segunda-feira, 19 de dezembro de 2016
Revisitando Quintana
Uma formiguinha passeava de lado a lado na tela do laptop, e naquela tarde ele não escreveria nada, como se por ali passara todo o frêmito e mistério da vida, porém... Uma mosca espantou a formiga, ele esmagou a mosca com o polegar, manchou a tela e seu poema quebrou o pé e perdeu asas.
domingo, 18 de dezembro de 2016
Saudade
Saudade...
não dos mortos
fato consumado.
Nem dos vivos
talvez...um dia.
A pior saudade...
é aquela que sentimos de nós.
quinta-feira, 15 de dezembro de 2016
Brasilis
NA: DEDICO ESTE PREMIO a MEUS PAIS 'IN memorian" joão de deus alves e maria vieira, ele por ensinar-me a ler as estrelas e a ela por me dar a luz e inocular em mim o amor pelas letras. primeiro lugar dentre mais de 300 poemas no iv concurso de poesia de eldorado do sul. gracias a diós.
Brasilis
Indigena nativo,
Sem fé, sem rei, nem lei.
Preto recém-liberto,
Pão prá cumê, pano prá vesti, pau prá trabáia.
Branco europeu,
Descobridor, explorador, senhor.
Três raças
Reservas, guetos,palácios.
Caboclos brasileiros
Batizados, súditos, presos.
Mulatos inzoneiros,
Famélicos, andrajosos, vileiros.
Cafuzos desbotados
Invisíveis, cotistas, julgados.
Pindorama. Terra das Palmeiras
Império. Ditadura
Democracia maculada
BRASIL, meu país!
quarta-feira, 14 de dezembro de 2016
Texto
HERANÇA
Ventava , como ventava
O frio do amanhecer é um punhal
Invadindo o barraco ínfimo.
João aos sobressaltos pula do catre
Olha candidamente o filho ressonante
No berço de madeira carcomida,
Agarrado ao ursinho de pelúcia,
Presente dum Papai Noel de outrora
Veste devagar, o fardamento
Apanha o capote-cobertor
Passando o guri prá junto da mãe
Sob a luz bruxeleante d’uma vela
Dissipa n’agua restos de sonhos.
Maria dorme, grávida, oito meses
Companheira de todas as horas
Faxineira a ajudar na renda familiar
No ônibus os pensamentos fluem
Talvez uma “Golfinho” no fim do ano
Como? Se o comportamento não ajuda.
Por causa de um “bico “ que fez
Prá comprar comida e remédio.
A lista está quase pronta,
E com certeza ,será preterido de novo
A Brigada,está no sague há trinta anos
Desde piá, nas filas da subsistência
Comprando com “bônus” gêneros a mais,
Azeite, açucar, café, e farinha
Para fazer “”touro”, e o vício do pai
Seus antepassados que á espada e de a cavalo
Tombaram no chão pátrio do Rio Grande.
Estórias do avô, que nos tempos de Getúlio
Empunhou armas prá defender poderes
Do própio pai, sem soldo no fim do mês.
Brigadianos de estirpe, sempre de fronte erguida
Bravura impar, orgulhosos de vestir uma farda
Entra correndo no Batalhão
No parque de armas, retira o armamento
Embarca junto com seu Pelotão
Em um dos caminhões estacionados
Sua missão : Reintegração de posse
Numa fazenda improdutiva
Outro Pelotão terá missão de rotina
Na zona urbana., lixões e favelas.
Ambas tarefas transcorrem, com êxito.
Descansar e rever a família
É bálsamo sagrado, é direito,
No caminho de volta, pára no boteco
Compra fiado, cachaça , balas e pão
Mesmo com a farda encharcada
Assobia, canta até, resignado.
Porém... sempre há um porém
Ao dobrar a esquina, para de chofre!
No lusco-fusco da noite que se avizinha
Mal crê no que a vista enxerga.
O que fora um aglomerado de barracos
Não passa de um monturo de escombros
Botado a baixo pela Administração Popular
A sombra de um vulto destaca-se,
Tal qual uma Madona de trapos,
Maria sentada, guri no colo
Olhar perdido no vazio, em choque
João chora copiosamente, o sal das lágrimas
Sulcam o rosto, esculpido em granito de ébano
Quem desaloja sem-terra, é despejado e vira sem-teto.
