segunda-feira, 10 de dezembro de 2012
sábado, 1 de dezembro de 2012
Elegia a um povo a beira do caminho
Nossa Senhora da Luz
_ iluminai os caminhos !
imploram no barraco pobre.
enrolado em trapos imundos
o corpo jaz sobre palhas,
nem sombra de que um dia fora
Cacique... Chefe orgulhoso !
quase dois mil anos
antes das conquistas ibéricas.
povos com traços malaios
cruzavam o Continente, passos lentos
mães com filhos juntos ao colo
homens carregam lanças, sementes
na busca de caça, terra férteis.
cruzou Gabriel de Lara, explorador
a Serra do Mar na busca d’ouro
Bandeirantes de Antônio Domingos
chegaram ás margens do rio Atuba.
viram a imagem de Nossa Senhora da Luz
olhos voltados para os Pinhais, -Curitiba-
habitantes da terra, saudaram o Chefe Branco
um aceno de Paz, arcos no chão desarmados.
começou aos poucos, a derrocada
subjugados pelos co-irmãos, os guaranis
descobridores, jesuítas,suas naus,suas cruzes
novos males, novas crenças, seu “progresso”
Guaianá, o último reduto, resistiu
Mas... o espectro das reservas , os rondava
mescla de culturas, na miscigenação
criou a identidade de Riograndense
A rede, o chimarrão e o algodão
fincaram profundas raízes
como a contribuição do negro
“esquecidos” nas histórias oficiais
o código ,condena: incapazes,selvagens
Um grito ecoa, selva de pedra, concreto
mestiço, sangue negro, branco ... bugre
errantes dos becos escuros, ...andarilhos
fabricantes de cestas, balaios.
calçadas- moradas, flechas partidas, vidas quebradas
tetas magras , caídas... orgulho ferido, enterrado.
donos da terra, mãos estendidas, esmolando comida
Manchete estampada nos jornais
morrem aos chutes, pontapés, pedradas
imolados , para divertimento de loucos.
o crepúsculo frio, cessa o cântico
calou-se um povo que não tem mais sonhos
apenas vagar, mendigar, prostituir, beber
resquício de uma raça, que vive nas sarjetas
Nossa Senhora da Luz
_ iluminai os caminhos !
lhes devolva à terra...o céu
caminhos para encontrar Tupã
aos poucos que ainda restam deste...
Povo do Mato, Kain-guangue.
_ iluminai os caminhos !
imploram no barraco pobre.
enrolado em trapos imundos
o corpo jaz sobre palhas,
nem sombra de que um dia fora
Cacique... Chefe orgulhoso !
quase dois mil anos
antes das conquistas ibéricas.
povos com traços malaios
cruzavam o Continente, passos lentos
mães com filhos juntos ao colo
homens carregam lanças, sementes
na busca de caça, terra férteis.
cruzou Gabriel de Lara, explorador
a Serra do Mar na busca d’ouro
Bandeirantes de Antônio Domingos
chegaram ás margens do rio Atuba.
viram a imagem de Nossa Senhora da Luz
olhos voltados para os Pinhais, -Curitiba-
habitantes da terra, saudaram o Chefe Branco
um aceno de Paz, arcos no chão desarmados.
começou aos poucos, a derrocada
subjugados pelos co-irmãos, os guaranis
descobridores, jesuítas,suas naus,suas cruzes
novos males, novas crenças, seu “progresso”
Guaianá, o último reduto, resistiu
Mas... o espectro das reservas , os rondava
mescla de culturas, na miscigenação
criou a identidade de Riograndense
A rede, o chimarrão e o algodão
fincaram profundas raízes
como a contribuição do negro
“esquecidos” nas histórias oficiais
o código ,condena: incapazes,selvagens
Um grito ecoa, selva de pedra, concreto
mestiço, sangue negro, branco ... bugre
errantes dos becos escuros, ...andarilhos
fabricantes de cestas, balaios.
calçadas- moradas, flechas partidas, vidas quebradas
tetas magras , caídas... orgulho ferido, enterrado.
donos da terra, mãos estendidas, esmolando comida
Manchete estampada nos jornais
morrem aos chutes, pontapés, pedradas
imolados , para divertimento de loucos.
o crepúsculo frio, cessa o cântico
calou-se um povo que não tem mais sonhos
apenas vagar, mendigar, prostituir, beber
resquício de uma raça, que vive nas sarjetas
Nossa Senhora da Luz
_ iluminai os caminhos !
lhes devolva à terra...o céu
caminhos para encontrar Tupã
aos poucos que ainda restam deste...
Povo do Mato, Kain-guangue.
JOAO DE DEUS VIEIRA ALVES
terça-feira, 27 de novembro de 2012
Negro Lanceiro
( Nara Elizene e Tio Ornés , o autor e Tio Luiz,inspiradores do Poema, seres iluminados verdadeiros herdeiros de "Porongos)
Poema vencedor Troféu de Primeiro Lugar do Concurso Literário Gaúcho -Poesia do ENART 2012.
Negro Lanceiro
Autor: João de Deus Vieira Alves
baú empoeirado das lembranças
envoltos pela bruma, em fragmentos
correm varas da mangueira do tempo
libertando tropilha de recuerdos.
vêm do fundo do campo d'alma
rebentando a corrente dos olhos.
voz rouca, embargada
narrando “cosas”, com calma
muitos , muitos janeiros
embaçados de viver e sofrer.
barba e cabelos de algodão
dando à fisionomia aguda impressão
velhice, ternura, sofrimento .
olhar vestindo, os piás, calados
histórias, causos, lendas
temores, assombrações, bravura.
cativos na Mama Africa
garroteados ao libambo seguem
os doentes e fracos abandonados
gargantas abertas, o medo , o horror
epidemias, suícidos ,loucuras
pesadelo, realidade, escravidão
liberdade utópica, traição
tempo de chagas abertas
rompem torrentes, como coriscos
retumbam campinas na mente,
ecos do cantar de ferros e aço.
Noventa e três, volta com força
Gumercindo , e sua gente
Carpintaria, Salsinho, Campo Osório
cruentas batalhas, sangue irmão
derramado
defendendo ideais, que diziam ser justos.
gritos hediondos, rouba-lhe o sono
trezentos degolados do Rio Negro.
como esquecer o Cabo Duza,
castelhano do peito vermelho.
Nicolau, preto e soldado
de a cavalo, lança à destra..
velho Domingos, mateiro desbravador,
condutor de tropas, nas coxilhas e
canhadas.
Vinte e três, uma
ferida aberta ...viva
pica-paus, chimangos, rebeldes,
maragatos
ombreando lado a lado, voluntários
Passo Fundo a Pedras Altas.
no combate da Conceição
pisou o Barro vermelho da lagoa
mescla do sangue, seiva e fibra
dos bravos que tombaram naquele chão.
