quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Baleia de Graciliano Ramos - Breve Análise





 No conto Baleia de  Graciliano Ramos,  que também é um capitulo do livro “ Vidas Secas”, aliás o autor partiu dele para compor o livro, temos características marcantes de intensidade e tensão, no qual a personagem principal é uma cadela, e o autor imprime dose de humanidade tal, que as demais personagens humanas passam a ser periféricas, como Fabiano, sinhá Vitória e os meninos que nem nome tem.

1.      Revelação da vida de uma personagem

Começa o conto descrevendo o estado físico da Cadela Baleia , cheia de chagas, quase sem pelos, enorme feridas abertas, cobertas de moscas que lhe conferiam o aspecto de um arremedo de animal, e ainda com suspeita de hidrofobia (raiva canina), tinha amarrado ao pescoço um colar de sabugos (crendice popular) para curar  a raiva. Tratavam-na como uma pessoa da família ao ponto de não haver diferenciação entre ela e os meninos nas brincadeiras e agruras da fome. A decisão tomada por Fabiano em por fim aquele sofrimento, com um tiro de espingarda.
      Por parte de sinhá Vitória há pena e nojo, revolta contra  Fabiano, por não esperar mais um dia para a execução e por fim resignação. Após a decisão Fabiano caça Baleia pelo pátio, que atingida foge e embrenha-se no mato.

.“ E, perdendo muito sangue andou como gente em dois pés, arrastando-se com dificuldade a parte posterior do do corpo”( Pag 2, par 6) . Consegue esconder-se numa nesga de  sombra que ladeava a pedra,  e na agonia da morte que se aproximava “relembra” os momentos de sua vida, o nascimento, o tratamento que recebeu, sendo acolhida e cuidada e julga por não ter cumprido as tarefas mais comezinhas, estava sendo punida, e neste delírio “pre mortem” um mundo novo descortina-se em sua mente, com abundância de comida, felicidade, liberdade que a noite que chegou proporcionará”

O oitavo item do decálogo do perfeito contista de Horácio Quiroga serve como referência como Graciliano conduz a vida de suas personagens no conto
 “ Toma teus personagens pela mão e leva-os firmemente até o final, sem atentar senão para o caminho que traçaste. Não te distrai vendo o que eles não podem ver ou o que não lhes importa. Não abusa do leitor. Um conto é uma novela depurada de excessos. Considera isso uma verdade absoluta, ainda que não o seja.”(Horácio Quiroga)


2.      Tensão

Neste conto existem momentos de tensão e intensidade marcantes, tais como o municiamento da espingarda. “  Escutou, ouviu o rumor do chumbo que se derramava no cano da arma, as pancadas surdas da vareta na bucha. Suspirou. Coitadinha da Baleia.( Pag 1, par.9).

3.       Intensidade
As minúcias dos detalhes criam uma cena intensa para o denselace.
“Em seguida entrou na sala, atravessou o corredor e chegou à janela baixa da cozinha. Examinou o terreiro, viu Baleia coçando-se a e esfregar as peladuras no pé de turco, levou a espingarda ao rosto. A cachorra espiou o dono desconfiada, enroscou-se no tronco e foi-se desviando, até ficar no outro lado da árvore, agachada e arisca, mostrando apenas as pupilas negras. Aborrecido com esta manobra, Fabiano saltou a janela, esgueirou-se ao longo da cerca do curral, deteve-se no mourão do canto elevou de novo a arma ao rosto. Como o animal estivesse de frente e não apresentasse bom alvo, adiantou-se mais alguns passos. Ao chegar às catingueiras, modificou a pontaria e puxou o gatilho. A carga alcançou os quartos de Baleia, que se pôs latir desesperadamente.(Página 2, Par 3).”

4.      Efeito Único
  
Não há reviravolta no conto, ele segue de forma linear até o seu desfecho o parágrafo inicial leva ao encontro do parágrafo final. 
A CACHORRA Baleia estava para morrer. Tinha emagrecido, o pelo caíra-lhe em vários pontos, as costelas avultavam num fundo róseo, onde manchas escuras supuravam e sangravam, cobertas de moscas. As chagas da boca e a inchação dos beiços dificultavam-lhe a comida e a bebida”( Pag 1, par 1.)
Note-se a informação em maiúscula na segunda palavra do parágrafo, ele nos diz que a cachorra vai morrer, já preparou o leitor. E fecha o conto usando como metáfora da morte o verbo dormir, o sofrimento pela felicidade, a fome pela fartura, perdoando o seu algoz, voltando a brincar com as crianças. “Baleia queria dormir. Acordaria feliz, num mundo cheio de preás. E lamberia as mãos de Fabiano, um Fabiano enorme. As crianças se espojariam com ela, rolariam com ela num pátio enorme, num chiqueiro enorme. O mundo ficaria todo cheio de preás, gordos, enormes.”(pag3, Parágrafo Final). E neste particular o conto  é fiel ao quinto mandamento do perfeito contista , “Não começa a escrever sem saber, desde a primeira palavra, aonde vais. Num conto bem-feito, as três primeiras linhas têm quase a mesma importância das três últimas.Horácio Quiroga, e obedece a máxima literalmente de Anton Tchekov, “se colocar uma espingarda no conto ela vai ter que disparar até o final.”












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