Um raio risca o horizonte
No breve clarão,de um raio, revela a placa de prata
Quase submergida, em meio aos despojos
“Honra ao mérito por bravura”
JOAO DE DEUS VIEIRA ALVES
terça-feira, 22 de novembro de 2016
A ÚLTIMA CARRETEADA
O manto do céu tolda de cinza a manhã,
e o negror das nuvens, não dão esperança para que a baeta de um sol esmaecido e tímido mostre sua cara
sonolenta.Os rolos de fumaça, esporádicos
sobem sinuosos e lentos dos casebres do povoado e esbarram de encontro à bruma insolvente e
fundem-se numa massa disforme e espessa. __ Mateio solito, pensativo, avivo os
tição do fogo quaje morto, sem baruio pra num acorda us cumpanheiro que dormem debaixo
das carreta, enfrentando a friage cuns
pelego e us poncho, o borrachão de canha ficou jogado nas macega, preciso adipindurá
, o cusco ainda ressona, ficou torto de um olho ,despois daquela mijada de
zurilho , mas ta sempre junto , comendo a sobras, correndo alguma preá, desque
o piá da fazenda foi istudá na cidade e deu ele pra mim.Vou buscá a pareia, o
Malhado e o Poliango, colocá na canga,prendé o canzil e ajouja bem apertado,
inda tem batata, ovo, um poco de
charque, qui aquele estanceiro nus
deu despois que um capão premiadu dele
foi morto a dentada pelo cachorro que subrinho dele troxe lá da Capitar, o
subrinho foi mandado imbora e u cachorro
ta interrado lá no campo do fundo, cortemo em manta, salguemo, aproveitemo as
paletas, o espinhaço fizemo com pirão, e os quarto dividimo e bamo vendé, mas
ele não ache que eu esqueci , num esqueci não...Sou bisneto de carreteiro, já
tive uma carreta malhor, quatro junta de boi, atravessemo este campo tudo, era
teto de couro,zinco, as mais véia eram quinchado de santa fé, já fumo pra mais
de mil, vinha gente de tudo que era lado, Vista Alegre,Caiboaté, Lagoão das
Vacas, Copo Xujo, Borso,Batovi. Mas,bueno, um tição já está em brasa, a água da
cambona ta chiando, punhei um punhado de café em pó, sem cuador, direto mela,
mexo, agora e só coloca o tição em brasa dentro dela, deixar assenta u pó, e
com aquela sobra de arroiz cum charque de onte que fico na rapa da panela de
ferro cascuda na trempe e u pão de mio dá pra i pra cidade, vê se vendo arguma
coisa e intrego u regalo que u pai dele féis , pru piá que já deve ta taludo,
um homi feito. Duma feita um daqueles bugre gameleiro, qui as veiz fica numas barraca de taquara , lá
no lava-pé, tomando canha, pitando aqueles pichuá brabo, i si isfaquendo a
torto e a direito, acocado riscando cum
pau nu chão olhando pru nada, mi disse “
sabe Abaunu que piá na minha língua é coração e filho”, Bora cusco, eia boi,
eia boi, entremo pelo Independência, atravessemo o Pontilhão do Canjica, vamos
costeando, a graxa vai amaciando o gemido dos eixos, lá nu centro, vai zunir e
vai avisa us carros , já queles diz que nóis só atrapáia, “ batata-doce?” “ovo
?” “charque”?, num, bueno, seguimo boi,boi,boi, olha aguilhada.Vamu inté u
Passo da Lagoa, pedimo proteção pru Arcanjo, cheguemo no pito acesso, troquemu
um poço de charque , por fumo em rama e enchemo o borrachão daquela pura , e
vamu ao centro, sabe,duns tempo pra cá, canso du nada, boca seca, suadeira, e
atempado das orina, mal faço uma veis ,paro já, tenho que mija de novo, pior é
as vista, escurece e enuveia i mal inxergo, i cuando cravei aquele pedaço de
pau e demorou prá curar? , arruinou e perdi us dedos du pé, uma benzedeira de
língua inrolada falo que pudia ser
açucre nu sangue. Tenho que entregar
esta cuartinha prele, sei que meu tempo tá se indo imbora, entrego pra alguém
na porta , deve sê muito ocupado i naum vai
perde tempo com um nêgo véio, estropiado i manco com este pano encardido
inrolado nu pé i sempre fedendo.