Depois veio a Paz? Não.... as esquinas
!
miséria, o esquecimento
farda feita em frangalhos
Sem soldo, nem provimento
no exílio dos asilos
árvore frondosa de outrora
peleando com nacos de vida
relegado, doente e só.
uiva o minuano , ouvidos cansados
balançando cruzes
de madeira toscas
campa fria, grotões esquecidos.
não mais coxilhas, o corredor deserto
invés de campos, abandono e dor
cavalos de papel, a flutuar no etéreo
clarins mudos, sem toques de avançar
restou a tristeza, nesta
cadeira-prisão
fogo morto nos galpões
coberto baixeiro sobre penas mortas
grades, concreto como horizonte
Adeus, Nego Venâncio, cavaleiro de luz
manancial de águas claras
somos
parte de ti, meu irmão
despilchados, esquecidos
Pretos.Pobres.Provisórios.Pé-no-chãosábado, 3 de novembro de 2012
Frases,ora frases...
Da Posse
“ Algumas pessoas adotam filhos, animais de estimação e uma série de quinquilharias inimagináveis; Os poetas adotam uma mesa de bar, um canto só deles, e disso não abrem mão nunca"
Ninho desfeito
"Filhos são pássaros,voam, quebram a gaiola, e as cobertas amarfanhadas, dão a exata noção, de ninho vazio..."
"Filhos são pássaros,voam, quebram a gaiola, e as cobertas amarfanhadas, dão a exata noção, de ninho vazio..."
Tristecidade
"Sempre tive mais admiraçao por aqueles que ficam serio, as vezes, carrancudos;e menos por aqueles que riem de tudo e para todos,porque esses sempre escondem alguma tristeza..."
quinta-feira, 1 de novembro de 2012
BICHOMEM
A poesia de Manuel Bandeira abandona os meios acadêmicos e fere os olhos dos professores e alunos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, chaga aberta na calçada da Oswaldo Aranha, esta é a Casa Lar do BICHOMEM.
Bichomem
O homem é bicho
o homem é lobo do homem
bicho-homem, homem-bicho
resto dos restos, dignidade perdida,
perde o nojo, vive o gozo
mata a sede, sacia a fome,
a sombra do ontem
do que foi já não lembra
sem roupa, sem teto, sem nome,
se foi o amor próprio, só restou vicio e esquina
solidão e desprezo, a rua é seu lar.
o homem é lobo do homem
bicho-homem, homem-bicho
resto dos restos, dignidade perdida,
perde o nojo, vive o gozo
mata a sede, sacia a fome,
a sombra do ontem
do que foi já não lembra
sem roupa, sem teto, sem nome,
se foi o amor próprio, só restou vicio e esquina
solidão e desprezo, a rua é seu lar.
JOAO DE DEUS VIEIRA ALVES
sexta-feira, 5 de outubro de 2012
SANGRANDO
Éramos jovens tínhamos apitos, andar alegre e decidido, seria mais uma traquinagem afinal. Homens mais velhos puxavam o cordão, de uma proscrita UNE, camisetas com estampa do "CHE", uns fumavam maconha, outros bebiam cerveja preta, outros iam por não serem covardes, outros por ideais, e uns por Romantismo e as gurias. Ano de 1979. Inauguração da Praça Argentina, por um Ditador de Opereta. Todos cantavam a canção abaixo.
Uns fundaram partidos e hoje se digladiam em campos opostos, outros mantinham a chama estudantil acesa de Paixão e Barbosa. Éramos jovens, ao vento, sem documentos, com lenços,para enfrentar o gás lacrimogêneo, e bolitas para os cavalos escorregarem.
"Não Chores Mais (No Woman, no cry)
Gilberto Gil
Bem que eu me lembro
Da gente sentado ali
Na grama do aterro, sob o sol
Ob-observando hipócritas
Disfarçados, rondando ao redor...
Da gente sentado ali
Na grama do aterro, sob o sol
Ob-observando hipócritas
Disfarçados, rondando ao redor...
Amigos presos
Amigos sumindo assim
Prá nunca mais
Tais recordações
Retratos do mal em si
Melhor é deixar prá trás..".
Amigos sumindo assim
Prá nunca mais
Tais recordações
Retratos do mal em si
Melhor é deixar prá trás..".
SANGRANDO
A massa, plebe ignara
Segue seus lideres, como ovelhas inconscientes,
Rumo ao matadouro.
Seres inanimados, sem vontades nem anseio
Apenas meros executantes de atos autômatos e dispersos
Gritam nas ruas
Vociferam nos microfones mudos
E jogam a vida no beco escuro da omissão
Tudo resume-se em pequena parábola
“Em terra de cego quem tem um olho é rei”
Para mim é aleijado ou monstro
Um verdadeiro anormal
Para movimentar tanta gente
Tolher tantas idéias, fazendo verdadeira lavagem cerebral
Robôs do século vinte! Uni-vos!
É o brado retumbante que aturde os confins da subconsciência
E, todo aquele que fugir a regra
Será queimado na fogueira do radicalismo
A onda tem uma seqüência assustadora
Tal qual bola de neve crescendo a olhos vistos
O objetivo é um só:
O bem estar do ego do senhor
A segurança cuida de todas as irregularidades
A vigilância é constante
Os jornais amarelam nas bancas
Esperando a vez de virem a ser
A grande palmatória dos lúcidos que não aderiram
Do alto do prédio construído com suor e sangue
Um martelo ressoa forte na cabeça de acéfalos humanos
Sobre este imenso barril de pólvora
O cheiro de revolta irrita as narinas
Postado ao lado da cruz que carrega
O homem sente o próprio semelhante degenerar
Num ato desesperado oferece a mão descarnada e fria
Onde o mínimo de solidariedade já exauriu-se
E, julga ouvir a voz abafada dizer:
_ Tudo bem cara, estou apenas sangrando...
Segue seus lideres, como ovelhas inconscientes,
Rumo ao matadouro.
Seres inanimados, sem vontades nem anseio
Apenas meros executantes de atos autômatos e dispersos
Gritam nas ruas
Vociferam nos microfones mudos
E jogam a vida no beco escuro da omissão
Tudo resume-se em pequena parábola
“Em terra de cego quem tem um olho é rei”
Para mim é aleijado ou monstro
Um verdadeiro anormal
Para movimentar tanta gente
Tolher tantas idéias, fazendo verdadeira lavagem cerebral
Robôs do século vinte! Uni-vos!
