domingo, 26 de maio de 2013

E AGORA?


O que faço, para te esquecer?

Cada olhar, gesto ou palavra
Cheiros,perfumes,músicas
Sussuros,murmúrios,lamentos
Te trazem prá mim

O que faço, para te esquecer?

Casamentos,momentos,relentos
Discussões,ambições,paixões
Brigas,intrigas,fadigas
Te levam de mim

O que faço, para te esquecer?

Bares,luares,cantares
Carnavais,sinais,teus aís
Te trazem prá mim

O que faço, para te esquecer?

Se tudo acima dito
Desdigo esperando em vão
Lembrando de ti,enfim...
JOAO DE DEUS VIEIRA ALVES

sábado, 18 de maio de 2013

Fragmentos


Sempre tive medo de agulhas, quando brincava de cavalinho nos travesseiros colocados na janela, desce daí guri, vou contar pro teu pai quando ele chegar, pois meu sonho era ter um cavalo igual aqueles que via puxando os canhões no desfile militar, mais tarde fiquei sabendo serem mulas e os canhões não eram de brinquedo, os arreios não estavam firme no parapeito e caí de cabeça no chão, entre os galhos das roseiras; resultado são três pontos sobre o olho esquerdo, na verdade ao todo são nove, mais três quando cabeceei a nuca de um zagueiro na decisão de futebol, vila x vila, quando na escaramuça depois do jogo, desmanchamos as goleiras de taquaras e na pressa de recolher as roupas , veio junto a calça vaqueira, orgulho do melhor atleta deles e hasteamos no eucalipto mais alto do campinho onde atuávamos,  e depois incendiamos num ritual de guerra tal qual os índios que víamos no cinema nas matinés, moço o pai disse pra eu dizer pro senhor que eu sou filho dele aí o senhor que conhece ele deixa eu e o meu irmão entrar de graça que depois ele fala com senhor moço, tá bom?, uma judiaria sei disso hoje, pois naquele inverno rigoroso da fronteira, o pobre ia pra escola só de bermuda e chinelos de dedos, tão ou mais pobre e órfão como muitos de nós, e outros três pontos lembrança de uma garrafa de uísque barato que estilhaçou, quando os  “homi” invadiram o cabaré, pra ver se tinha “de menor”, não adianta a gente sabe,  tapa na cara, chute na bunda, depois eu volto neguinha tô trabalhando, na parede vagabundo, não maloca o bagulho porra!, fui  escondido pelas putas debaixo da cama, todo mijado e chorando, tomei muita água de melissa para me acalmar, tudo isso, quando precisou costurar, era necessário anestesia com injeção dentro do corte aberto, precisava? Vai vendo. Levei facada, que ficou a milímetros da jugular, pois se não é o bêbado  protetor que estava em pé no corredor do ônibus, que com sua voz embargada cantava só você que me ilumina meu pequeno talismã  e faz de conta que sou o primeiro e um homem de moral não fica no chão  ,Adeus Tia Chica, fomos recebidos à bala, porque vago não sesteia nem faz pausa para cafezinho e baixar policia conta ponto para os manos, ei tio liga pra FASE e avisa que vou tá lá antes do meio dia prá garantir a brita,  e os incêndios, bem estes não avisam, quando começam e nem onde vai ser, e os bombeiros experientes olhavam pra ele e apagavam com os olhos e  mesmo que tu tenha acabado de sentar  a mesa, pedir uma cerveja gelada  porção de fritas e picadinho, mete-se a cara e vamos em frente, tudo isso sai no mijo, mas agulha doutor, agulha não, pode ser antibiótico via oral? Gargarejo de malva morna, com sal e comprimidos, cambará, ou aquelas xaropadas que os jujeiros vendem? Demora,sim,demora.eu aguento, mas injeção,não, isso não, pois é quando se larga do serviço tudo que se quer é entregar o armamento tirar o fardamento e sair correndo para casa ,o colete salva-vidas, que após horas com o calor escaldante, parece que faz parte do teu exoesqueleto, e o cheiro é coisa que impregna e tu leva anos até ser desfeito,. O destino,ah,o destino, nos prega peça e ver outro colega de farda chorando te cala fundo, porque nossas vidas são espelhadas,qual foi? Que houve?Minha filha, precisa de transfusão de sangue, ninguém lá em casa é compatível, no setor de pessoal os doadores foram doar para um amigo da unidade que ajudou a consertar a viatura, aquela que  o motorista tira a bateria do fusquinha dele e coloca para não ficar a  pé no setor, é raro eu sei, AB positivo; é o meu digo de supetão, e o senhor doaria? Claro, respondo, já me cagando de medo da agulha. Tive Natais esquecíveis e outros memoráveis , mas o presente mais singelo e hoje amarelado e com pátinas é um cartãozinho com letra tremula, com desenho de um magricelo fardado e a mensagem . AO MEU PAPAI NOEL DE SANGUE.”BIGADA”

