segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Revisitando Quintana

Uma formiguinha passeava de lado a lado na tela do laptop, e naquela tarde ele não escreveria nada, como se por ali passara todo o frêmito e mistério da vida, porém... Uma mosca espantou a formiga, ele esmagou a mosca com o polegar, manchou a tela e seu poema quebrou o pé e perdeu asas.

domingo, 18 de dezembro de 2016

Saudade





Saudade...
não dos mortos
fato consumado.


Nem dos vivos
talvez...um dia.


A pior saudade...
é aquela que sentimos de nós.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Brasilis

NA: DEDICO ESTE PREMIO a MEUS PAIS 'IN memorian" joão de deus alves e maria vieira, ele por ensinar-me a ler as estrelas e a ela por me dar a luz e inocular em mim o amor pelas letras. primeiro lugar dentre mais de 300 poemas no iv concurso de poesia de eldorado do sul.   gracias a diós.






















Brasilis

Indigena nativo,
Sem fé, sem rei, nem lei.

Preto recém-liberto,
Pão prá cumê, pano prá vesti, pau prá trabáia.

Branco europeu,
Descobridor, explorador,  senhor.

Três raças
Reservas, guetos,palácios.

Caboclos brasileiros
Batizados, súditos, presos.

Mulatos inzoneiros,
Famélicos, andrajosos, vileiros.

Cafuzos desbotados
Invisíveis, cotistas, julgados.

Pindorama. Terra das Palmeiras

Império. Ditadura

Democracia maculada

BRASIL, meu país!  







quarta-feira, 14 de dezembro de 2016


Texto







HERANÇA



Ventava , como ventava
O  frio do amanhecer é um punhal
Invadindo o barraco ínfimo.
João aos sobressaltos pula do catre
Olha candidamente o filho ressonante
No berço de madeira carcomida,
Agarrado ao ursinho de pelúcia,
Presente  dum Papai Noel de outrora

Veste devagar, o fardamento
Apanha o capote-cobertor
Passando o guri prá junto da mãe
 Sob a luz bruxeleante d’uma vela
Dissipa n’agua restos de sonhos.
Maria dorme, grávida, oito meses
Companheira de todas as horas
Faxineira a ajudar na renda familiar

No ônibus  os pensamentos fluem
Talvez  uma “Golfinho” no fim do ano
Como?  Se o comportamento não ajuda.
Por causa de um “bico “ que fez
Prá comprar comida e remédio.
A lista está quase pronta,
E com certeza ,será preterido de novo

A Brigada,está no sague há trinta  anos
Desde piá, nas filas da subsistência
Comprando com “bônus” gêneros a mais,
Azeite, açucar, café, e farinha
Para fazer “”touro”, e o  vício do pai

Seus antepassados que á espada e de a cavalo
Tombaram no chão pátrio do Rio Grande.
Estórias do avô, que nos tempos de Getúlio
Empunhou armas prá defender poderes
Do própio pai, sem soldo no fim do mês.
Brigadianos de estirpe, sempre de fronte erguida
Bravura impar,  orgulhosos de vestir uma  farda

Entra correndo no Batalhão
No parque de armas, retira o armamento
Embarca junto com seu Pelotão
Em um dos caminhões estacionados
Sua missão : Reintegração de posse
Numa fazenda improdutiva

Outro Pelotão terá missão de rotina
Na zona urbana., lixões e favelas.
Ambas tarefas  transcorrem, com êxito.
Descansar e rever a família
É bálsamo sagrado,  é direito,
No caminho de volta, pára no boteco
Compra fiado, cachaça , balas e pão
Mesmo com a farda encharcada
Assobia, canta até, resignado.