Cuando tinha fartura , muitas veiz as
carretas foram trem de carga e casa de família , passemos trabaio com a muie e
os tres fio, a mais veia casou com um moço da cidade , trabalhador e se foi pra
Rosário ou Livramento, num trem Minuano e nunca mais mandou noticia, o do meio
morreu de picada de cruzeira numa pescaria , í o mais novo , bueno, este causou
a desgraceira, fez mal pra uma fia dum fazendeiro , introu pela jinela , durante um temporal que
fiquemo abrigado nu galpão , i eles trocavam olhar , e dava pra vê que não ia
dá boa cosa, embarrigou ela , o pai descobriu, quaxe matou ela a laçaço de soitera
, prendeu ela num quarto até o fim da vida dela, ele inda carretio cumigo, pur um tempo, sempre
quieto , pensativo, e nus pouso se afastava e ficava-la com aquele canivetinho
, fazendo num sei u quê, até que numa noite , sumiu e foi encontrado inforcado
, lá na curva do da estrada que vai prá Pau Fincado , inté hoje todo mundo sabe
quem foi o mandante, mas ninguém fala. Enterremo ele ali mesmo enrolado nuns
coro de boi e cravemo uma cruz que quaxe nunca para dim pé, us carreteiro
levanta ela, coloca pedra, e de novo ela cai.
E anssim me fui. Bolichemo na carreta cuando
parava nas vila, vendemo todo tipo de erva e chá, fumentação e remédio pras
bichas dos guris empachado, quando inté com as benzedura duma moça que rezava
numa língua istranha , dizam uns que era cigana, era bunita a diaba de zóio
verde, o cabelo parecia inté da minha
co, não diantava.
Serviu inté de presídio pur ocasião
dum baile lá na Balança, us reiúno da Rural, pegaram uma dupla se passando na
conduta cum as moças, babaram eles a mangaço, e salgaram u lombo deles com as
“35”, de manhã deram um banho di açude,
pra terminar de curar a borracheira e se mandaram tapar de pueira cum a
cachorrada di atráis.
.Inté de altar pra missa já serviu, um padre
que gostava mais de fandango, churrasco e vinho, veiz in quando usava uma dessas
pra um latinório, e pela cruiz fazia o sinal e orai pru nobis e de-lhe gaita e
dança; e inté ´prá derruba uma percanta servia , e foi numa dessa drumida, que
um peão dispois de toma uma puras, me oiou e
disse: “oia deve ser inda da tonturinha da canha com limão que tumei
jugando bocha no sor quente, mas conheço um dotô quié tu mais moço, cuspido e
escarrado”, só que branco.
Eia boi, boi, toca boi , batata doce,ovo,charque,melancia,menduim,
galinha gorda,moranga,mogango; boi,boi, não sinto as mãos, zumbido nos zuvido,
deixo a quartinha na entrada, alguém entrega prele, eu guento, tamo chegando,
não moça não sou mendingo, sou carreteiro, prantadô da terra, num sou ladrão.
__ O Doutor já fez a filantropia do dia, tire
uma ficha. Tome um banho. Volta pra carreta, que ficou atravessada na via
pública, atrapalhando o trânsito, já não enxerga mais, língua grossa, sede,
çalca mijada, e os cotocos dos dedos ,em pus e sangue putrefato. A aguilhada no
peito, do vento que faz a carreta de várias toneladas carregada de bois , jogar
seu corpo para o ar e romper a cabeça no meio fio; como um melão maduro, e a
quartinha rola de seus braços e revela seu conteúdo.
Acodem correndo curiosos, e populares
e também o médico da emergência.
Lembra que sua mãe nunca revelara quem
fora seu pai, mas sabia que era neto de carreteiro.
Ali na calçada , junto ao corpo sem
vida, “uma carreta de papelão; com as rodas raiadas feitas com carvão, uma junta
de bois feita de sabugo de milho, que seu pai falquejara nas noites de pouso sob
as estrelas”, para um filho... o lamento dos eixos da carreta ecoam pela rua
puxada pelo reboque.