É o brado retumbante que aturde os confins da subconsciência
E, todo aquele que fugir a regra
Será queimado na fogueira do radicalismo
A onda tem uma seqüência assustadora
Tal qual bola de neve crescendo a olhos vistos
O objetivo é um só:
O bem estar do ego do senhor
A segurança cuida de todas as irregularidades
A vigilância é constante
Os jornais amarelam nas bancas
Esperando a vez de virem a ser
A grande palmatória dos lúcidos que não aderiram
Do alto do prédio construído com suor e sangue
Um martelo ressoa forte na cabeça de acéfalos humanos
Sobre este imenso barril de pólvora
O cheiro de revolta irrita as narinas
Postado ao lado da cruz que carrega
O homem sente o próprio semelhante degenerar
Num ato desesperado oferece a mão descarnada e fria
Onde o mínimo de solidariedade já exauriu-se
E, julga ouvir a voz abafada dizer:
_ Tudo bem cara, estou apenas sangrando...
JOAO DE DEUS VIEIRA ALVES
terça-feira, 2 de outubro de 2012
POVO DO MATO- CAINGUANGUE
"Eles estavam aqui antes dos brancos,antes do negros, antes dos exploradores, vivem ? em reservas, a poeira da estrada é o que lhes resta, a miséria e a fome, e o pouco de terra que lhes resta, querem tirá-la , por aqueles que vivem se queixando nos noticiários da televisão, se tem seca esperam que o governo ajude, se chove demais querem que o governo ajude. Vender balaios, dançar no calçadão, e esperar as migalhas dos passantes.
Um barco sem rumo, sem timoneiro
Um andarilho, vagando sem dinheiro
Ambos parceiros
Poço sem fundo, sem saída
Arvores frondosas de outrora
Hoje, carcomidas, tombadas
Errantes dos becos escuros
Fabricantes de cestas
Povo do Mato, Cainguangue
Coxilhas, flechas, flechilhas
Calçadas, moradas, derrocadas
Lanças partidas, vidas quebradas
Tetas magras caídas
Filho desnutrido sugando
Orgulho ferido, enterrado
Donos da terra
Mãos estendidas, esmolando comida
JOAO DE DEUS VIEIRA ALVES
terça-feira, 25 de setembro de 2012
Meu amigo está velho
Meu amigo está velho... hoje constatei isso
Já não tem o entono de outrora
Sempre gostou da farra, uma boa briga
Filhos espalhados, perdi as contas (alguns nem existem mais)
Já não lhe apetece o sol, a sombra tampouco
Mal saí a noite já está recolhido
Já não tem o entono de outrora
Sempre gostou da farra, uma boa briga
Filhos espalhados, perdi as contas (alguns nem existem mais)
Já não lhe apetece o sol, a sombra tampouco
Mal saí a noite já está recolhido
É.. meu amigo, está velho
Quando alguém de menor estatura, pouca idade , o desafia
Qual criança indefesa, me olha , pede proteção
O ocaso de nossa existência é igual parceiro
O que nos resta, cuidar da casa
ficar lobuno no oitão
Sendo enxotado para fora, mandao para o quarto
já que está pertubando na sala
É... meu amigo está velho
Nem dentes possuí mais
Quanto sucesso no passado
tendo seu nome dito na rádio
eterna ameaça à carteiros e motoqueiros
_Hoje, quando lates, logo advém a tosse
Não te preocupes
A fidelidade é recíproca.
Ficou um buraco no pátio...
Seguiu em busca da luz no céu dos cachorros!
Seguiu em busca da luz no céu dos cachorros!
sexta-feira, 21 de setembro de 2012
Homem não chora?
Para quem é nascido e criado até a adolescência na fronteira do estado, especificamente na campanha. Aprendendo desde cedo à lida bruta nas agruras do tempo e intempéries, enrijecendo o corpo e alma para os sentimentos mais comezinhos, incorporamos ao nosso “modus vivendi”, o adágio machista de que “homem não chora”.
Por vários anos, quando os reveses da vida se abatiam sobre nós, vi muitas vezes meu pai sair do banheiro com os olhos vermelhos e inchados, e acreditava piamente que ele tomava banho com os olhos aberto, e o sabonete lhe queimava a retina, que o minuano soprava forte naquelas plagas, e volta e meia, um cisco lhe caía no olho.
Na década de oitenta já formado como sargento da Policia Militar, em patrulhamento de rotina, recebemos comunicado via rádio do desaparecimento de uma menina de cinco anos com “Síndrome de Down” , e seu pai estava na Praça XV desesperado. Era sábado à tarde, e vínhamos pela rua Venâncio Aires recolhendo para o Quartel após um dia exaustivo, por coincidência a encontramos na esquina da Av. João Pessoa e deslocamos com ela ao encontro de seu pai.
Este relato me ocorre como forma de mostrar uma experiência marcante, bem como prestar homenagem a dois valorosos soldados com quem tive a honra de trabalhar.
Ao chegarmos ao local de encontro, a menininha correu em direção ao pai babulciando seu nome, recebendo afetuoso abraço dele.
Na gélida noite que se avizinhava, constatei contra o recorte das luzes, nos rostos graníticos e esculpidos em ébano de meus colegas, homens que não titubeavam diante de um tiroteio, de turbas ensandecidas ,incêndios, enfim, todas as vicissitudes atinentes a profissão.Lágrimas,sim, lágrimas que escorriam abundante pelas faces e molhavam o fardamento. E ali no centro da metrópole fria e inumana, que eu descobri que homem chora,sim.
ALVES
segunda-feira, 10 de setembro de 2012
Pedro e Paulo
Domingo, dias atuais. mês de Setembro correndo solto, sol a pino, quarenta graus à sombra, o suor encharca e o sal queima a pele tostando pelos.
Dia da Grande Final de Paleteada do Concurso de Freio de Ouro da Associação dos Criadores de Cavalo Crioulo na Expointer na cidade de Esteio, no Rio Grande do Sul.
Anos atrás, dia friorento, chuvoso, açudes não dando vau, taipas invadindo várzeas, Estância duplo “W”, Passo Grande, distrito de Cerro do Ouro.
O moço fora visitar o pai, por estar com saudade e principalmente pedir aumento da mesada, visto que o custo de manutenção da “faculdade”, das moças que trabalhavam a noite nas boates da capital, o carro esportivo, aluguel do apartamento, os amigos de copos e farras, estava custando caro e nada mais justo pensava ele, afinal sendo o velho um dos grandes criadores de cavalos crioulos, um dia tudo aquilo seria dele.
Numa de suas muitas noitadas e farras , quando ficou sabendo que uma das muitas mulheres de “vida fácil” que tinha cambicho, estava grávida, em principio não dera a mínima, mas após tomar uma decisão, resolveu que ficaria com a criança após o nascimento.
Então combinado com alguns colegas da faculdade resolveram raptá-la, e numa noite numa pensão de quinta categoria, no breu do quarto ínfimo, sem fazer barulho para não acordar a mulher que dormia virada para canto da parede, pegaram o menino do berço, e o fruto desta relação vinha agora com ele pra ser criado na fazenda do velho.