Porém... sempre há um porém
Ao dobrar a esquina, para de chofre!
No lusco-fusco da noite que se avizinha
Mal crê no que a vista enxerga.
O que fora um aglomerado de barracos
Não passa de um monturo de escombros
Botado a baixo pela Administração Popular

A sombra de um vulto destaca-se,
Tal qual uma Madona de trapos,
Maria sentada, guri no colo
Olhar perdido no vazio, em choque
João  chora copiosamente, o sal das lágrimas
Sulcam o rosto, esculpido em granito de ébano
Quem desaloja sem-terra, é despejado e vira sem-teto.

Um raio risca o horizonte
No breve clarão,de um raio, revela a  placa de prata
Quase submergida, em meio aos despojos
“Honra ao mérito por bravura”
JOAO DE DEUS VIEIRA ALVES


terça-feira, 22 de novembro de 2016

A ÚLTIMA CARRETEADA




O manto do céu tolda de cinza a manhã, e o negror das nuvens, não dão esperança para que a baeta de um sol  esmaecido e tímido mostre sua cara sonolenta.Os rolos de  fumaça, esporádicos sobem sinuosos e lentos dos casebres do povoado e  esbarram de encontro à bruma insolvente e fundem-se numa massa disforme e espessa. __ Mateio solito, pensativo, avivo os tição do fogo quaje morto, sem baruio pra num acorda us cumpanheiro que dormem debaixo das  carreta, enfrentando a friage cuns pelego e us poncho, o borrachão de canha ficou jogado nas macega, preciso adipindurá , o cusco ainda ressona, ficou torto de um olho ,despois daquela mijada de zurilho , mas ta sempre junto , comendo a sobras, correndo alguma preá, desque o piá da fazenda foi istudá na cidade e deu ele pra mim.Vou buscá a pareia, o Malhado e o Poliango, colocá na canga,prendé o canzil e ajouja bem apertado, inda tem batata, ovo, um poco  de charque, qui  aquele estanceiro nus deu  despois que um capão premiadu dele foi morto a dentada pelo cachorro que subrinho dele troxe lá da Capitar, o subrinho foi mandado imbora e  u cachorro ta interrado lá no campo do fundo, cortemo em manta, salguemo, aproveitemo as paletas, o espinhaço fizemo com pirão, e os quarto dividimo e bamo vendé, mas ele não ache que eu esqueci , num esqueci não...Sou bisneto de carreteiro, já tive uma carreta malhor, quatro junta de boi, atravessemo este campo tudo, era teto de couro,zinco, as mais véia eram quinchado de santa fé, já fumo pra mais de mil, vinha gente de tudo que era lado, Vista Alegre,Caiboaté, Lagoão das Vacas, Copo Xujo, Borso,Batovi. Mas,bueno, um tição já está em brasa, a água da cambona ta chiando, punhei um punhado de café em pó, sem cuador, direto mela, mexo, agora e só coloca o tição em brasa dentro dela, deixar assenta u pó, e com aquela sobra de arroiz cum charque de onte que fico na rapa da panela de ferro cascuda na trempe e u pão de mio dá pra i pra cidade, vê se vendo arguma coisa e intrego u regalo que u pai dele féis , pru piá que já deve ta taludo, um homi feito. Duma feita um daqueles bugre gameleiro,  qui as veiz fica numas barraca de taquara , lá no lava-pé, tomando canha, pitando aqueles pichuá brabo, i si isfaquendo a torto e a direito, acocado  riscando cum pau nu chão  olhando pru nada, mi disse “ sabe Abaunu que piá na minha língua é coração e filho”, Bora cusco, eia boi, eia boi, entremo pelo Independência, atravessemo o Pontilhão do Canjica, vamos costeando, a graxa vai amaciando o gemido dos eixos, lá nu centro, vai zunir e vai avisa us carros , já queles diz que nóis só atrapáia, “ batata-doce?” “ovo ?” “charque”?, num, bueno, seguimo boi,boi,boi, olha aguilhada.Vamu inté u Passo da Lagoa, pedimo proteção pru Arcanjo, cheguemo no pito acesso, troquemu um poço de charque , por fumo em rama e enchemo o borrachão daquela pura , e vamu ao centro, sabe,duns tempo pra cá, canso du nada, boca seca, suadeira, e atempado das orina, mal faço uma veis ,paro já, tenho que mija de novo, pior é as vista, escurece e enuveia i mal inxergo, i cuando cravei aquele pedaço de pau e demorou prá curar? , arruinou e perdi us dedos du pé, uma benzedeira de língua inrolada  falo que pudia ser açucre nu sangue.  Tenho que entregar esta cuartinha prele, sei que meu tempo tá se indo imbora, entrego pra alguém na porta , deve  sê muito ocupado i naum vai perde tempo com um nêgo véio, estropiado i manco com este pano encardido inrolado nu pé  i sempre fedendo.
