terça-feira, 28 de agosto de 2012

PRAÇA XV Nº 16


Todo mês de março, após a ressaca das férias, quando a vida começa lentamente a tomar conta de nós e o ano finalmente parece que vai deslanchar, uma das tarefas que não se pode abrir mão, para quem tem filhos em idade escolar.É a romaria de pais, levando a tiracolo as famigeradas listas de materiais a serem comprados, a fim de encarar o ano letivo.

Munidos de paciência, tempo, pouco dinheiro, fomos cumprir a gincana de: Pergunta daqui? Especula dali? Pechincha acolá?

Após semanas de intensa aventura, por livrarias, feiras e a grande novidade do momento: As lojas de preço único. Finalmente, quando se pensa que tudo está resolvido...

A pergunta vem, rascante, seca e implacável, no intervalo do Jornal Nacional, no exato momento do ajeitar da erva na cuia.
__ E a mochila, Pai?

Mochila:  serve para causar deslocamento na coluna,carregar livros, cadernos, mini-games, merenda; no caso dos adolescentes o inseparável telefone celular ( que nunca tem cartão e/ou está na caixa postal,e as vezes como certos centroavantes “fora da área de cobertura”), e nos intervalos dos recreios, recheada de jornais serve também de bola.

Isto posto, refeitos do susto , os calos e a bolhas dos pés, já sofrendo de antemão, vamos dormir e ter sonhos coloridos com mochilas, merendeiras, malas e todo o tipo de bagageiro.

Após um dia de trabalho, a caminho de casa, chegamos numa banca de camelôs, com artigos importados, bugigangas “paraguayas”, onde estavam expostas diversas mochilas.

Fomos atendidos por um casal jovem, atenciosos e solícitos, e uma graça de criança que estava no carinho, que chamava atenção pelo intenso azul de seus olhos e os cabelos louros cacheados.

Mas, como filho que estuda pela manhã, e mora dentro da televisão à tarde, se não for mochila do “POWER RANGERS”, não serve.

Voltamos a banca para trocar a mochila. Só que desta vez ao invés do simpático casal com seu lindo bebê, quem nos atende, é um senhor grisalho. Diante da pergunta inevitável, por eles, o surpreso vendedor, nos argumentou que faria a troca da mercadoria, e era proprietário daquela banca naquele local a mais de dez anos, e não conhecia nenhum casal conforme a descrição feita por nós, no que foi corroborado pelo demais proprietários de bancas da rua.

Ainda, sestrosos e incrédulos, fomos abordados por um vendedor de cahorro-quente, que ouvia a conversa:

__ Olha, senhor, um casal com estas características, teve uma banca aqui, há mais ou menos quinze anos, mas foram mortos num assalto junto com seu filhinho.
Pesquisando, nos arquivos da Policia , descobri num jornal de quinze anos atrás, com a seguinte manchete:
CRIME NA PRAÇA
 “Casal de artesões e barbaramente assassinado, junto com seu filho.

     Nas fotos que ilustravam a reportagem, estava o simpático casal, que nos vendera a mochila e seu filho  tinha o sorriso mais radiante, que nunca.
ALVES

terça-feira, 21 de agosto de 2012

ANÁLISE DE POEMAS DE FLORBELA ESPANCA - LETRAS UFRGS



Mentiras

Aí quem me dera uma feliz mentira
Que fosse uma verdade para mim!
J. Dantas

Tu julgas que eu não sei que tu me mentes
Quando o teu doce olhar pousa no meu?
Pois julgas que eu não sei o que tu sentes?
Qual a imagem que alberga o peito meu?
Ai, se o sei meu amor! Em bem distingo
O bom sonho da feroz realidade...
Não palpita d’amor, um coração
Que anda vogando em ondas de saudade!
Embora mintas bem, não te acredito;
Perpassa nos teus olhos desleais
O gelo do teu peito de granito;
Mas finjo-me enganada, meu encanto,
Que um engano feliz vale bem mais
Que um desengano que nos custa tanto !