Com a morte do velho, assumiu a fazenda, sem canudo, mas neste país onde quem tem plata, títulos e gentes são comprados , era temido e respeitado , tornando-se um dos principais expositores da Expointer e o cavalo de sua propriedade BTJOVEM da Santa Cruz era favoritaço para o freio de Ouro daquele ano.
A estrela principal era o ginete, (seu próprio filho,) campeiro dos quatro costados e um prego nos arreios. No camarote das autoridades o fazendeiro, cofia o bigodão bem cuidado, copo de uísque na mão, antegozando os prazeres da noite onde levará seu filho para se esbaldar como ele fizera outrora, estava cercado de bajuladores, apadrinhados políticos, e toda a camarilha que cerca os poderosos.
No outro lado da cidade um jovem prepara-se para mais um turno estafante de serviço, a lida bruta o castigava desde pequeno, órfão de mãe que definhara jovem, corroída pela cirrose e enfisema, na escravatura da bebida, fumo e venda do corpo.
Ele foi entregue a própria sorte, sem conhecer o pai, e uma alma caridosa o acolheu no Pão dos Pobres, de onde saiu para sentar praça na Brigada Militar.
Maldizia a sorte de logo hoje, estar escalado naquele Parque, fazendo o Patrulhamento Montado, ele gostava de montar e não tinha o fundilho encerado, sendo de sua responsabilidade o tordilho mais indócil do regimento, resquício de quando era cavalo de saltos na hípica e fora doado por ter derrubado e aleijado o filho de grande empresário escapando assim do sacrifício que estava destinado, e se afeiçoaram, pois os deserdados se juntam pra terem amor.
A filhinha do colega nascera prematura, fora boleado, tinha que cumprir a escala,
Na raia o frenesi tomou conta da assistência, no momento do filho do fazendeiro entrar na pista, e, diga-se de passagem, formavam um conjunto lindo, seu porte altivo, soberbo e algo pedante, com olhar de ébano penetrante e desafiador, junto com o crioulo malacara marchador, narinas infladas , nervos e músculos retesados e olhar superior.
Seu parceiro na empreitada um Negro Velho, peão de estirpe que lhe ensinara os segredos da lide campeira, laçar,domar, curar bicheira ,guasguear uma lonca, ajudar dar cria as vacas atracadas e derrubar terneiro nos trompaços com petiços pipeiros, gineteando os capões, onde volte e meia plantava figueira para fula dos peões, que tentavam sestear em seus pelegos a sombra dos cinamomos.
O tourito sobre ano com o botão da guampa brotando, deixou o brete bufando ,aspirando à liberdade, olhos fixos no horizonte, levantando poeira e berrando, e já lhe saíram no rastro a dupla de peões em seus fletes cortando o vento.
Porém momento da abordagem, antes das bandeiras que delimitam o percurso, no encontrão da paleta no novilho, o jovem ginete, errou o ponto de esbarro, e prensou com toda força a perna , neste entrechoque bárbaro, ouvi-se um grito horrendo, o estalo do osso partido, quebrando a perna do moço, caindo de lado sendo arrastado pelo estribo, seu parceiro que vinha do outro lado, não divisou o seu dupla, pela polvadeira formada na confusão de casco ,ferro, arreio e patas ,seguiu em perseguição à rês que se mandou a la cria.
Os alaridos e gritos de socorro chamaram a atenção do brigadiano de serviço, que na relancina chamou nas esporas e dando de rédeas no seu cavalo, saltou a cerca e galopou em perseguição ao crioulo que arrastava o ginete, chegando junto, e com precisão e força atávica desprendeu o pé preso no estribo, tomou a pulso o corpo do ginete içou-o por baixou do braço num átimo de segundo antes do choque fatal contra a murada do fim da pista, colocando-o desmaiado sobre a garupa de seu tordilho.
Com a chegada da ambulância apeou do cavalo e auxiliou na remoção da maca, para a emergência ali instalada. O pai do moço que assistira a tudo entrou correndo na pista, e quis saber quem era aquele destemido brigadiano que salvara a vida de seu filho, chegou junto a ele, que estava de costas, botas pretas de cano alto sujas, pernas arqueadas, culote amarfanhado, jaqueta do fardamento lavada em suor com respingos de sangue misturada a terra, a espada pendente a lado do corpo embainhada.
A fazer sombra sobre a testa o chapéu de abas-largas, que em sinal de respeito sacou da cabeça para cumprimentar o fazendeiro,que lhe tocara os ombros, e quando este se virou o fazendeiro atônito, magnetizado por aquele olhar .
Teve ali mesmo uma sincope fulminante e caiu morto, na pista de rodeio, cercado do séqüito que lhe acompanhava e bajulava.
Pois quisera o destino que aquele brigadiano que salvara seu filho, fosse o outro gêmeo, que mamava junto à mãe no momento do rapto.
E foi isto que o fazendeiro viu antes de suspirar e partir, aquela cabeleira negra, sobrancelhas grossas, na maça do rosto no lado esquerdo a pinta em forma de ‘‘u”, marca indelével dos homens da família e a marcante diferença de um para o outro, inconfundíveis pares de olhos verdes... que um dia deixara chorando num cabaré na Capital, e enxotara a pontapés, quando soubera que iria ser pai.
sábado, 8 de setembro de 2012
UM PRAÇA QUE É NOME DE RUA
No dia 20 de Março de 1966, ele sentou praça na Brigada Militar, no 2º RPRMont, em Santana do Livramento, nascido em 08 de Setembro de 1940 na cidade do Alegrete.
Pertenceu ao heróico e saudosista grupamento dos “Abas-Largas”, patrulhando a Fronteira do Estado, mantendo a lei e a ordem a cascos de cavalo, fez parte da Banda de Música, a conhecida “ Furiosa”, que a todos encantava e admirava nas retretas, nos desfiles , nas paradas, e principalmente nos desfiles de 07 e 20 Setembro, “quando a Pátria se engalana”.
Por, reveses que a vida apronta, veio para Porto Alegre, para tratar da saúde, no tempo em que o “stress”, e o alcoolismo não eram tratados com o respeito necessário.
Foi morar num loteamento novo, pertencente ao município de Guaíba, incipiente e promissor, que mais tarde , viria a ser hoje, o jovem município de Eldorado do Sul.
Já reformado, gozava as benesses da nova vida, e era uma da figuras mais populares do lugar onde morava, sendo conhecido como um dos primeiros habitantes do bairro.
