terça-feira, 30 de agosto de 2016

O Sapateiro

O Sapateiro

 Chamam-no Simão, Simão sapateiro
 Trabalha numa rua bucólica, lúgubre.
 Não possuí máquinas
 Parou no tempo, há séculos atrás
 Conserta sapatos, arruma vidas
 Dança em salões, marcha em  paradas militares
Sempre no cepo de três pernas, 
assento de tiras de couro surrado

 Soar com-pas-sa-do do martelo
 Entre a borracha e o pé-de-ferro.
Olhos miúdos, marejados, opacos
pince-nez na borda do nariz, colado com fita adesiva
Vê resignado o presente e o passado

A vida flui a largas passadas
E... Simão nem nota
O rosto sulcado, as mãos calejadas
Sem distinguir dedos, de cola

A tosse rouca, unhas carcomidas
Solas, fivelas, agulha curvada

Simão deixa a vida correr na janela

JOÃO DE DEUS VIEIRA ALVES







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