Cuando tinha fartura , muitas veiz as carretas foram trem de carga e casa de família , passemos trabaio com a muie e os tres fio, a mais veia casou com um moço da cidade , trabalhador e se foi pra Rosário ou Livramento, num trem Minuano e nunca mais mandou noticia, o do meio morreu de picada de cruzeira numa pescaria , í o mais novo , bueno, este causou a desgraceira, fez mal pra uma fia dum fazendeiro ,  introu pela jinela , durante um temporal que fiquemo abrigado nu galpão , i eles trocavam olhar , e dava pra vê que não ia dá boa cosa, embarrigou ela , o pai descobriu, quaxe matou ela a laçaço de soitera , prendeu ela num quarto até o fim da vida dela,  ele inda carretio cumigo, pur um tempo, sempre quieto , pensativo, e nus pouso se afastava e ficava-la com aquele canivetinho , fazendo num sei u quê, até que numa noite , sumiu e foi encontrado inforcado , lá na curva do da estrada que vai prá Pau Fincado , inté hoje todo mundo sabe quem foi o mandante, mas ninguém fala. Enterremo ele ali mesmo enrolado nuns coro de boi e cravemo uma cruz que quaxe nunca para dim pé, us carreteiro levanta ela, coloca pedra, e de novo ela cai.
 E anssim me fui. Bolichemo na carreta cuando parava nas vila, vendemo todo tipo de erva e chá, fumentação e remédio pras bichas dos guris empachado, quando inté com as benzedura duma moça que rezava numa língua istranha , dizam uns que era cigana, era bunita a diaba de zóio verde,  o cabelo parecia inté da minha co, não diantava.
Serviu inté de presídio pur ocasião dum baile lá na Balança, us reiúno da Rural, pegaram uma dupla se passando na conduta cum as moças, babaram eles a mangaço, e salgaram u lombo deles com as “35”, de manhã deram um banho  di açude, pra terminar de curar a borracheira e se mandaram tapar de pueira cum a cachorrada di atráis.
 .Inté de altar pra missa já serviu, um padre que gostava mais de fandango, churrasco e vinho, veiz in quando usava uma dessas pra um latinório, e pela cruiz fazia o sinal e orai pru nobis e de-lhe gaita e dança; e inté ´prá derruba uma percanta servia , e foi numa dessa drumida, que um peão dispois de toma uma puras, me oiou e  disse: “oia deve ser inda da tonturinha da canha com limão que tumei jugando bocha no sor quente, mas conheço um dotô quié tu mais moço, cuspido e escarrado”, só que branco.
Eia boi, boi, toca boi , batata doce,ovo,charque,melancia,menduim, galinha gorda,moranga,mogango; boi,boi, não sinto as mãos, zumbido nos zuvido, deixo a quartinha na entrada, alguém entrega prele, eu guento, tamo chegando, não moça não sou mendingo, sou carreteiro, prantadô da terra, num sou ladrão.
 __ O Doutor já fez a filantropia do dia, tire uma ficha. Tome um banho. Volta pra carreta, que ficou atravessada na via pública, atrapalhando o trânsito, já não enxerga mais, língua grossa, sede, çalca mijada, e os cotocos dos dedos ,em pus e sangue putrefato. A aguilhada no peito, do vento que faz a carreta de várias toneladas carregada de bois , jogar seu corpo para o ar e romper a cabeça no meio fio; como um melão maduro, e a quartinha rola de seus braços e revela seu conteúdo.
Acodem correndo curiosos, e populares e também o médico da emergência.
Lembra que sua mãe nunca revelara quem fora seu pai, mas sabia que era neto de carreteiro.