No ano de 1983, mais precisamente no dia 10 de Julho , quando uma das maiores enchentes, que já foram registradas até hoje, naquela localidade, desabrigou muita gente, deixando centenas de flagelados, como sempre voluntário, trabalhou dias afinco, socorrendo famílias inteiras,incansável. Mas... numa noite de domingo,fria e chuvosa, a vida foi-lhe ceifada, por um ônibus, na contra-mão, na estrada que corta o município ao meio.
No ano de 2002, também no mês de julho, foi aprovada por unanimidade a moção, para que no Bairro Cidade Verde, uma rua passasse a ter o nome dele.
Hoje, no Bairro Cidade Verde, na Cidade de Eldorado do Sul, no Estado do Rio Grande do Sul, existe a ” Rua JOÃO DE DEUS ALMEIDA ALVES.”
Bato continência e me perfilo, a ti , Cabo véio, praça que virou nome de rua, meu PAI.
João de Deus Vieira Alves - 1º Ten
quinta-feira, 6 de setembro de 2012
ONDE ESTÃO OS ABAS LARGAS?
Uma homenagem a estes bravos homens que a casco de cavalo redesenharam o Mapa do Rio Grande, e que de alguma forma ainda vigiam nosso Sul, sejam nas hostes celestiais, seja em sua memórias indeléveis, o na ativa ,onde houver necessidade.
João de Deus Vieira Alves
Nos idos de 50, o Esquadrão foi lançado
Quando dois Oficias e um Sgt, trouxeram do Canadá
Modelo de Patrulhamento
Que pela estampa fundiria o gaúcho da Pampa Larga, com o cavalo crioulo
Para atuar na Fronteira do Estado
Assim ficava criado o Patrulhamento Rural Montado
Redesenharam o mapa do Rio Grande
Marcando a cascos de cavalo
Por contrariar interesses escusos do poder vigente
Foram recolhidos a Capital
Anexados ao Regimento Bento Gonçalves
Sem contudo apagar o seu ideal
Em 56 por força de Decreto
Transformou-se RC em RPRMon
O Regimento “Cel Pillar” foi o pioneiro
Voltando, estes bravos guerreiros a defender o pago
com indômita galhardia
Onde estão os “Abas Largas”?
Onde estão os “Abas Largas”?
Ao redor dos Quartéis, nos hospitais, nos asilos, padecendo nas filas dos pecúlio,
ou servindo nas fileiras celestiais, Lembranças só fazem chorar
As botas num canto jogadas, capa rural carcomida de traças
O velho chapéu desabado pelos anos, talabarte roto e culote sem vinco de outrora
As esporas, remotas relíquias de andanças, tinem em eco nos peitos cansados
Onde estão os “Abas Largas”?
Onde estão os “Abas Largas”?
Continuam vivos na retina
Singrando vales e coxilhas
Centauros fardados, Quixotes farrapos
Dormindo ao relento, sobre os arreios em fundos de campo
Cortando geada, passando fome
Pois charque, água e bolacha
Era a comida dos homens
Por onde andam?
Os Oritz, Portos, Almeidas, enfim ...
O Sgt Caetano e seu beliscão de alicate
O Schultz com o relho rabo de tatu
Que fazia dupla afinada com a velha “35”
Moralizando as tascas onde família não entrava
Em Livramento no Cabaré da Maria Gorda
Em Bagé no Bico Verde, São Gabriel na Rua do Chapéu
Em Uruguaiana na Vinte Oito
Por onde andam?
Policiando carreiras, combatendo abigeato
Agindo como Juiz de Paz em pendengas de vizinhos
Servindo de estafetas, estreitando laços
Prestando assistência, velando o sono das casas
Onde estão os “Abas Largas”?
Onde estão os “Abas Largas”?
Perderam-se no tempo
A evolução, o progresso, os relegou a extinção
O burburinho de vozes, cascos e tinir de ferros
Farfalham no torvelinho da infância campeira
E... quem souber, aonde estão
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Infância. Brigada. Guri. Saudade
terça-feira, 28 de agosto de 2012
PRAÇA XV Nº 16
Todo mês de março, após a ressaca das férias, quando a vida começa lentamente a tomar conta de nós e o ano finalmente parece que vai deslanchar, uma das tarefas que não se pode abrir mão, para quem tem filhos em idade escolar.É a romaria de pais, levando a tiracolo as famigeradas listas de materiais a serem comprados, a fim de encarar o ano letivo.
Munidos de paciência, tempo, pouco dinheiro, fomos cumprir a gincana de: Pergunta daqui? Especula dali? Pechincha acolá?
Após semanas de intensa aventura, por livrarias, feiras e a grande novidade do momento: As lojas de preço único. Finalmente, quando se pensa que tudo está resolvido...
A pergunta vem, rascante, seca e implacável, no intervalo do Jornal Nacional, no exato momento do ajeitar da erva na cuia.
__ E a mochila, Pai?
Mochila: serve para causar deslocamento na coluna,carregar livros, cadernos, mini-games, merenda; no caso dos adolescentes o inseparável telefone celular ( que nunca tem cartão e/ou está na caixa postal,e as vezes como certos centroavantes “fora da área de cobertura”), e nos intervalos dos recreios, recheada de jornais serve também de bola.
Isto posto, refeitos do susto , os calos e a bolhas dos pés, já sofrendo de antemão, vamos dormir e ter sonhos coloridos com mochilas, merendeiras, malas e todo o tipo de bagageiro.
Após um dia de trabalho, a caminho de casa, chegamos numa banca de camelôs, com artigos importados, bugigangas “paraguayas”, onde estavam expostas diversas mochilas.
Fomos atendidos por um casal jovem, atenciosos e solícitos, e uma graça de criança que estava no carinho, que chamava atenção pelo intenso azul de seus olhos e os cabelos louros cacheados.
Mas, como filho que estuda pela manhã, e mora dentro da televisão à tarde, se não for mochila do “POWER RANGERS”, não serve.
Voltamos a banca para trocar a mochila. Só que desta vez ao invés do simpático casal com seu lindo bebê, quem nos atende, é um senhor grisalho. Diante da pergunta inevitável, por eles, o surpreso vendedor, nos argumentou que faria a troca da mercadoria, e era proprietário daquela banca naquele local a mais de dez anos, e não conhecia nenhum casal conforme a descrição feita por nós, no que foi corroborado pelo demais proprietários de bancas da rua.
Ainda, sestrosos e incrédulos, fomos abordados por um vendedor de cahorro-quente, que ouvia a conversa:
__ Olha, senhor, um casal com estas características, teve uma banca aqui, há mais ou menos quinze anos, mas foram mortos num assalto junto com seu filhinho.
Pesquisando, nos arquivos da Policia , descobri num jornal de quinze anos atrás, com a seguinte manchete:
CRIME NA PRAÇA
“Casal de artesões e barbaramente assassinado, junto com seu filho.