quinta-feira, 6 de outubro de 2016
Praça XV ( Lira III)
Por Eivair Sued Selva
Tu não terás, CECILIA, mil vestidos
A moldurarem teu corpo na primavera
Ou cobrir-te nos invernos desabridos
Só furada flanela
A moldurarem teu corpo na primavera
Ou cobrir-te nos invernos desabridos
Só furada flanela
Não irás cobrir teu frágil seio
Nas noites solitárias pela rua
Nem a cicatriz no rosto feio
Na minguante lua
Nas noites solitárias pela rua
Nem a cicatriz no rosto feio
Na minguante lua
Não terás que comer os jovens ratos
Salgar as cicatrizes das sovas
O lixo e a pedra serão teus pratos
As sarjetas tuas alcovas
Salgar as cicatrizes das sovas
O lixo e a pedra serão teus pratos
As sarjetas tuas alcovas
Não irás namorar brancos ricaços
De becas novas de famosa grife
Nem mesa posta , pão e vinho
Fel da boca vomite
De becas novas de famosa grife
Nem mesa posta , pão e vinho
Fel da boca vomite
Terás em volta da rançosa vela
Fartos negrumes de enjeitados filhos
Dar-me-ás teu sexo imundo
Até sangrar teus mamilos
Fartos negrumes de enjeitados filhos
Dar-me-ás teu sexo imundo
Até sangrar teus mamilos
Enquanto removem seus corruptos
Tu nos trarás cobertas quentinhas
Tendo as fotos da máfia estampada
E o rosto das santinhas
Tu nos trarás cobertas quentinhas
Tendo as fotos da máfia estampada
E o rosto das santinhas
Terás em baixa luz a miragem fosca
Eu sendo que lhe dá o parco sustento
Cansado beberei o gim de borco
Junto ao cão sarnento
Eu sendo que lhe dá o parco sustento
Cansado beberei o gim de borco
Junto ao cão sarnento
Se continuares fingindo a dormida
CECILIA, já não lhe sinto a quentura
Diluvio podre, infame avenida
A tua sepultura
CECILIA, já não lhe sinto a quentura
Diluvio podre, infame avenida
A tua sepultura
sábado, 3 de setembro de 2016
AMÈLIA *
*(Baseado numa estória real)
Quando Amélia desfaleceu
Estava de porre a cantar
Riu duma puta no breu
Riu doutra puta do lar
No talho em que feneceu
Sangrou-se toda a chorar
Queria fugir ao léu
Queria sair do ar
Num desatino seu
Em espasmos a vomitar
“Foi tudo pro beleléu”
Gritava o dono o bar
A polícia que lá ocorreu
Viram o pulso sem latejar
Amélia coberta com véu
E o corpo no chão do bar
quarta-feira, 31 de agosto de 2016
ESTÁTICA
A onda do mar, na tela do quadro
O grito esculpido na estátua de pedra
Os aposentados junto a cancha de bocha
O trânsito na hora do pico
A bóia n’ água, esperando a fisgada do peixe
O sol mormacento no asfalto escaldante
O coração no susto súbito
A mão espalmada no pára-brisa do ônibus
A bola na marca do pênalti
O homem do crucifixo na parede
O navio atracado no porto
.......................
O grito esculpido na estátua de pedra
Os aposentados junto a cancha de bocha
O trânsito na hora do pico
A bóia n’ água, esperando a fisgada do peixe
O sol mormacento no asfalto escaldante
O coração no susto súbito
A mão espalmada no pára-brisa do ônibus
A bola na marca do pênalti
O homem do crucifixo na parede
O navio atracado no porto
.......................
Tudo está parado, como o poeta a suspirar,pela musa ingrata.
terça-feira, 30 de agosto de 2016
POÇO (Drogas Caminhos sem volta ?)
POÇO (Drogas Caminhos sem volta)
Olhos injetados de sangue, cegos e parciais
Brilho sinistro, zombeteiro
dentes escuros, arreganhados
veias à mostra
cérebro pulsando, em decomposição
cabelos arrepiados, espicaçados
ouvidos surdos aos clamores justos
retrato falado da sociedade
quando vista no espelho da nudez diária
cada dentada a raiva espelha
o ódio floresce
o amor é caótico
corre ácido corrosivo nos pulsos flácidos
o rei comanda o que lhe convém
os ramos abraçam os incautos
e...quem é pego de surpresa
impreterivelmente, dança
mas não adianta fugir
nas unhas afiadas ficarão fiapos de carne
este berro hediondo será ouvido
no fundo do poço.
Adeus...ou não!