Ali na calçada , junto ao corpo sem vida, “uma carreta  de papelão; com  as rodas raiadas feitas com carvão, uma junta de bois feita de sabugo de milho,   que seu pai falquejara nas noites de pouso sob as estrelas”, para um filho... o lamento dos eixos da carreta ecoam pela rua puxada pelo reboque.      









quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Praça XV ( Lira III)

Por Eivair Sued Selva


Tu não terás, CECILIA, mil vestidos
A moldurarem teu corpo na primavera
Ou cobrir-te nos invernos desabridos
Só furada flanela

Não irás cobrir teu frágil seio
Nas noites solitárias pela rua
Nem a cicatriz no rosto feio
Na minguante lua

Não terás que comer os jovens ratos
Salgar as cicatrizes das sovas
O lixo e a pedra serão teus pratos
As sarjetas tuas alcovas

Não irás namorar brancos ricaços
De becas novas de famosa grife
Nem mesa posta , pão e vinho
Fel da boca vomite

Terás em volta da rançosa vela
Fartos negrumes de enjeitados filhos
Dar-me-ás teu sexo imundo
Até sangrar teus mamilos

Enquanto removem seus corruptos
Tu nos trarás cobertas quentinhas
Tendo as fotos da máfia estampada
E o rosto das santinhas

Terás em baixa luz a miragem fosca
Eu sendo que lhe dá o parco sustento
Cansado beberei o gim de borco
Junto ao cão sarnento

Se continuares fingindo a dormida
CECILIA, já não lhe sinto a quentura
Diluvio podre, infame avenida
A tua sepultura

sábado, 3 de setembro de 2016

AMÈLIA *



AMÈLIA *
*(Baseado numa estória real)

Quando Amélia desfaleceu
Estava de porre a cantar
Riu duma puta no breu
Riu doutra puta do lar

No talho em que feneceu
Sangrou-se toda a chorar
Queria fugir ao léu
Queria sair do ar

Num desatino seu
Em espasmos a vomitar
“Foi tudo pro beleléu”
Gritava o dono o bar

A polícia que lá ocorreu
Viram o pulso sem latejar
Amélia coberta com véu
E o corpo no chão do bar









quarta-feira, 31 de agosto de 2016

ESTÁTICA


A onda do mar, na tela do quadro
O grito esculpido na estátua de pedra
Os aposentados junto a cancha de bocha
O trânsito na hora do pico
A bóia n’ água, esperando a fisgada do peixe
O sol mormacento no asfalto escaldante
O coração no susto súbito
A mão espalmada no pára-brisa do ônibus
A bola na marca do pênalti
O homem do crucifixo na parede
O navio atracado no porto
.......................
Tudo está parado, como o poeta a suspirar,pela musa ingrata.
JOAO DE DEUS VIEIRA ALVES

terça-feira, 30 de agosto de 2016

POÇO (Drogas Caminhos sem volta ?)

