terça-feira, 19 de março de 2013

Enquanto a chuva não vem...


















Enquanto a chuva não vem...

Mateio solito ensimesmado de penas
O balé das pitangueiras contraponteia
aos pipilos das aves inquietas.
Sorvo as horas lentamente, na seiva rude das esperas

Enquanto a chuva não vem...

O balido das ovelhas, os  latidos do pastoreio
emolduram à tarde
As folhas secas  redemoinham,
e as salamandras dançam despudoradas e amorfas

Enquanto a chuva não vem...

Greta a terra ávida, sedenta.
A cor da palha guarda resquícios de verdor
O cincerro das tambeiras, nostálgico
O grito dos ta-hãs, o tuco-tuco sincopático ,
transmuta o som dos corredores

Enquanto a chuva não vem...

A taramela ruiu junto ao portão batido na revolta adolescente
Espero a volta um dia para o abraço final
Pois o adeus definitivo ainda espera  na equina
Sonhos almejados e quebrados pelos   planos desfeitos

Enquanto a chuva não vem...

Teus olhos mansos esfunecem na dadivosa bonomia
Preparando o material escolar, cerzindo o uniforme puído
No canto da pasta pedaço de bolo de milho e o suco ralo

Enquanto a chuva não vem...

O sinal da cruz na testa, e o mistério das estrelas.
Ensinando a pescar e dizendo que não há medo
Pois é  só o minuano uivando e tudo estará bem
No dia novo que se avizinha.

Enquanto a chuva não vem...

O mormaço multiplica os trilhos
A roupa larga e os sapatos velhos
A trouxa de roupa no, banco de madeira
O apito silva nos ouvidos, sofrenaço no peito
e ...o Adeus

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