quarta-feira, 31 de agosto de 2016

ESTÁTICA


A onda do mar, na tela do quadro
O grito esculpido na estátua de pedra
Os aposentados junto a cancha de bocha
O trânsito na hora do pico
A bóia n’ água, esperando a fisgada do peixe
O sol mormacento no asfalto escaldante
O coração no susto súbito
A mão espalmada no pára-brisa do ônibus
A bola na marca do pênalti
O homem do crucifixo na parede
O navio atracado no porto
.......................
Tudo está parado, como o poeta a suspirar,pela musa ingrata.
JOAO DE DEUS VIEIRA ALVES

terça-feira, 30 de agosto de 2016

POÇO (Drogas Caminhos sem volta ?)

POÇO (Drogas Caminhos sem volta)



Olhos injetados de sangue, cegos e parciais
Brilho sinistro, zombeteiro
dentes escuros, arreganhados
veias à mostra
cérebro pulsando, em decomposição
cabelos arrepiados, espicaçados
ouvidos surdos aos clamores justos
retrato falado da sociedade
quando vista no espelho da nudez diária

cada dentada a raiva espelha
o ódio floresce
o amor é caótico
corre ácido corrosivo nos pulsos flácidos
o rei comanda o que lhe convém
os ramos abraçam os incautos
e...quem é pego de surpresa
impreterivelmente, dança

mas não adianta fugir
nas unhas afiadas ficarão fiapos de carne
este berro hediondo será ouvido
no fundo do poço.
Adeus...ou não!
JOAO DE DEUS VIEIRA ALVES
















O Sapateiro

O Sapateiro

 Chamam-no Simão, Simão sapateiro
 Trabalha numa rua bucólica, lúgubre.
 Não possuí máquinas
 Parou no tempo, há séculos atrás
 Conserta sapatos, arruma vidas
 Dança em salões, marcha em  paradas militares
Sempre no cepo de três pernas, 
assento de tiras de couro surrado

 Soar com-pas-sa-do do martelo
 Entre a borracha e o pé-de-ferro.
Olhos miúdos, marejados, opacos
pince-nez na borda do nariz, colado com fita adesiva
Vê resignado o presente e o passado

A vida flui a largas passadas
E... Simão nem nota
O rosto sulcado, as mãos calejadas
Sem distinguir dedos, de cola

A tosse rouca, unhas carcomidas
Solas, fivelas, agulha curvada

Simão deixa a vida correr na janela

JOÃO DE DEUS VIEIRA ALVES







segunda-feira, 22 de agosto de 2016

ANÔNIMA


À une passante 
La rue assourdissante autour de moi hurlait.
Longue, mince, en grand deuil, douleur majestueuse ,
Une femme passa, d’ une main fastueuse
Soulevant, balançant le feston et l’ourlet;



ANÔNIMA

As calçadas molhadas
refletem teu rosto, pisado
por milhares de passos apressados

teu cabelo molhado, colado
esculpido na nuca em belo contorno

a chuva inebriante, encantada
te vê dançando “amarelinha”
esquivante e improvisada

somes no meio da loja
e...
só gotejam os pingos
no vidro, invólucro
das bijuterias expostas

Aos poucos teu perfume esvai-se
JÕAO DE DEUS VIEIRA ALVES



NA: Poeminha dos anos 90, Baudelaire foi-me apresentado em 2010 . 

Medalhas






Medalhas são eternas e a fome idem.

Bairro Nobre de Porto Alegre no Ano da Graça de 2016.

B R A S I L



quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Análise do Conto. Uma vela para Dario



Análise do Conto. Uma vela para Dario


A. Intensidade - A narrativa é sequencial, frase curtas quase telegráfica, mostrando o necessário, com muitas informações, uma sucessão frenética de acontecimentos, porém há noção do limite por parte do autor.

B. Brevidade – A seqüência de fatos ocorre, as personagens descritas por tipos físicos, profissões, sexo, cor, idades, a ação passa-se numa noite no espaço de duas a três horas.