Nas fotos que ilustravam a reportagem, estava o simpático casal, que nos vendera a mochila e seu filho tinha o sorriso mais radiante, que nunca.
Munidos de paciência, tempo, pouco dinheiro, fomos cumprir a gincana de: Pergunta daqui? Especula dali? Pechincha acolá?
Após semanas de intensa aventura, por livrarias, feiras e a grande novidade do momento: As lojas de preço único. Finalmente, quando se pensa que tudo está resolvido...
A pergunta vem, rascante, seca e implacável, no intervalo do Jornal Nacional, no exato momento do ajeitar da erva na cuia.
__ E a mochila, Pai?
Mochila: serve para causar deslocamento na coluna,carregar livros, cadernos, mini-games, merenda; no caso dos adolescentes o inseparável telefone celular ( que nunca tem cartão e/ou está na caixa postal,e as vezes como certos centroavantes “fora da área de cobertura”), e nos intervalos dos recreios, recheada de jornais serve também de bola.
Isto posto, refeitos do susto , os calos e a bolhas dos pés, já sofrendo de antemão, vamos dormir e ter sonhos coloridos com mochilas, merendeiras, malas e todo o tipo de bagageiro.
Após um dia de trabalho, a caminho de casa, chegamos numa banca de camelôs, com artigos importados, bugigangas “paraguayas”, onde estavam expostas diversas mochilas.
Fomos atendidos por um casal jovem, atenciosos e solícitos, e uma graça de criança que estava no carinho, que chamava atenção pelo intenso azul de seus olhos e os cabelos louros cacheados.
Mas, como filho que estuda pela manhã, e mora dentro da televisão à tarde, se não for mochila do “POWER RANGERS”, não serve.
Voltamos a banca para trocar a mochila. Só que desta vez ao invés do simpático casal com seu lindo bebê, quem nos atende, é um senhor grisalho. Diante da pergunta inevitável, por eles, o surpreso vendedor, nos argumentou que faria a troca da mercadoria, e era proprietário daquela banca naquele local a mais de dez anos, e não conhecia nenhum casal conforme a descrição feita por nós, no que foi corroborado pelo demais proprietários de bancas da rua.
Ainda, sestrosos e incrédulos, fomos abordados por um vendedor de cahorro-quente, que ouvia a conversa:
__ Olha, senhor, um casal com estas características, teve uma banca aqui, há mais ou menos quinze anos, mas foram mortos num assalto junto com seu filhinho.
Pesquisando, nos arquivos da Policia , descobri num jornal de quinze anos atrás, com a seguinte manchete:
CRIME NA PRAÇA
“Casal de artesões e barbaramente assassinado, junto com seu filho.
Nas fotos que ilustravam a reportagem, estava o simpático casal, que nos vendera a mochila e seu filho tinha o sorriso mais radiante, que nunca.
ALVES
terça-feira, 21 de agosto de 2012
ANÁLISE DE POEMAS DE FLORBELA ESPANCA - LETRAS UFRGS
Mentiras
Aí quem me dera uma feliz mentira
Que fosse uma verdade para mim!
J. Dantas
Tu julgas que eu não sei que tu me mentes
Quando o teu doce olhar pousa no meu?
Pois julgas que eu não sei o que tu sentes?
Qual a imagem que alberga o peito meu?
Ai, se o sei meu amor! Em bem distingo
O bom sonho da feroz realidade...
Não palpita d’amor, um coração
Que anda vogando em ondas de saudade!
Embora mintas bem, não te acredito;
Perpassa nos teus olhos desleais
O gelo do teu peito de granito;
Mas finjo-me enganada, meu encanto,
Que um engano feliz vale bem mais
Que um desengano que nos custa tanto !
Análise: Soneto Clássico
1º Quarteto e 2º Quarteto – Rima o primeiro verso e o terceiro verso
o segundo verso e o quarto verso respectivamente
1º e 2º Terceto – Rima o primeiro e terceiro verso
O poema gira em torno da mentira, engano ,negação do amor. A mulher que deseja o amor mesmo que ele ( o amor) seja através do desengano
A mulher suplicando pelo amor, finge acreditar para a dor ser menos sentida.
Nostalgia
Nesse país de lenda, que me encanta,
Ficaram meus brocados, que despi,
E as jóias que p’elas aias reparti
Como outras rosas de rainha santa!
Tanta opala que eu tinha! Tanta,tanta!
Foi por lá que as semeei e que as perdi...
Mostrem-me o reino de que eu sou infanta!
Ó meu pais de sonho e de ansiedade,
Não sei se esta quimera que me assombra,
É feita de mentira ou de verdade!
Quero voltar! Não sei por onde vim...
Ah! Não ser mais que a sombra duma sombra
Por entre tanta sombra igual a mim!
Análise: Soneto Clássico
1º Quarteto e 2º Quarteto – Rima o primeiro verso e o terceiro verso
o segundo verso e o quarto verso respectivamente
1º e 2º Terceto – Rima o primeiro e terceiro verso
Saudosismo, através do despojamento de vestes e jóias. A vontade de conhecer o seu verdadeiro pais. A dúvida que assombra se este pais é real fictício, ou apenas fruto da saudade e querer exacerbado
A questão feminina está no vocábulo “infanta”, herdeira do reino
EU...
Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada... a dolorida...
Sobra de névoa tênue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...
Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber por quê...
Sou talvez a visão que alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra ver,
E que nunca na vida me encontrou
Análise: Soneto Clássico
1º Quarteto e 2º Quarteto – Rima o primeiro verso e o terceiro verso
o segundo verso e o quarto verso respectivamente
1º e 2º Terceto – Rima o primeiro e terceiro verso
A primeira estrofe do soneto é de uma tristeza e desencanto atroz, a desesperança segue no decorrer a maldizer o destino e a sorte, tendo como conseqüência a morte. Chega a tornar-se invisível, sua negação do “ser”, até seu pranto não tem explicação, tantas são as dúvidas que nos temos durante a vida , e passamos a questionar a efemeridade da existência.
Aí quem me dera uma feliz mentira
Que fosse uma verdade para mim!
J. Dantas
Tu julgas que eu não sei que tu me mentes
Quando o teu doce olhar pousa no meu?
Pois julgas que eu não sei o que tu sentes?
Qual a imagem que alberga o peito meu?
Ai, se o sei meu amor! Em bem distingo
O bom sonho da feroz realidade...
Não palpita d’amor, um coração
Que anda vogando em ondas de saudade!
Embora mintas bem, não te acredito;
Perpassa nos teus olhos desleais
O gelo do teu peito de granito;
Mas finjo-me enganada, meu encanto,
Que um engano feliz vale bem mais
Que um desengano que nos custa tanto !