segunda-feira, 13 de maio de 2013

MADRUGADA e COVIL



MADRUGADA 

No meio desta cidade que pulsa ao redor

A saudade dói e corrói como ácido
O vento da madrugada uiva nos meus ouvidos,
batendo de encontro ao rosto
Aguçando o sexto sentido
Máscaras de granito e ferro
Luzes frias e insensíveis balouçam
Passos ressoam na calçada
Risos vagos e ilusórios
Mulheres vendem o corpo por migalhas de amor
Seres indefinidos e tristes
A marginália circula livremente
O racismo salta aos olhos dos homens da Justiça
E, ser negro é crime!
A cor da pele o estigmatiza
A chacota e o ridículo doem mais que mil chibatadas
ou ferro ardente em brasa
Os bêbados vomitam verdades no rosto da sociedade perplexa
Os órfãos do destino imploram pão
ao cavalheiro que passa impassível e célere
Moedas piedosas caem em minhas mãos
Palavras de escárnio e "conforto"
Sou mais um inválido
Cego ... e terrivelmente só



COVIL



Quando os homens abandonarem
o aconchego das cobertas e a comodidade do cansaço
descerem das camas quentes, sentando na beira da calçada
nas madrugadas geladas para admirarem a lua e as estrelas
talvez, sejam mais felizes

Mas, infelizmente não é assim
somos filhos da pressa apressada
suamos enlatados nos coletivos
brigamos todos por um lugar ao sol

Minha casa já não me pertence
meus filhos não conheço-os
amor feito às pressas
sem gozo, sem calma
obrigação, nada mais!

As ruas passam, os meses, os anos
continuamos na mesma
as luzes dançam em ritmo acelerado
Metrópole, Megalópole
qual lobo ferido e acuado
perdido na selva medonha
gravata e terno de aparências
relógio-ponto, senhor implacável
café amargo, antídoto sereno
cercas e muralhas de papéis-oficio
Nós lutamos contra o tempo.

JOAO DE DEUS VIEIRA ALVES












sábado, 11 de maio de 2013

O Visitante




            Ele amanheceu sozinho e atônito. O amargo na boca, a sensação de corpo pesado, o sonho fora tão real, e o cinzeiro transbordando, as taças de vinho no tapete junto às almofadas amarfanhadas, lhe deixam mais confuso.
            O prédio fica na rua mais movimentada da grande metrópole, um arranha-céu imponente, dominando a paisagem. Destaca-se dos demais, por sua arquitetura futurista.
            Hermenegildo Dantas caminha pensativo, sorumbático, sozinho em meio à multidão que o cerca, suando desconfortável, dentro do terno de grife famosa e gravata de seda italiana, a mão gordurosa, quase deixa escapar a pasta de executivo abarrotada, sentindo os espinhos furar o papel celofane e fustigarem a outra mão.
            Fogo ardente! Queima o peito. Adrenalina insuflada. Correr...o nada é tudo que se quer.
            Adentra o  prédio, pára quando vê o homem de terno e camisa preta. Deve ser algum novo representante comercial, que fica tomando o tempo dos médicos, atrasando a consulta dos pacientes.Pensou..
            Na recepção, o guarda uniformizado lhe pede a identidade, ato continuo, apanha sob a mesa e entrega-lhe o crachá de visitante. Despreza o elevador, sobe pelas escadas, afinal irá no 4º andar.
            As palpitações aumentam, cenho franzido, a dúvida e a incerteza martelam seu cérebro. Resfolegante chega ao corredor. Divisa a porta ao fundo.
            _ Sala 401. Entre sem bater. Mantenha a Porta fechada. Ar condicionado.  
            É aqui!
            Mãe exemplar. Esposa dedicada. Funcionária Padrão.
            Mulher idolatrada.
            Entra.

            A realidade crua, açoita seu rosto, o chão some sob seus pés, estarrecido, recua pé ante pé, fecha a porta sem alarde e sai.
            O suor encharca, como o calor sufoca. Os pés pesam como chumbo, sobe, cada vez mais, o olhar turvado, o coração querendo sair pela boca; Após uma eternidade, chega ao terraço, arrasta-se apoiado na casa de máquinas, nem mesmo a lufada de vento devolve-lhe a serenidade.
            Vazios imensos. Maquiagem de fantasias. Manequins? Andar...o nada é tudo o que se vê.
            Vozes mudas, línguas travadas. Anéis de fumaça, vapores de espuma. Engatinhar... o nada é tudo o que se tem.
            Solidão em grupo. Quereres.Música quebrada, cristais partidos. Arrastar-se...o nada é tudo o que restou.
            Chega ao parapeito.Sobe. Hesita...lança-se no vazio. Plana por instantes.
            Fragmentos. “Flahs-back” _ Amor chegarei mais tarde, tenho trabalho extra a fazer”, Não hoje vai ter “vernissage”, “ Não estou te evitando,tolinho, é só uma indisposição passageira.
            O chão aproxima-se rapidamente.  
            “Todos os amigos vão, fica chato, não ir “ ‘ Ciúme, bobinho, isso prova que me amas!”
            O baque surdo. Estatela-se de encontro ao solo, murcha como um balão furado. A turba acotovela-se ao redor, corpo grotescamente disforme, donde escorre um filete de sangue do canto da boca.
            A pasta aberta espalha o conteúdo na rua; Um buquê de rosas rubras, um porta-jóias, com a aliança de ouro que seria presenteada, o cartão com breve poesia “Te amo! Lúcia”
            Na mão crispada, o crachá.
                        “Visitante nº 401”