Análise: Soneto Clássico

1º Quarteto e 2º Quarteto – Rima o primeiro verso e o terceiro verso
 o segundo verso e  o quarto verso  respectivamente
1º e 2º Terceto – Rima o primeiro  e terceiro verso

O poema gira em torno da mentira, engano ,negação do amor. A mulher que deseja o amor mesmo que ele ( o amor) seja através do desengano
A mulher suplicando pelo amor, finge acreditar para a dor ser menos sentida.


Nostalgia

Nesse país de lenda, que me encanta,
Ficaram meus brocados, que despi,
E as jóias que p’elas aias reparti
Como outras rosas de rainha santa!
Tanta opala que eu tinha! Tanta,tanta!
Foi por lá que as semeei e que as perdi...
Mostrem-me o reino de que eu sou infanta!
Ó meu pais de sonho e de ansiedade,
Não sei se esta quimera que me assombra,
É feita de mentira ou de verdade!
Quero voltar! Não sei por onde vim...
Ah! Não ser mais que a sombra duma sombra
Por entre tanta sombra igual a mim!

           

Análise:  Soneto Clássico

1º Quarteto e 2º Quarteto – Rima o primeiro verso e o terceiro verso
 o segundo verso e  o quarto verso  respectivamente
1º e 2º Terceto – Rima o primeiro  e terceiro verso

Saudosismo, através do despojamento de vestes e jóias. A vontade de conhecer o seu verdadeiro pais. A dúvida que assombra se este pais é real fictício, ou apenas fruto da saudade e querer exacerbado
             A questão feminina está no vocábulo “infanta”, herdeira do reino

EU...
Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada... a dolorida...
Sobra de névoa tênue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...
Sou aquela que passa e  ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber por quê...
Sou talvez a visão que alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra ver,
E que nunca na vida me encontrou

Análise: Soneto Clássico

1º Quarteto e 2º Quarteto – Rima o primeiro verso e o terceiro verso
 o segundo verso e  o quarto verso  respectivamente
1º e 2º Terceto – Rima o primeiro  e terceiro verso

A primeira estrofe do soneto é de uma tristeza e desencanto atroz, a desesperança segue no decorrer a maldizer o destino e a sorte, tendo como conseqüência a morte. Chega a tornar-se invisível, sua negação do “ser”, até seu pranto não tem explicação, tantas são as dúvidas que nos temos durante a vida , e passamos a questionar a efemeridade da existência.

ALVES

domingo, 19 de agosto de 2012

ANÁLISE DE CONTOS DE MIGUEL TORGA - LETRAS UFRGS


O REGRESSO




A cena inicial do conto retrata em minúcias, o despertar de uma pequena aldeia. A fumaça da lareira da casa de um morador, João Rã, madrugador da povoação, as vozes confusas da Babel animal, e dos portais das casas vão surgindo caras humanas e cristãs, para encarar nova romaria de suor.
Ivo sentado numa fraga de granito olhava e analisava aquele despertar, com o olho que restava ia fotografando o casario e a vida da terra onde nascera. Neste ponto há metáfora que hoje ele vê as coisas mais nitidamente que outrora, quando possuía os dois olhos, e não conseguia juntar num mesmo amor o execrável e o santo. O lamento do burro latoeiro, desperta do torpor e faz irromper uma lágrima furtiva por seu rosto.
Tinha consciência que há muito morrera para a aldeia. A mãe, Maria Torres, ainda trajava luto, mas acostumara-se à tristeza de tê-lo perdido, o pai ensimesmado, engolira o desespero, envelhecera vários anos e o esquecera também, as irmãs após o luto carregado e choro convulsivo, agora vestiam blusas claras e namoravam alegremente.
Partira para lutar uma guerra que não era a deles, matando sem razão, atraiçoara milênios de fraternidade, de paz e entendimento.
Nesta parte do conto, quando é interpelado pelo pequeno pastor – Você quem é? – Nem ele mesmo sabia, coberto de cicatrizes, meio cego, maneta, coberto de sangue e remorsos. O seu próprio trajar retratava a miscelânea de peças de roupas – calça de bombazina,blusa americana, gorra basca e alparcatas galegas. Nada o desiludira mais que nem os próprios olhos da inocência o reconheceriam.
Lá na fronteira onde lutara, não o interpelaram, passou a ser um número, um autômato, ao bel prazer de seu comandante. A porta de regresso a aldeia lhe era fechada na cara, justamente por uma criança , que  no seu subconsciente ainda julgava sê-lo, e no momento em que o menino vaticinara, que ele dava uns ares de um rapaz da aldeia que morrera, “que tinha mesmo esse nome, fugiu de casa, foi para a guerra e ficou lá”.
Sobre a indagação de que terra é ao menos! Não possuía resposta , pois era mais difícil saber quem era, não se localizara no mundo.
Constatou que os sonhos de retorno, as lembranças da infância estavam inexoravelmente perdida, e a aldeia agora desperta e rumorosa, era inacessível, e ali não havia mais lugar para ele, voltou-lhe as costas vencido e partiu.