Análise: Soneto Clássico
1º Quarteto e 2º Quarteto – Rima o primeiro verso e o terceiro verso
o segundo verso e o quarto verso respectivamente
1º e 2º Terceto – Rima o primeiro e terceiro verso
O poema gira em torno da mentira, engano ,negação do amor. A mulher que deseja o amor mesmo que ele ( o amor) seja através do desengano
A mulher suplicando pelo amor, finge acreditar para a dor ser menos sentida.
Nostalgia
Nesse país de lenda, que me encanta,
Ficaram meus brocados, que despi,
E as jóias que p’elas aias reparti
Como outras rosas de rainha santa!
Tanta opala que eu tinha! Tanta,tanta!
Foi por lá que as semeei e que as perdi...
Mostrem-me o reino de que eu sou infanta!
Ó meu pais de sonho e de ansiedade,
Não sei se esta quimera que me assombra,
É feita de mentira ou de verdade!
Quero voltar! Não sei por onde vim...
Ah! Não ser mais que a sombra duma sombra
Por entre tanta sombra igual a mim!
Análise: Soneto Clássico
1º Quarteto e 2º Quarteto – Rima o primeiro verso e o terceiro verso
o segundo verso e o quarto verso respectivamente
1º e 2º Terceto – Rima o primeiro e terceiro verso
Saudosismo, através do despojamento de vestes e jóias. A vontade de conhecer o seu verdadeiro pais. A dúvida que assombra se este pais é real fictício, ou apenas fruto da saudade e querer exacerbado
A questão feminina está no vocábulo “infanta”, herdeira do reino
EU...
Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada... a dolorida...
Sobra de névoa tênue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...
Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber por quê...
Sou talvez a visão que alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra ver,
E que nunca na vida me encontrou
Análise: Soneto Clássico
1º Quarteto e 2º Quarteto – Rima o primeiro verso e o terceiro verso
o segundo verso e o quarto verso respectivamente
1º e 2º Terceto – Rima o primeiro e terceiro verso
A primeira estrofe do soneto é de uma tristeza e desencanto atroz, a desesperança segue no decorrer a maldizer o destino e a sorte, tendo como conseqüência a morte. Chega a tornar-se invisível, sua negação do “ser”, até seu pranto não tem explicação, tantas são as dúvidas que nos temos durante a vida , e passamos a questionar a efemeridade da existência.
ALVES
domingo, 19 de agosto de 2012
ANÁLISE DE CONTOS DE MIGUEL TORGA - LETRAS UFRGS
O REGRESSO
A cena inicial do conto retrata em minúcias, o despertar de uma pequena aldeia. A fumaça da lareira da casa de um morador, João Rã, madrugador da povoação, as vozes confusas da Babel animal, e dos portais das casas vão surgindo caras humanas e cristãs, para encarar nova romaria de suor.
Ivo sentado numa fraga de granito olhava e analisava aquele despertar, com o olho que restava ia fotografando o casario e a vida da terra onde nascera. Neste ponto há metáfora que hoje ele vê as coisas mais nitidamente que outrora, quando possuía os dois olhos, e não conseguia juntar num mesmo amor o execrável e o santo. O lamento do burro latoeiro, desperta do torpor e faz irromper uma lágrima furtiva por seu rosto.
Tinha consciência que há muito morrera para a aldeia. A mãe, Maria Torres, ainda trajava luto, mas acostumara-se à tristeza de tê-lo perdido, o pai ensimesmado, engolira o desespero, envelhecera vários anos e o esquecera também, as irmãs após o luto carregado e choro convulsivo, agora vestiam blusas claras e namoravam alegremente.
Partira para lutar uma guerra que não era a deles, matando sem razão, atraiçoara milênios de fraternidade, de paz e entendimento.
Nesta parte do conto, quando é interpelado pelo pequeno pastor – Você quem é? – Nem ele mesmo sabia, coberto de cicatrizes, meio cego, maneta, coberto de sangue e remorsos. O seu próprio trajar retratava a miscelânea de peças de roupas – calça de bombazina,blusa americana, gorra basca e alparcatas galegas. Nada o desiludira mais que nem os próprios olhos da inocência o reconheceriam.
Lá na fronteira onde lutara, não o interpelaram, passou a ser um número, um autômato, ao bel prazer de seu comandante. A porta de regresso a aldeia lhe era fechada na cara, justamente por uma criança , que no seu subconsciente ainda julgava sê-lo, e no momento em que o menino vaticinara, que ele dava uns ares de um rapaz da aldeia que morrera, “que tinha mesmo esse nome, fugiu de casa, foi para a guerra e ficou lá”.
Sobre a indagação de que terra é ao menos! Não possuía resposta , pois era mais difícil saber quem era, não se localizara no mundo.
Constatou que os sonhos de retorno, as lembranças da infância estavam inexoravelmente perdida, e a aldeia agora desperta e rumorosa, era inacessível, e ali não havia mais lugar para ele, voltou-lhe as costas vencido e partiu.
Comentário: O Ponto de contato do texto com a Bíblia está na Parábola do filho pródigo, que parte após receber sua parte na herança, gasta tudo em festas e prazeres mundanos, e após regressar, pobre, maltrapilho e faminto e recebido com festas e júbilo. Ivo, ao contrário partiu para lutar uma guerra, que não sabia , nem o porquê e suas causas, e ao retornar á sua aldeia, não é reconhecido, seus pais e irmãs já o esqueceram, apenas uma pequena esperança nasce na indagação do pequeno pastor, que desvanece na afirmação que ele não pode ser o moço que partiu, pois ele morreu na guerra e ficou por lá. Para Ivo talvez essa solução fosse a melhor. Estar vivo para ele significava a morte que vinha através do esquecimento e desprezo.
A FESTA
As três personagens principais do conto são, o pai, a mãe e a filha, e na parte inicial do conto é traçado o perfil e os objetivos que cada um tinha na festa e na procissão de Santa Eufêmia. O Nobre tinha contas a acertar com Marcolino, que o chamara de covardola , a mãe Lúcia pagar a promessa que fizera por causa do ferrujão dos bois, a filha Otilia era passar a noite no arraial, a dançar com o namorado. Cada um dos três dera um jeito de conseguir dinheiro extra de maneira que os demais não soubessem, o pai vendera bois por dezoito notas, e escamoteara uma da conta, a mãe vendera centeio ao padeiro, e a filha também conseguira dinheiro através de acerto com um vendedor de vinho.
(Na verdade estas pequenas “desonestidades” eram bem toleradas pela família que fazia vistas grossas aos deslizes alheios).
Na festa o divino e o profano dão ali as mãos, num amplo entendimento. No Local cada um vai à busca de seus intentos, a moça encontra Leonel, seu namorado e bailam juntos e namoram, o Nobre encontra seu desafeto e a mãe ajoelha-se ao pé da Santa a rezar.