No elevador Lúcia,pensa: Logo hoje, aniversário de casamento, minha irmã gêmea que eu julgara morta veio me visitar, espero que o vestido  que eu tinha de reserva tenha  lhe servido, terei que convida-la para almoçar conosco.
            - Acho que o Gildo não vai se importar
Ao longe o som de uma sirene perde-se, na cidade calada.


quinta-feira, 9 de maio de 2013

PRÉ- CONCEITO



PARTE UM
Entro esbaforido no elevador do prédio do curso pré vestibular,após subir correndo três quadras em aclive, antes de solicitar o número do andar, com a mochila às costas, abarrotada de livros, a ascensorista, tentando ser cordial , fala:
  - Que bonito, o filho chegou atrasado, e o pai veio trazer a mochila.
   Já com o fôlego parcialmente recuperado , e a dor no peito minimizada explico que sou eu o estudante,com o pé na saída do elevador.
  - Eu também tenho um irmão que era vagabundo, e resolveu estudar depois de velho.
    Ecooa pelo corredor, a observação da ascensorista.
   
PARTE DOIS
1ª Pessoa - Silêncio quero ouvir a noticia sobre sobre este atropelamento e fuga, a minha filha está envolvida.
2ª Pessoa - Coitada ! É a motorista que fugiu ou a moça atropelada.
1ª Pessoa respondendo: Não! Ela  é a reporter ....(ui).
PARTE TRES
 O Estafeta Negro entrega o documento no protocolo, e ouve a queixa da atendente Branca , sobre problemas urinários e cistite.

 Estafeta Negro: Vá ao hospital de Clinicas e fala com a minha filha ela trabalha lá.
 Atendente Branca: Ah! Ela é recepcionista ou trabalha na marcação de consultas?
 Estafeta Negro: Não! É a Doutora Vitória da Silva, Professora Doutora  , Mestre em Urologia, em Harvard. Bom Dia. Tóimmmmmm
 

terça-feira, 7 de maio de 2013

Froid explica



          Cuidado, mas muito cuidado mesmo ao emitir conceitos definitivos, pois corremos o risco de mais cedo ou mais tarde sermos vitimas de tais colocações (sic).
            Nos bancos escolares das instituições militares, os instrutores são nomeados por sua competência e amplo domínio dos assuntos afins.
            Pois bem, tínhamos um instrutor de Legislação de Transito que era o “cara”, o kid, mas quando enveredava para área da  psicologia ai ele se perdia e eram os momentos mais hilários da aula. O “start” para tal relato, dá-se no momento que a principal causa de perturbação do sossego alheio são esses famigerados carros rebaixados, som no talo, musica de péssima qualidade, geralmente só o motora, ou por outra cheio de cara, sem uma mulher, e nestes tempos do politicamente correto, não se pode nem coloca-los no portas malas a fim de refletirem e escutarem melhor os seus “hit” ate sangrarem pelos ouvidos  com os tímpanos estourados.Mas sigamos...
            O nosso famoso instrutor ao exemplificar casos das verdadeiras barbaridades cometidas nas ruas ceifando vidas, foi buscar na sexualidade razoes para justificar esse mecanismo de compensação, afirmando que muitos motoristas, tem no carro representação fálica, ou seja , quanto maior o carro, camionete ,menor o tamanho do membro sexual. Deixemo-lo explicar “ Olha aqui gurizada, estes caras com som alto , camioneta, tem tudo o pau pequeno , isto quando não forem broxas”
            Belo dia ele chega atrasado e adentra o pátio, dirigindo uma flamante camioneta cabina dupla, musica gauchesca muitíssimo  alta, e não tinha como escapar, o único jeito era passar defronte a tropa que estava em forma, sendo pastilhada pelo disciplina do curso.
            Na sala de aula aquele silencio sepulcral , ele com sua tonitruante voz de trovão, sem ao menos dar bom dia, lascou “___ Nem vem seus “fiadaputas”, sei o que vocês estão pensando , este carro não é meu , é da minha mulher, o meu é um “Uninho”, todo fodido que nem radio tem”