Comentário: O Ponto de contato do texto com a Bíblia está na Parábola do filho pródigo, que parte após receber sua parte na herança, gasta tudo em festas e prazeres mundanos, e após regressar, pobre, maltrapilho e faminto e recebido com festas e júbilo. Ivo, ao contrário partiu para lutar uma guerra, que não sabia , nem o porquê e suas causas, e ao retornar á sua aldeia, não é reconhecido, seus pais e irmãs já o esqueceram, apenas uma pequena esperança nasce na indagação do pequeno pastor, que desvanece na afirmação que ele não pode ser o moço que partiu, pois ele morreu na guerra e ficou por lá. Para Ivo talvez essa solução fosse a melhor. Estar vivo para ele significava a morte que vinha através do esquecimento e desprezo.
    







A FESTA




As três personagens principais do conto são, o pai, a mãe e a filha, e na parte inicial do conto é traçado o perfil e os objetivos que cada um tinha na festa e na procissão de Santa Eufêmia. O Nobre tinha contas a acertar com Marcolino, que o chamara de covardola , a mãe Lúcia pagar a promessa que fizera por causa do ferrujão dos bois, a filha Otilia era passar a noite no arraial, a dançar com o namorado. Cada um dos três dera um jeito de conseguir dinheiro extra de maneira que os demais não soubessem, o pai vendera bois  por dezoito notas, e escamoteara uma da conta, a mãe vendera centeio ao padeiro, e a filha também conseguira dinheiro através de acerto com um vendedor de vinho.
(Na verdade estas pequenas “desonestidades” eram bem toleradas pela família que fazia vistas grossas aos deslizes alheios).
Na festa o divino e o profano dão ali as mãos, num amplo entendimento. No Local cada um vai à busca de seus intentos, a moça encontra Leonel, seu namorado e bailam juntos e namoram, o Nobre encontra seu desafeto e a mãe ajoelha-se ao pé da Santa a rezar.
Ninguém tinha tempo para cuidar dos outros. Cada um tratava de si, dos seus amores, da sua fé, de seus ódios.
O cenário pós festa, é descrito com riqueza de detalhes, corpos pelo chão adormecidos, crianças, velhos, enfim o caos, a festa da comilança e da bebedeira.
O conto fecha com o trio se encontrando no alvorecer, com suas penas atendidas e realizadas, mas com desencantamento e desconforto, por não ter saído como planejado, mas restava ainda a esperança de continuar, e arranjar novas forças para gozar a festa que tinham esperado o ano inteiro.
Comentário: Este conto nos remete aos rituais católicos herdados por nós dos portugueses, o divino e o profano, o fim de festa com seus pormenores, nos remetem á lembrança de Festas e Romarias (vide Navegantes, Medianeira (RS)), onde estas imagens que o conto nos joga e mostra, é tão palpável, que não fica devendo nada à realidade.
ALVES

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

ESTRELAS


Lá vem eles
dos becos, dos guetos
moleques esqueletos
bons de bola, gingando
sambistas pacholas