Ninguém tinha tempo para cuidar dos outros. Cada um tratava de si, dos seus amores, da sua fé, de seus ódios.
O cenário pós festa, é descrito com riqueza de detalhes, corpos pelo chão adormecidos, crianças, velhos, enfim o caos, a festa da comilança e da bebedeira.
O conto fecha com o trio se encontrando no alvorecer, com suas penas atendidas e realizadas, mas com desencantamento e desconforto, por não ter saído como planejado, mas restava ainda a esperança de continuar, e arranjar novas forças para gozar a festa que tinham esperado o ano inteiro.
Comentário: Este conto nos remete aos rituais católicos herdados por nós dos portugueses, o divino e o profano, o fim de festa com seus pormenores, nos remetem á lembrança de Festas e Romarias (vide Navegantes, Medianeira (RS)), onde estas imagens que o conto nos joga e mostra, é tão palpável, que não fica devendo nada à realidade.
ALVES
sexta-feira, 17 de agosto de 2012
ESTRELAS
Lá vem eles
dos becos, dos guetos
moleques esqueletos
bons de bola, gingando
sambistas pacholas
Lá vem elas
das ruas, vielas
cinturas pequenas
cabrochas morenas
Encontram-se no largo
Cheiram, fumam
Cantam, batucam
Sócios no vício
Crianças... apenas
dos becos, dos guetos
moleques esqueletos
bons de bola, gingando
sambistas pacholas
Lá vem elas
das ruas, vielas
cinturas pequenas
cabrochas morenas
Encontram-se no largo
Cheiram, fumam
Cantam, batucam
Sócios no vício
Crianças... apenas
Nome: Filho das ruas
Idade: qualquer uma entre zero e quinze anos
Cor: Todas imagináveis (tendência para a roxa...
de frio ou amarela de desidratação)
Sexo: ambos, a indiferença é a mesma
Mãe : Desiludida da Silva
Pai: Zé ou João, alguém que passou (alcoólatra desconhecido)
Cabelo: Desgrenhado, sujo, cheio de piolhos
Olhos: Esperançosos, fugazes, remelentos e opacos de fome e vício
Nariz: Quebrado, ranhento e cheio de feridas
Boca: Torta, lábios grossos, segurando baganas de cigarros
Dentes: Poucos, cariados e amarelados pela nicotina
Profissão: Pivete
Esporte: Quebrar vidraças, correr da Policia
Prato predileto: Restos de lixo
Sapato: Quando tem, é roto e seu couro com a sola rachada
Cama: As ruas da cidade, sarjetas e esgotos
Cobertas: As manchetes do mundo e a lua
Futuro: Incerto
Idade: qualquer uma entre zero e quinze anos
Cor: Todas imagináveis (tendência para a roxa...
de frio ou amarela de desidratação)
Sexo: ambos, a indiferença é a mesma
Mãe : Desiludida da Silva
Pai: Zé ou João, alguém que passou (alcoólatra desconhecido)
Cabelo: Desgrenhado, sujo, cheio de piolhos
Olhos: Esperançosos, fugazes, remelentos e opacos de fome e vício
Nariz: Quebrado, ranhento e cheio de feridas
Boca: Torta, lábios grossos, segurando baganas de cigarros
Dentes: Poucos, cariados e amarelados pela nicotina
Profissão: Pivete
Esporte: Quebrar vidraças, correr da Policia
Prato predileto: Restos de lixo
Sapato: Quando tem, é roto e seu couro com a sola rachada
Cama: As ruas da cidade, sarjetas e esgotos
Cobertas: As manchetes do mundo e a lua
Futuro: Incerto
- Algumas pitadas de marginalização, entradas em entidades de bem-estar; sevícias e estupros, a ira despertada e ninguém segura mais. Ora quem se importa com esta pestinha, meio aborto mal sucedido
- Que se Foda!!!
- Venderá jornais, balas, doces e nos sinais quebrará o pára-brisa de carros, roubará bolsas de senhoras, “damas da alta sociedade”,escandalizadas.A inocência será de imediato trocada pela violência que faz parte da neurose urbana
CARTA A UMA AMIGA
Amiga!
Faz tempo que a gente não se vê, não conversamos. Por onde andas não sei, e, principalmente o que fazes?
Se estás magoada, eu tento compreender;
Se estás triste, eu vivo esta culpa;
Se estás feliz, é minha culpa igualmente;
Olha! O bar continua no mesmo lugar,os garçons, as cadeiras, os infelizes de sempre!
Só o cantor é que não tem jeito, continua cada vez mais desafinado.
Esses dias, vi teus olhos passarem apressados, e mais esvoaçante do que nunca estavam teus cabelos.
O medo, o ridículo, falaram mais alto e eu baqueei, corri, te alcancei, e ao virar-te pelos ombros, eras tão desconhecida que ••• chorei.
Fiz um mapa mental, de teu endereço e perdi nos descaminhos traçados.
Continuo como libriano legítimo, navegando entre o desespero e a euforia, entre a treva e a luz, entre o tudo e o nada, na eterna luta pelo equilíbrio.
Sei que os tempos estão difíceis, a luta diária para se garantir um lugar ao sol é ferrenha e hercúlea.
E no Panorama da vida tento encontrar a Passarela para caminhar rumo a teu sorriso.
Conseguirei?
Numa autocrítica ácida, concluí que preciso resgatar coisas boas do passado.
Uma delas é você! Se é que me permites a ousadia.
Na esperança de atingir você,fiz coisas incríveis, joguei com sentimentos, menti! O inferno se abriu sob meus pés, a implorei aos céus procurando Paz.
Hoje te retrato, mas não sinto no olfato teu perfume de névoa, e me perco sem tato, contigo a meu lado, pensamento fugaz, distante e inalcançavel.
Se fosse na época da cegueira, diria que fora uma surpresa grata, uma dádiva, ou qualquer adjetivo usado para expressar a emoção.
Hoje com os pés plantados (?), vejo que mais uma vez fui usado como escudo para tuas manobras dissimuladas.
Quando vais mostrar verdadeiramente a tua personalidade; ou será que já sei como és, e me recuso a enxergar.
Tantas bobagens ditas, juras eternas, tudo inútil e apropriado para nossos intentos.
Foi muita covardia de nossa parte, mas pouco importa. Éramos felizes, mesmo por instantes.
Quanta sacanagem fizemos um para o outro e pagamos em tempos opostos, a peso de ouro.
Qual dos dois é o mais culpado? Não sei! Nos entredevoramos e fomos levados pela turba da insensatez.
Quantas noites passadas em claro, quantas neblinas, chuvas e solidão agüentamos sem pedir arreglo.
Tudo fizemos para alcançar a negação, voltando sempre ao atracadouro inóspito, das marés baixas na paixão fulminante, da cegueira consciente e vã.
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