POÇO (Drogas Caminhos sem volta)



Olhos injetados de sangue, cegos e parciais
Brilho sinistro, zombeteiro
dentes escuros, arreganhados
veias à mostra
cérebro pulsando, em decomposição
cabelos arrepiados, espicaçados
ouvidos surdos aos clamores justos
retrato falado da sociedade
quando vista no espelho da nudez diária

cada dentada a raiva espelha
o ódio floresce
o amor é caótico
corre ácido corrosivo nos pulsos flácidos
o rei comanda o que lhe convém
os ramos abraçam os incautos
e...quem é pego de surpresa
impreterivelmente, dança

mas não adianta fugir
nas unhas afiadas ficarão fiapos de carne
este berro hediondo será ouvido
no fundo do poço.
Adeus...ou não!
JOAO DE DEUS VIEIRA ALVES
















O Sapateiro

O Sapateiro

 Chamam-no Simão, Simão sapateiro
 Trabalha numa rua bucólica, lúgubre.
 Não possuí máquinas
 Parou no tempo, há séculos atrás
 Conserta sapatos, arruma vidas
 Dança em salões, marcha em  paradas militares
Sempre no cepo de três pernas, 
assento de tiras de couro surrado

 Soar com-pas-sa-do do martelo
 Entre a borracha e o pé-de-ferro.
Olhos miúdos, marejados, opacos
pince-nez na borda do nariz, colado com fita adesiva
Vê resignado o presente e o passado

A vida flui a largas passadas
E... Simão nem nota
O rosto sulcado, as mãos calejadas
Sem distinguir dedos, de cola

A tosse rouca, unhas carcomidas
Solas, fivelas, agulha curvada

Simão deixa a vida correr na janela

JOÃO DE DEUS VIEIRA ALVES







segunda-feira, 22 de agosto de 2016

ANÔNIMA


À une passante 
La rue assourdissante autour de moi hurlait.
Longue, mince, en grand deuil, douleur majestueuse ,
Une femme passa, d’ une main fastueuse
Soulevant, balançant le feston et l’ourlet;



ANÔNIMA

As calçadas molhadas
refletem teu rosto, pisado
por milhares de passos apressados

teu cabelo molhado, colado
esculpido na nuca em belo contorno

a chuva inebriante, encantada
te vê dançando “amarelinha”
esquivante e improvisada

somes no meio da loja
e...
só gotejam os pingos
no vidro, invólucro
das bijuterias expostas

Aos poucos teu perfume esvai-se
JÕAO DE DEUS VIEIRA ALVES



NA: Poeminha dos anos 90, Baudelaire foi-me apresentado em 2010 . 

Medalhas






Medalhas são eternas e a fome idem.

Bairro Nobre de Porto Alegre no Ano da Graça de 2016.

B R A S I L



quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Análise do Conto. Uma vela para Dario



Análise do Conto. Uma vela para Dario


A. Intensidade - A narrativa é sequencial, frase curtas quase telegráfica, mostrando o necessário, com muitas informações, uma sucessão frenética de acontecimentos, porém há noção do limite por parte do autor.

B. Brevidade – A seqüência de fatos ocorre, as personagens descritas por tipos físicos, profissões, sexo, cor, idades, a ação passa-se numa noite no espaço de duas a três horas.

C. Revelação da vida de uma personagem- Mostrando os últimos instantes de vida de Dario sabemos que ele sofria de ataque, talvez epilético, era um homem precavido, pois portava guarda-chuva, gosto refinado, aristocrático, pois fumava cachimbo, vestia paletó, gravata, alfinete de pérola, relógio de pulso, aliança, portava todos os documentos, era forasteiro, e tinha uma marca de nascença.

D. A economia dos meios narrativos – é o ponto alto do conto, sendo que cada personagem que compõem o conto, um senhor gordo, um rapaz de bigodes, uma velhinha de cabelos grisalhos, moradores das ruas, motorista de táxi, guarda, um menino de cor, os locais citados, o táxi, onde o levou, a peixaria que o deixaram, farmácia que ficava na outra quadra, o café onde as pessoas bebiam, faz com que o leitor, crie e obtenha novas estórias através dos fatos elencados.

         Uma Vela para Dario, é um conto para ser lido e relido e dissecado frase á frase.  