Lá vem elas
das ruas, vielas
cinturas pequenas
cabrochas morenas


Encontram-se no largo
Cheiram, fumam
Cantam, batucam
Sócios no vício

Crianças... apenas

Nome: Filho das ruas
Idade: qualquer uma entre zero e quinze anos
Cor: Todas imagináveis (tendência para a roxa...
de frio ou amarela de desidratação)
Sexo: ambos, a indiferença é a mesma
Mãe : Desiludida da Silva
Pai:  Zé ou João, alguém  que passou (alcoólatra  desconhecido)
Cabelo: Desgrenhado, sujo, cheio de piolhos
Olhos: Esperançosos, fugazes, remelentos e opacos de fome e vício
Nariz: Quebrado, ranhento e cheio de feridas
Boca: Torta, lábios grossos, segurando baganas de cigarros
Dentes: Poucos, cariados e amarelados pela nicotina
Profissão: Pivete
Esporte: Quebrar vidraças, correr da Policia
Prato predileto: Restos de lixo
Sapato: Quando tem, é roto e seu couro com a sola rachada
Cama: As ruas da cidade, sarjetas e esgotos
Cobertas: As manchetes do mundo e a lua
Futuro:  Incerto
- Algumas pitadas de marginalização, entradas em entidades de bem-estar; sevícias e estupros, a ira despertada e ninguém segura mais. Ora quem se importa com esta pestinha, meio aborto mal sucedido
-  Que se Foda!!!
-  Venderá jornais, balas, doces e nos sinais quebrará o pára-brisa de carros, roubará bolsas de senhoras, “damas da alta sociedade”,escandalizadas.A inocência será de imediato trocada pela  violência     que faz parte da neurose urbana

CARTA A UMA AMIGA


Amiga!

Faz tempo que a gente não se vê, não conversamos. Por onde andas não sei, e, principalmente o que fazes?


Se estás magoada, eu tento compreender;



Se estás triste, eu vivo esta culpa;



Se estás feliz, é minha culpa igualmente;
  
Olha! O bar continua no mesmo lugar,os garçons, as cadeiras, os infelizes de sempre!
  
Só o cantor é que não tem jeito, continua cada vez mais desafinado.



Esses dias, vi teus olhos passarem apressados, e mais esvoaçante do que nunca estavam teus cabelos.
O medo, o ridículo, falaram mais alto e eu baqueei, corri, te alcancei, e ao virar-te pelos ombros, eras tão desconhecida que ••• chorei.
Fiz um mapa mental, de teu endereço e perdi nos descaminhos traçados.
Continuo como libriano legítimo, navegando entre o desespero e a euforia, entre a treva e a luz, entre o tudo e o nada, na eterna luta pelo equilíbrio.
Sei que os tempos estão difíceis, a luta diária para se garantir um lugar ao sol é ferrenha e hercúlea.
E no Panorama da vida tento encontrar a Passarela para caminhar rumo a teu sorriso.
Conseguirei?
Numa autocrítica ácida, concluí que preciso resgatar coisas boas do passado.
Uma delas é você! Se é que me permites a ousadia.
Na esperança de atingir você,fiz coisas incríveis, joguei com sentimentos, menti! O inferno se abriu sob meus pés, a implorei aos céus procurando Paz.
Hoje te retrato, mas não sinto no olfato teu perfume de névoa, e me perco sem tato, contigo a meu lado, pensamento fugaz, distante e inalcançavel.
Se fosse na época da cegueira, diria que fora uma surpresa grata, uma dádiva, ou qualquer adjetivo usado para expressar a emoção.
Hoje com os pés plantados (?), vejo que mais uma vez fui usado como escudo para tuas manobras dissimuladas.
Quando vais mostrar verdadeiramente a tua personalidade; ou será que já sei como és, e me recuso a enxergar.
Tantas bobagens ditas, juras eternas, tudo inútil e apropriado para nossos intentos.
Foi muita covardia de nossa parte, mas pouco importa. Éramos felizes, mesmo por instantes.
Quanta sacanagem fizemos um para o outro e pagamos em tempos opostos, a peso de ouro.
Qual dos dois é o mais culpado? Não sei! Nos entredevoramos e fomos levados pela turba da insensatez.
Quantas noites passadas em claro, quantas neblinas, chuvas e solidão agüentamos sem pedir arreglo.
Tudo fizemos para alcançar a negação, voltando sempre ao atracadouro inóspito, das marés baixas na paixão fulminante, da cegueira consciente e vã.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