C. Revelação da vida de uma personagem- Mostrando os últimos instantes de vida de Dario sabemos que ele sofria de ataque, talvez epilético, era um homem precavido, pois portava guarda-chuva, gosto refinado, aristocrático, pois fumava cachimbo, vestia paletó, gravata, alfinete de pérola, relógio de pulso, aliança, portava todos os documentos, era forasteiro, e tinha uma marca de nascença.

D. A economia dos meios narrativos – é o ponto alto do conto, sendo que cada personagem que compõem o conto, um senhor gordo, um rapaz de bigodes, uma velhinha de cabelos grisalhos, moradores das ruas, motorista de táxi, guarda, um menino de cor, os locais citados, o táxi, onde o levou, a peixaria que o deixaram, farmácia que ficava na outra quadra, o café onde as pessoas bebiam, faz com que o leitor, crie e obtenha novas estórias através dos fatos elencados.

         Uma Vela para Dario, é um conto para ser lido e relido e dissecado frase á frase.  










    
 


Baleia de Graciliano Ramos - Breve Análise





 No conto Baleia de  Graciliano Ramos,  que também é um capitulo do livro “ Vidas Secas”, aliás o autor partiu dele para compor o livro, temos características marcantes de intensidade e tensão, no qual a personagem principal é uma cadela, e o autor imprime dose de humanidade tal, que as demais personagens humanas passam a ser periféricas, como Fabiano, sinhá Vitória e os meninos que nem nome tem.

1.      Revelação da vida de uma personagem

Começa o conto descrevendo o estado físico da Cadela Baleia , cheia de chagas, quase sem pelos, enorme feridas abertas, cobertas de moscas que lhe conferiam o aspecto de um arremedo de animal, e ainda com suspeita de hidrofobia (raiva canina), tinha amarrado ao pescoço um colar de sabugos (crendice popular) para curar  a raiva. Tratavam-na como uma pessoa da família ao ponto de não haver diferenciação entre ela e os meninos nas brincadeiras e agruras da fome. A decisão tomada por Fabiano em por fim aquele sofrimento, com um tiro de espingarda.
      Por parte de sinhá Vitória há pena e nojo, revolta contra  Fabiano, por não esperar mais um dia para a execução e por fim resignação. Após a decisão Fabiano caça Baleia pelo pátio, que atingida foge e embrenha-se no mato.

.“ E, perdendo muito sangue andou como gente em dois pés, arrastando-se com dificuldade a parte posterior do do corpo”( Pag 2, par 6) . Consegue esconder-se numa nesga de  sombra que ladeava a pedra,  e na agonia da morte que se aproximava “relembra” os momentos de sua vida, o nascimento, o tratamento que recebeu, sendo acolhida e cuidada e julga por não ter cumprido as tarefas mais comezinhas, estava sendo punida, e neste delírio “pre mortem” um mundo novo descortina-se em sua mente, com abundância de comida, felicidade, liberdade que a noite que chegou proporcionará”

O oitavo item do decálogo do perfeito contista de Horácio Quiroga serve como referência como Graciliano conduz a vida de suas personagens no conto
 “ Toma teus personagens pela mão e leva-os firmemente até o final, sem atentar senão para o caminho que traçaste. Não te distrai vendo o que eles não podem ver ou o que não lhes importa. Não abusa do leitor. Um conto é uma novela depurada de excessos. Considera isso uma verdade absoluta, ainda que não o seja.”(Horácio Quiroga)


2.      Tensão

Neste conto existem momentos de tensão e intensidade marcantes, tais como o municiamento da espingarda. “  Escutou, ouviu o rumor do chumbo que se derramava no cano da arma, as pancadas surdas da vareta na bucha. Suspirou. Coitadinha da Baleia.( Pag 1, par.9).