Brilho sinistro, zombeteiro
dentes escuros, arreganhados
veias à mostra
cérebro pulsando, em decomposição
cabelos arrepiados, espicaçados
ouvidos surdos aos clamores justos
retrato falado da sociedade
quando vista no espelho da nudez diária
cada dentada a raiva espelha
o ódio floresce
o amor é caótico
corre ácido corrosivo nos pulsos flácidos
o rei comanda o que lhe convém
os ramos abraçam os incautos
e...quem é pego de surpresa
impreterivelmente, dança
mas não adianta fugir
nas unhas afiadas ficarão fiapos de carne
este berro hediondo será ouvido
no fundo do poço.
Adeus...ou não!
O Sapateiro
O Sapateiro
Chamam-no Simão, Simão sapateiro
Trabalha numa rua bucólica, lúgubre.
Não possuí máquinas
Parou no tempo, há séculos atrás
Conserta sapatos, arruma vidas
Dança em salões, marcha em paradas militares
Sempre no cepo de três pernas,
Trabalha numa rua bucólica, lúgubre.
Não possuí máquinas
Parou no tempo, há séculos atrás
Conserta sapatos, arruma vidas
Dança em salões, marcha em paradas militares
Sempre no cepo de três pernas,
assento de tiras de couro surrado
Soar com-pas-sa-do do martelo
Entre a borracha e o pé-de-ferro.
Olhos miúdos, marejados, opacos
Soar com-pas-sa-do do martelo
Entre a borracha e o pé-de-ferro.
Olhos miúdos, marejados, opacos
pince-nez na borda do nariz, colado com fita adesiva
Vê resignado o presente e o passado
A vida flui a largas passadas
E... Simão nem nota
O rosto sulcado, as mãos calejadas
Sem distinguir dedos, de cola
A tosse rouca, unhas carcomidas
Solas, fivelas, agulha curvada
A vida flui a largas passadas
E... Simão nem nota
O rosto sulcado, as mãos calejadas
Sem distinguir dedos, de cola
A tosse rouca, unhas carcomidas
Solas, fivelas, agulha curvada
Simão deixa a vida correr na janela
JOÃO DE DEUS VIEIRA ALVES
segunda-feira, 22 de agosto de 2016
ANÔNIMA
À une passante
La rue assourdissante autour de moi hurlait.
Longue, mince, en grand deuil, douleur majestueuse ,
Une femme passa, d’ une main fastueuse
Soulevant, balançant le feston et l’ourlet;
ANÔNIMA
As calçadas molhadas
refletem teu rosto, pisado
por milhares de passos apressados
teu cabelo molhado, colado
esculpido na nuca em belo contorno
a chuva inebriante, encantada
te vê dançando “amarelinha”
esquivante e improvisada
somes no meio da loja
e...
só gotejam os pingos
no vidro, invólucro
das bijuterias expostas
Aos poucos teu perfume esvai-se
refletem teu rosto, pisado
por milhares de passos apressados
teu cabelo molhado, colado
esculpido na nuca em belo contorno
a chuva inebriante, encantada
te vê dançando “amarelinha”
esquivante e improvisada
somes no meio da loja
e...
só gotejam os pingos
no vidro, invólucro
das bijuterias expostas
Aos poucos teu perfume esvai-se
JÕAO DE DEUS VIEIRA ALVES
NA: Poeminha dos anos 90, Baudelaire foi-me apresentado em 2010 .
NA: Poeminha dos anos 90, Baudelaire foi-me apresentado em 2010 .
Medalhas
Medalhas são eternas e a fome idem.
Bairro Nobre de Porto Alegre no Ano da Graça de 2016.
B R A S I L
quinta-feira, 18 de agosto de 2016
Análise do Conto. Uma vela para Dario
Análise do Conto. Uma
vela para Dario
A. Intensidade - A narrativa é sequencial, frase curtas
quase telegráfica, mostrando o necessário, com muitas informações, uma sucessão
frenética de acontecimentos, porém há noção do limite por parte do autor.
B. Brevidade
– A seqüência de fatos ocorre, as personagens descritas por tipos físicos,
profissões, sexo, cor, idades, a ação passa-se numa noite no espaço de duas a
três horas.
C. Revelação
da vida de uma personagem- Mostrando os últimos instantes de vida de Dario
sabemos que ele sofria de ataque, talvez epilético, era um homem precavido,
pois portava guarda-chuva, gosto refinado, aristocrático, pois fumava cachimbo,
vestia paletó, gravata, alfinete de pérola, relógio de pulso, aliança, portava
todos os documentos, era forasteiro, e tinha uma marca de nascença.