ENTRE OS MUROS DA ESCOLA ( Resenha do Filme)


                  

      O filme rodado no ambiente escolar, Sala de Aula, Sala dos Professores, Gabinete do Diretor, Sala do Conselho e algumas locações no pátio, nos mostra o universo de uma escola francesa, onde o grupo de alunos entre 13 e 15 anos, portanto adolescentes com seus anseios, medos, incertezas próprias dessa fase da vida, composto por negros africanos, latino-americanos, asiáticos e franceses.
                  O professor  e disciplinador François Marin, interpretado por François Bégauden, que é também autor do livro homônimo, no qual o filme é baseado, tem como meta  fazer com que os alunos, além de aprenderem o idioma francês, comportem-se como uma turma homogênea, tarefa inglória e de difícil execução, visto a multiplicidade comportamental da classe, pela formação cultural, econômica e, sobretudo racial.
              A critica especializada nos aponta como ponto forte do filme a linguagem – e neste particular- somos levados a concordar. Provêm da improvisação os melhores momentos do filme.
             Neste raciocínio vale a pena destacar as atuações da personagem Khoumba, negra, é uma aluna chamada de insolente por se recusar a atender uma ordem do professor.Esmeralda, mestiça, que bate de frente com o professor, participa do Conselho de Classe, e sobretudo há a atuação do aluno Soyleumane, um garoto problemático que se indispõe com o professor e seus colegas.
                    A realidade francesa do filme mantém um distanciamento em relação ao Brasil, seja pelo xenofobismo exacerbado, contra imigrantes ou descendentes de ex-colônias, com a aceitação e até alguma simpatia por quem tenta assimilar a cultura francesa.(Caso do Aluno Wei de origem chinesa, quando seu pai é preso por permanência ilegal em Paris e corre o rico de ser deportado para seu país de origem , o professores temem pela perda do aluno).
               O ponto de contato do filme com o modelo de escola brasileira, está o conflito entre professor e alunos, que questionam e são agressivos, onde é comum o relato de desrespeito ao mestre.
O conflito do professor que para impor sua autoridade leva um aluno (Soyleumane) a Conselho de Disciplina, mesmo sabedor que este ato será irreversível e virá acarretar a expulsão dele e seu degredo e marginalização.
           O filme nos leva a refletir sobre o papel do professor, na sociedade atual, como condutor de destinos através do aprendizado, mas acima de tudo o poder que nos é entregue sobre destinos e vidas, devemos ter essa conscientização e não perder de vista o foco do que podemos e somos capazes, pois de nossas decisões dependerá o fim dos planos ou a realização de sonhos.
ALVES

terça-feira, 14 de agosto de 2012

DICAS E MACETES PARA DECLAMAR POESIAS


A poesia para mim é uma segunda pele...declamar é vida “
Nara Elizene Porto Alves - Declamadora

               DECLAMAÇÃO DE POEMAS
      A poesia é uma das mais completas formas de expressão artística.
Ela nos fala de sentimentos, de acontecimentos, de pessoas, de lugares, enfim nos fala de conhecimentos.
     A declamação é a verbalização ou interpretação da poesia, ou seja: o declamador dá voz ao autor da poesia.
    Ao pretender declamar, uma pessoa tem que tomar alguns cuidados, sem os quais corre o risco de cometer erros, que podem comprometer a qualidade artística de seu trabalho.