    
 


Baleia de Graciliano Ramos - Breve Análise





 No conto Baleia de  Graciliano Ramos,  que também é um capitulo do livro “ Vidas Secas”, aliás o autor partiu dele para compor o livro, temos características marcantes de intensidade e tensão, no qual a personagem principal é uma cadela, e o autor imprime dose de humanidade tal, que as demais personagens humanas passam a ser periféricas, como Fabiano, sinhá Vitória e os meninos que nem nome tem.

1.      Revelação da vida de uma personagem

Começa o conto descrevendo o estado físico da Cadela Baleia , cheia de chagas, quase sem pelos, enorme feridas abertas, cobertas de moscas que lhe conferiam o aspecto de um arremedo de animal, e ainda com suspeita de hidrofobia (raiva canina), tinha amarrado ao pescoço um colar de sabugos (crendice popular) para curar  a raiva. Tratavam-na como uma pessoa da família ao ponto de não haver diferenciação entre ela e os meninos nas brincadeiras e agruras da fome. A decisão tomada por Fabiano em por fim aquele sofrimento, com um tiro de espingarda.
      Por parte de sinhá Vitória há pena e nojo, revolta contra  Fabiano, por não esperar mais um dia para a execução e por fim resignação. Após a decisão Fabiano caça Baleia pelo pátio, que atingida foge e embrenha-se no mato.

.“ E, perdendo muito sangue andou como gente em dois pés, arrastando-se com dificuldade a parte posterior do do corpo”( Pag 2, par 6) . Consegue esconder-se numa nesga de  sombra que ladeava a pedra,  e na agonia da morte que se aproximava “relembra” os momentos de sua vida, o nascimento, o tratamento que recebeu, sendo acolhida e cuidada e julga por não ter cumprido as tarefas mais comezinhas, estava sendo punida, e neste delírio “pre mortem” um mundo novo descortina-se em sua mente, com abundância de comida, felicidade, liberdade que a noite que chegou proporcionará”

O oitavo item do decálogo do perfeito contista de Horácio Quiroga serve como referência como Graciliano conduz a vida de suas personagens no conto
 “ Toma teus personagens pela mão e leva-os firmemente até o final, sem atentar senão para o caminho que traçaste. Não te distrai vendo o que eles não podem ver ou o que não lhes importa. Não abusa do leitor. Um conto é uma novela depurada de excessos. Considera isso uma verdade absoluta, ainda que não o seja.”(Horácio Quiroga)


2.      Tensão

Neste conto existem momentos de tensão e intensidade marcantes, tais como o municiamento da espingarda. “  Escutou, ouviu o rumor do chumbo que se derramava no cano da arma, as pancadas surdas da vareta na bucha. Suspirou. Coitadinha da Baleia.( Pag 1, par.9).

3.       Intensidade
As minúcias dos detalhes criam uma cena intensa para o denselace.
“Em seguida entrou na sala, atravessou o corredor e chegou à janela baixa da cozinha. Examinou o terreiro, viu Baleia coçando-se a e esfregar as peladuras no pé de turco, levou a espingarda ao rosto. A cachorra espiou o dono desconfiada, enroscou-se no tronco e foi-se desviando, até ficar no outro lado da árvore, agachada e arisca, mostrando apenas as pupilas negras. Aborrecido com esta manobra, Fabiano saltou a janela, esgueirou-se ao longo da cerca do curral, deteve-se no mourão do canto elevou de novo a arma ao rosto. Como o animal estivesse de frente e não apresentasse bom alvo, adiantou-se mais alguns passos. Ao chegar às catingueiras, modificou a pontaria e puxou o gatilho. A carga alcançou os quartos de Baleia, que se pôs latir desesperadamente.(Página 2, Par 3).”