3.       Intensidade
As minúcias dos detalhes criam uma cena intensa para o denselace.
“Em seguida entrou na sala, atravessou o corredor e chegou à janela baixa da cozinha. Examinou o terreiro, viu Baleia coçando-se a e esfregar as peladuras no pé de turco, levou a espingarda ao rosto. A cachorra espiou o dono desconfiada, enroscou-se no tronco e foi-se desviando, até ficar no outro lado da árvore, agachada e arisca, mostrando apenas as pupilas negras. Aborrecido com esta manobra, Fabiano saltou a janela, esgueirou-se ao longo da cerca do curral, deteve-se no mourão do canto elevou de novo a arma ao rosto. Como o animal estivesse de frente e não apresentasse bom alvo, adiantou-se mais alguns passos. Ao chegar às catingueiras, modificou a pontaria e puxou o gatilho. A carga alcançou os quartos de Baleia, que se pôs latir desesperadamente.(Página 2, Par 3).”

4.      Efeito Único
  
Não há reviravolta no conto, ele segue de forma linear até o seu desfecho o parágrafo inicial leva ao encontro do parágrafo final. 
A CACHORRA Baleia estava para morrer. Tinha emagrecido, o pelo caíra-lhe em vários pontos, as costelas avultavam num fundo róseo, onde manchas escuras supuravam e sangravam, cobertas de moscas. As chagas da boca e a inchação dos beiços dificultavam-lhe a comida e a bebida”( Pag 1, par 1.)
Note-se a informação em maiúscula na segunda palavra do parágrafo, ele nos diz que a cachorra vai morrer, já preparou o leitor. E fecha o conto usando como metáfora da morte o verbo dormir, o sofrimento pela felicidade, a fome pela fartura, perdoando o seu algoz, voltando a brincar com as crianças. “Baleia queria dormir. Acordaria feliz, num mundo cheio de preás. E lamberia as mãos de Fabiano, um Fabiano enorme. As crianças se espojariam com ela, rolariam com ela num pátio enorme, num chiqueiro enorme. O mundo ficaria todo cheio de preás, gordos, enormes.”(pag3, Parágrafo Final). E neste particular o conto  é fiel ao quinto mandamento do perfeito contista , “Não começa a escrever sem saber, desde a primeira palavra, aonde vais. Num conto bem-feito, as três primeiras linhas têm quase a mesma importância das três últimas.Horácio Quiroga, e obedece a máxima literalmente de Anton Tchekov, “se colocar uma espingarda no conto ela vai ter que disparar até o final.”












O Conto O Barril do Amontillado - Breve Análise





O Conto O Barril do Amontillado narra a estória de um homem que tem a determinação ferrenha de vingar-se de “mil e uma injúrias” de seu desafeto um homem chamado Fortunato, que tem sua cobiça, soberba e empáfia incentivadas, quando desafiado a provar um vinho que o comprador desconfia que não seja o verdadeiro amontillado, e sua ganância o leva a subterrâneo do palacete do narrador, onde um cenário já está preparado para seu emparedamento.

1)      Intensidade e Tensão

                 O conto e todo permeado por intensidade e tensão, desde a ideia fixa de vingança, a cooptação da vitima, o seu convencimento, o jogo de gato e rato, a tortura psicológica, os contra argumentos, e a soberba e ganancia.  “.Suportei o melhor que pude as mil e uma injúrias de Fortunato; mas quando começou a entrar pelo insulto, jurei vingança”.(Pag 1, par 1.)

2)      Unidade Construção

O conto prende o leitor desde a primeira linha até o seu desfecho, vive-se intensamente, a desventura de Fortunato ( infortunado), ironia com seu nome, ficamos embriagados com ele, tossimos desesperadamente, e sentimos o frio e umidade do salitre, e principalmente o terror e pânico, que todo o ser humano carrega, o de ser enterrado vivo, o caso neste emparedamento. E neste desiderato nos socorre Hemingway “ No conto, o escritor ganha por nocaute, no romance por pontos”


3.Efeito Único

  Há efeito entre a primeira frase do conto e seu desfecho surpreendente, não é inesperado por ele leva a cabo seu intento, e daqueles contos para ler-se numa sentada, ficar impactado e depois levar com calma e minucia saboreando cada palavra e descobrir o motivo de tão cruel vingança.  



João de Deus Vieira Alves