                 ESCOLHA DO POEMA
     O primeiro cuidado que o declamador deve ter é com relação à escolha do poema. Se o mesmo estiver na 1ª pessoa do singular ou do plural, deve ser compatível com a situação do declamador: sexo e idade.
                  COMPREENSÃO
    O declamador deve compreender perfeitamente o que está dizendo, isto é conhecer o poema, saber o que significa cada termo do poema, bem como sua correta pronúncia. Também dever entender a pontuação, para poder fazer as pausas adequadamente. É comum ver-se um declamador recitando um poema verso a verso, quebrando o sentido da frase, ou da expressão.
                    MEMORIZAÇÃO
   Memorizar um poema, não é apenas decorar os seus termos. È recomendável que a memorização ocorra simultaneamente com a interpretação. Outro detalhe importante é a memorização gradual, ou seja, memoriza a 1ª estrofe, depois a 2ª, antecedida da 1ª, depois da terceira, antecedida da 1ª e das 2 ª e assim sucessivamente. A tentativa de memorização simultânea de todas pode ocasionar o esquecimento de parte de parte e daí não saber como continua.
                   POSTURA CÊNICA
 Por postura cênica entende-se a gesticulação que deve acompanhar a recitação do poema. Os gestos não devem ser muitos, nem exagerados, devendo ser coerentes.
                   INTERPRETAÇÃO
    É na interpretação que o declamador tem a oportunidade de mostra a sua arte. A interpretação deve ser comedida, porém não pode ser pobre.
                   IMPOSTAÇÃO DE VOZ
   Impostação de voz é do que a interpretação de um poema, sob o aspecto da voz. Deve ser observado com muito cuidado o texto, para não se dramatizar passagens neutras, ou não apresentar de maneira  neutra passagem dramáticas.
                   IDENTIFICAÇÃO DO POEMA
    Necessariamente tem de ser indicados o nome de seu autor e o titulo do poema  , antes de iniciar a declamação. Porém não os dizer já declamando.
                   AGRADECIMENTO
  Alguns declamadores ao terminar sua interpretação acrescentam agradecimentos ou a expressão!”Tenho dito”. Não cabe. Para indicar que terminou sua recitação o declamador deve usar um pequeno estratagema, que pode ser diminuir o tom da voz, levantá-lo, se couber, fazer um gesto de cabeça ou de mãos.



ALVES

NÃO SOU QUALQUER UM, SOU UM CIDADÃO...

Soco  na boca do estômago
Rosto sujo, sem dentes, traços de ébrio evidenciado
Olhar penetrando na câmara, esparramando nos fios
Quebra a tela, caindo em nosso  colo
Tabefe com luva de pelica

Não sou qualquer um, sou um cidadão...

Moças loira  entrevistadas, bem fornidas,coradas
Belos espécimes, da raça ariana
Como se atrevem, morar no nosso quintal
Sujar nossas ruas... sumam párias

Não sou qualquer um, sou um cidadão...

Chutem suas suas bundas, quebrem suas costelas
Atirem-nos dos viadutos

“Este é um país livre, este é um país livre”

Muitos não dormiram, com esta frase martelando

Não sou qualquer um , sou um cidadão

ALVES

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

A MENINA DAS ROSAS


Rosa,  era seu nome
rosas, vendia
Rosa, espinhava compaixão
Paixão, por rosas havia
e Rosa, sorria, então!


Rosa, nas mãos trazia
calos, espinhos, lágrimas e rosas


Até, Rosa que vendia rosas
nem rosa era, era botão


Cara suja, roupa esfarrapada
Bonita, sofrida

Rosa menina! Rosa criança.
ALVES
(Naquelas noites em que não havia Conselho Tutelar, só vadias,bebados e Policia Militares, tentando pôr ordem no caos) 

DEVER



Ventava, como ventava. As frestas largas das paredes do barraco deixavam entrar luz e frio, a garoa fina enregelava o ínfimo dormitório. João acorda num sobressalto, aos bocejos, espreguiça-se, olha de soslaio, o filhinho que ressona no berço de madeira carcomida, agarrado ao ursinho de pelúcia, presente esquecido de um Papai Noel de outrora.

  Veste devagar, peça a peça do fardamento, retira o capote (o cobertor) do filho, passando o guri para junto da mãe. No radinho de pilha, ouve a previsão do tempo. “ __ O dia será ventoso e frio.” Sob a luz bruxeleante da vela lava o rosto na bacia de plástico depositada sobre o caixote de madeira que serve de mesa. Água encanada e luz elétrica, são luxos, para quem vive em condições desumanas, e, sobreviver é dever.

  Maria dorme, grávida, oitos meses, pés inchados, companheira de todas as horas, faxineira para ajudar no soldo parco. Beija-os em silêncio, suspira resignado e parte para luta, fechando a porta suavemente, para não acordá-los. No ônibus, os pensamentos fluem:

  “ __ Olha companheiro, as coisas vão melhorar, o governo tá atento e o comando preocupado.”

