elevador, sobe pelas escadas, afinal irá no 4º andar.
            As palpitações aumentam, cenho franzido, a dúvida e a incerteza martelam seu cérebro. Resfolegante chega ao corredor. Divisa a porta ao fundo.
            _ Sala 401. Entre sem bater. Mantenha a Porta fechada. Ar condicionado.  
            É aqui!
            Mãe exemplar. Esposa dedicada. Funcionária Padrão.
            Mulher idolatrada.
            Entra.

            A realidade crua, açoita seu rosto, o chão some sob seus pés, estarrecido, recua pé ante pé, fecha a porta sem alarde e sai.
            O suor encharca, como o calor sufoca. Os pés pesam como chumbo, sobe, cada vez mais, o olhar turvado, o coração querendo sair pela boca; Após uma eternidade, chega ao terraço, arrasta-se apoiado na casa de máquinas, nem mesmo a lufada de vento devolve-lhe a serenidade.
            Vazios imensos. Maquiagem de fantasias. Manequins? Andar...o nada é tudo o que se vê.
            Vozes mudas, línguas travadas. Anéis de fumaça, vapores de espuma. Engatinhar... o nada é tudo o que se tem.
            Solidão em grupo. Quereres.Música quebrada, cristais partidos. Arrastar-se...o nada é tudo o que restou.
            Chega ao parapeito.Sobe. Hesita...lança-se no vazio. Plana por instantes.
            Fragmentos. “Flahs-back” _ Amor chegarei mais tarde, tenho trabalho extra a fazer”, Não hoje vai ter “vernissage”, “ Não estou te evitando,tolinho, é só uma indisposição passageira.
            O chão aproxima-se rapidamente.  
            “Todos os amigos vão, fica chato, não ir “ ‘ Ciúme, bobinho, isso prova que me amas!”
            O baque surdo. Estatela-se de encontro ao solo, murcha como um balão furado. A turba acotovela-se ao redor, corpo grotescamente disforme, donde escorre um filete de sangue do canto da boca.
            A pasta aberta espalha o conteúdo na rua; Um buquê de rosas rubras, um porta-jóias, com a aliança de ouro que seria presenteada, o cartão com breve poesia “Te amo! Lúcia”
            Na mão crispada, o crachá.
                        “Visitante nº 401”

No elevador Lúcia,pensa: Logo hoje, aniversário de casamento, minha irmã gêmea que eu julgara morta veio me visitar, espero que o vestido  que eu tinha de reserva tenha  lhe servido, terei que convida-la para almoçar conosco.
            - Acho que o Gildo não vai se importar
Ao longe o som de uma sirene perde-se, na cidade calada.