O Sapateiro
Chamam-no Simão, Simão sapateiro
Trabalha numa rua bucólica, lúgubre.
Não possuí máquinas
Parou no tempo, há séculos atrás
Conserta sapatos, arruma vidas
Dança em salões, marcha em paradas militares
Sempre no cepo de três pernas,
Trabalha numa rua bucólica, lúgubre.
Não possuí máquinas
Parou no tempo, há séculos atrás
Conserta sapatos, arruma vidas
Dança em salões, marcha em paradas militares
Sempre no cepo de três pernas,
assento de tiras de couro surrado
Soar com-pas-sa-do do martelo
Entre a borracha e o pé-de-ferro.
Olhos miúdos, marejados, opacos
Soar com-pas-sa-do do martelo
Entre a borracha e o pé-de-ferro.
Olhos miúdos, marejados, opacos
pince-nez na borda do nariz, colado com fita adesiva
Vê resignado o presente e o passado
A vida flui a largas passadas
E... Simão nem nota
O rosto sulcado, as mãos calejadas
Sem distinguir dedos, de cola
A tosse rouca, unhas carcomidas
Solas, fivelas, agulha curvada
A vida flui a largas passadas
E... Simão nem nota
O rosto sulcado, as mãos calejadas
Sem distinguir dedos, de cola
A tosse rouca, unhas carcomidas
Solas, fivelas, agulha curvada
Simão deixa a vida correr na janela
JOÃO DE DEUS VIEIRA ALVES
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