  “ __ Essa estória meu pai contava, e na época de meu avó, não foi diferente.

  Salta na parada. Entra correndo no Batalhão. No estacionamento elitizado os carros importados e/ou nacionais do ano, pertencentes a seus superiores hierárquicos reluzem na tênue luz do amanhecer. Senhores estes, cujo as principais preocupações são: A marca e a cor do próximo carro, onde passar as próximas férias (Cancun,Bariloche) - Que dúvida cruel-, ou qual a função gratificada de maior valor a ser incorporada nos seus vencimentos, e com a própria saúde que pode ser abalada ao sair do conforto de uma sala com ar condicionado e receber uma lufada de vento no rosto.

  O amor pela farda nasceu com João há 34 anos, quando ficava na fila da subsistência, para comprar com “bônus”, azeite e café a mais, para depois vender por menor preço, ( o famoso “touro” no jargão policial), a fim de sustentar o vicio de cigarro e bebida do pai,  brigadiano também.

      No parque de armas, retira o armamento e o equipamento para controle de tumulto, e embarca junto com seu pelotão no primeiro dos dois caminhões-choque estacionados nos pátio, o outro pelotão executará uma missão de rotina.

      Os meios de comunicação noticiam há dias, mais uma invasão de propriedades rurais por colonos sem-terra. E, por decisão judicial foi determinada a reintegração de posse ao proprietário.

      A missão de seu pelotão transcorre com êxito, após intensa negociação, os colonos cedem, e deixam a área ocupada sem resistir. João só pensa em retornar para casa, rever sua família e descansar. Na saída do Quartel cumprimenta um colega, e travam breve diálogo sobre as tarefas desenvolvidas:

      __ E aí, João! Como foram?
      __ Bem. Sem novidades. E vocês, José?
      __ Deu um pouco de trabalho, tivemos que usar a força.
      __  É a vida, colega. Bom descanso. Tchau.
      __  Tchau, cara.
     
      No caminho de volta, para no boteco da esquina, onde o dono lhe vende fiado, compra uma garrafa de cachaça, coca-cola e balas para o piá, mesmo com roupa encharcada, assobia alegremente.


      Porém... sempre há um porém, ao dobrar a esquina. Para de chofre, leva as mãos aos olhos e no lusco-fusco da noite que  se avizinha não crê no que sua vista enxerga. Onde de manhã era um conglomerado de barracos, não passa de um monturo de escombros, que as máquinas da Prefeitura da Administração Popular botaram abaixo, com o apoio em força de um Pelotão da PM.

      Vislumbra a sombra de dois vultos, aproxima-se lentamente: Maria está sentada sobre uma trouxa de pano com as roupas que conseguiu salvar. O menino no colo, olhar perdido no vazio, em choque.

      Ele pousa a mão sobre o ombro da companheira, chora copiosamente, o sal de suas lágrimas sulcam o rosto esculpido em granito de ébano, o João que desaloja colono sem-terra, é João da favela, despejado por ser sem-teto.

      Um raio risca o horizonte, e no breve clarão, há tempo para ler na placa de prata, com o brasão governamental timbrado, quase submergida, em meio ao lodaçal,

       “Honra ao mérito por bravura.”


ALVES

LIÇÃO CANINA

Tenho uma cadelinha podlle  e na última ninhada nos presenteou com dez lindos cachorrinhos, pois foram doados alguns e outros morreram, restando conosco somente um que chamamos carinhosamente de "Fiel", ficam soltos nos pátio, na garagem e fazem muita bagunça. Seus potes de comida são respectivamente um azul e outro rosa, pois a "Pita", só come depois que o Fiel comer, se tem pouca comida ela deixa prá ele, enfim Mãe zelosa. Piegas. Não. Trabalhei quase trinta anos na rua e vi muitas mães humanas, abandonarem seus filhos em cestas de lixo, pais e tios abusarem de crianças ...e agora olhando pela janela vejo os dois dividindo a mesma coberta. Pois: Quanto mais pretendo conhecer o ser humano... mais aprendo com os cachorros.