4.      Efeito Único
  
Não há reviravolta no conto, ele segue de forma linear até o seu desfecho o parágrafo inicial leva ao encontro do parágrafo final. 
A CACHORRA Baleia estava para morrer. Tinha emagrecido, o pelo caíra-lhe em vários pontos, as costelas avultavam num fundo róseo, onde manchas escuras supuravam e sangravam, cobertas de moscas. As chagas da boca e a inchação dos beiços dificultavam-lhe a comida e a bebida”( Pag 1, par 1.)
Note-se a informação em maiúscula na segunda palavra do parágrafo, ele nos diz que a cachorra vai morrer, já preparou o leitor. E fecha o conto usando como metáfora da morte o verbo dormir, o sofrimento pela felicidade, a fome pela fartura, perdoando o seu algoz, voltando a brincar com as crianças. “Baleia queria dormir. Acordaria feliz, num mundo cheio de preás. E lamberia as mãos de Fabiano, um Fabiano enorme. As crianças se espojariam com ela, rolariam com ela num pátio enorme, num chiqueiro enorme. O mundo ficaria todo cheio de preás, gordos, enormes.”(pag3, Parágrafo Final). E neste particular o conto  é fiel ao quinto mandamento do perfeito contista , “Não começa a escrever sem saber, desde a primeira palavra, aonde vais. Num conto bem-feito, as três primeiras linhas têm quase a mesma importância das três últimas.Horácio Quiroga, e obedece a máxima literalmente de Anton Tchekov, “se colocar uma espingarda no conto ela vai ter que disparar até o final.”












O Conto O Barril do Amontillado - Breve Análise





O Conto O Barril do Amontillado narra a estória de um homem que tem a determinação ferrenha de vingar-se de “mil e uma injúrias” de seu desafeto um homem chamado Fortunato, que tem sua cobiça, soberba e empáfia incentivadas, quando desafiado a provar um vinho que o comprador desconfia que não seja o verdadeiro amontillado, e sua ganância o leva a subterrâneo do palacete do narrador, onde um cenário já está preparado para seu emparedamento.

1)      Intensidade e Tensão

                 O conto e todo permeado por intensidade e tensão, desde a ideia fixa de vingança, a cooptação da vitima, o seu convencimento, o jogo de gato e rato, a tortura psicológica, os contra argumentos, e a soberba e ganancia.  “.Suportei o melhor que pude as mil e uma injúrias de Fortunato; mas quando começou a entrar pelo insulto, jurei vingança”.(Pag 1, par 1.)

2)      Unidade Construção

O conto prende o leitor desde a primeira linha até o seu desfecho, vive-se intensamente, a desventura de Fortunato ( infortunado), ironia com seu nome, ficamos embriagados com ele, tossimos desesperadamente, e sentimos o frio e umidade do salitre, e principalmente o terror e pânico, que todo o ser humano carrega, o de ser enterrado vivo, o caso neste emparedamento. E neste desiderato nos socorre Hemingway “ No conto, o escritor ganha por nocaute, no romance por pontos”


3.Efeito Único

  Há efeito entre a primeira frase do conto e seu desfecho surpreendente, não é inesperado por ele leva a cabo seu intento, e daqueles contos para ler-se numa sentada, ficar impactado e depois levar com calma e minucia saboreando cada palavra e descobrir o motivo de tão cruel vingança.  



João de Deus Vieira Alves



terça-feira, 12 de julho de 2016

Angioplastia (Baseada no Poema Pneumatórax)







Palpitações, isquemia, apneia e tremores noturnos.
A vida inteira que sonhou e que não viveu.
Arritmia, arritmia, arritmia.
Foi levado ao médico.
___ Diga quarenta e cinco.
___ Treze... treze...treze...
___ Inspire.
...................................................................................................
__ O senhor tem duas artérias entupidas e o coração está fraco.
__ Então, doutor, não é possível tentar a cineangiocoronarioplastia?
__ Não. A única coisa a fazer é dançar um funk ostentação.
JOAO DE DEUS VIEIRA ALVES






segunda-feira, 11 de julho de 2016

Soneto de (In) Fidelidade





Se, mudo de amante ,eu não aguento!

Nunca pelo desmazelo, pois sempre sustento

É a velhice chegando nas asas do vento;

Pois, até despir a roupa, causa sofrimento!



Quando a noite o sonho for tormento,

Nem um doutor, nem uma mãe-de-santo

Hão de ver meu siso num esgar de espanto,

Para benzer ou mitigar meu sofrimento,





Em mim tua lembrança, cruel me torture

Quem teve a sorte,e astúcia de detetive

Quem teve a lassidão,  na grama e lama.





Rezo que a ereção  sempre perdure.
Eu possa te dizer o pavor(que tive):

No bacanal o viagra, jazer sob a cama.


JOAO DE DEUS VIEIRA ALVES















sexta-feira, 1 de julho de 2016

PRAÇA XV Nº 16


PRAÇA XV Nº 16


O amigo Oculto

" Alguns segredos devem permanecer escondidos. "





          Todo mês de março, após a ressaca das férias, quando a vida começa lentamente a tomar conta de nós e o ano finalmente parece que vai deslanchar, uma das tarefas que não se pode abrir mão, para quem tem filhos em idade escolar.É a romaria de pais, levando a tiracolo as famigeradas listas de materiais a serem comprados, a fim de encarar o ano letivo.


              Munidos de paciência, tempo, pouco dinheiro, fomos cumprir a gincana de: Pergunta daqui? Especula dali? Pechincha acolá?

Após semanas de intensa aventura, por livrarias, feiras e a grande novidade do momento: As lojas de preço único. Finalmente, quando se pensa que tudo está resolvido...


A pergunta vem, rascante, seca e implacável, no intervalo do Jornal Nacional, no exato momento do ajeitar da erva na cuia.
__ E a mochila, Pai?



Mochila:  serve para causar deslocamento na coluna,carregar livros, cadernos, mini-games, merenda; no caso dos adolescentes o inseparável telefone celular ( que nunca tem cartão e/ou está na caixa postal,e as vezes como certos centroavantes “fora da área de cobertura”), e nos intervalos dos recreios, recheada de jornais serve também de bola.



Isto posto, refeitos do susto , os calos e a bolhas dos pés, já sofrendo de antemão, vamos dormir e ter sonhos coloridos com mochilas, merendeiras, malas e todo o tipo de bagageiro.



Após um dia de trabalho, a caminho de casa, chegamos numa banca de camelôs, com artigos importados, bugigangas “paraguayas”, onde estavam expostas diversas mochilas.



Fomos atendidos por um casal jovem, atenciosos e solícitos, e uma graça de criança que estava no carinho, que chamava atenção pelo intenso azul de seus olhos e os cabelos louros cacheados.



Mas, como filho que estuda pela manhã, e mora dentro da televisão à tarde, se não for mochila do “POWER RANGERS”, não serve.



Voltamos a banca para trocar a mochila. Só que desta vez ao invés do simpático casal com seu lindo bebê, quem nos atende, é um senhor grisalho. Diante da pergunta inevitável, por eles, o surpreso vendedor, nos argumentou que faria a troca da mercadoria, e era proprietário daquela banca naquele local a mais de dez anos, e não conhecia nenhum casal conforme a descrição feita por nós, no que foi corroborado pelo demais proprietários de bancas da rua.



Ainda, sestrosos e incrédulos, fomos abordados por um vendedor de cahorro-quente, que ouvia a conversa:



__ Olha, senhor, um casal com estas características, teve uma banca aqui, há mais ou menos quinze anos, mas foram mortos num assalto junto com seu filhinho.
Pesquisando, nos arquivos da Policia , descobri num jornal de quinze anos atrás, com a seguinte manchete:
CRIME NA PRAÇA
 “Casal de artesões é barbaramente assassinado, junto com seu filho.
     Nas fotos que ilustravam a reportagem, estava o simpático casal, que nos vendera a mochila e seu filho  tinha o sorriso mais radiante, que nunca.




JOAO DE DEUS VIEIRA ALVES