D. A economia dos meios
narrativos – é o
ponto alto do conto, sendo que cada personagem que compõem o conto, um senhor
gordo, um rapaz de bigodes, uma velhinha de cabelos grisalhos, moradores das
ruas, motorista de táxi, guarda, um menino de cor, os locais citados, o táxi,
onde o levou, a peixaria que o deixaram, farmácia que ficava na outra quadra, o
café onde as pessoas bebiam, faz com que o leitor, crie e obtenha novas
estórias através dos fatos elencados.
Uma Vela para Dario, é um conto para
ser lido e relido e dissecado frase á frase.
Baleia de Graciliano Ramos - Breve Análise
No
conto Baleia de Graciliano Ramos, que também é um capitulo do livro “ Vidas
Secas”, aliás o autor partiu dele para compor o livro, temos características
marcantes de intensidade e tensão, no qual a personagem principal é uma cadela,
e o autor imprime dose de humanidade tal, que as demais personagens humanas
passam a ser periféricas, como Fabiano, sinhá Vitória e os meninos que nem nome
tem.
1. Revelação
da vida de uma personagem
Começa o conto descrevendo o
estado físico da Cadela Baleia , cheia de chagas, quase sem pelos, enorme
feridas abertas, cobertas de moscas que lhe conferiam o aspecto de um arremedo
de animal, e ainda com suspeita de hidrofobia (raiva canina), tinha amarrado ao
pescoço um colar de sabugos (crendice popular) para curar a raiva. Tratavam-na como uma pessoa da
família ao ponto de não haver diferenciação entre ela e os meninos nas
brincadeiras e agruras da fome. A decisão tomada por Fabiano em por fim aquele
sofrimento, com um tiro de espingarda.
Por parte
de sinhá Vitória há pena e nojo, revolta contra
Fabiano, por não esperar mais um dia para a execução e por fim
resignação. Após a decisão Fabiano caça Baleia pelo pátio, que atingida foge e
embrenha-se no mato.
.“ E,
perdendo muito sangue andou como gente em dois pés, arrastando-se com
dificuldade a parte posterior do do corpo”( Pag 2, par 6) . Consegue
esconder-se numa nesga de sombra que
ladeava a pedra, e na agonia
da morte que se aproximava “relembra” os momentos de sua vida, o nascimento, o
tratamento que recebeu, sendo acolhida e cuidada e julga por não ter cumprido
as tarefas mais comezinhas, estava sendo punida, e neste delírio “pre mortem” um mundo novo descortina-se
em sua mente, com abundância de comida, felicidade, liberdade que a noite que
chegou proporcionará”
O oitavo item do decálogo do
perfeito contista de Horácio Quiroga serve como referência como Graciliano
conduz a vida de suas personagens no conto
“ Toma teus personagens pela mão e leva-os
firmemente até o final, sem atentar senão para o caminho que traçaste. Não te
distrai vendo o que eles não podem ver ou o que não lhes importa. Não abusa do
leitor. Um conto é uma novela depurada de excessos. Considera isso uma verdade
absoluta, ainda que não o seja.”(Horácio Quiroga)
2.
Tensão
Neste conto existem momentos de tensão e intensidade marcantes, tais como
o municiamento da espingarda. “ Escutou, ouviu o rumor do chumbo que se
derramava no cano da arma, as pancadas surdas da vareta na bucha. Suspirou.
Coitadinha da Baleia.( Pag 1, par.9).
3. Intensidade
As
minúcias dos detalhes criam uma cena intensa para o denselace.
“Em seguida entrou na sala, atravessou o
corredor e chegou à janela baixa da cozinha. Examinou o terreiro, viu Baleia
coçando-se a e esfregar as peladuras no pé de turco, levou a espingarda ao rosto.
A cachorra espiou o dono desconfiada, enroscou-se no tronco e foi-se desviando,
até ficar no outro lado da árvore, agachada e arisca, mostrando apenas as
pupilas negras. Aborrecido com esta manobra, Fabiano saltou a janela,
esgueirou-se ao longo da cerca do curral, deteve-se no mourão do canto elevou
de novo a arma ao rosto. Como o animal estivesse de frente e não apresentasse
bom alvo, adiantou-se mais alguns passos. Ao chegar às catingueiras, modificou
a pontaria e puxou o gatilho. A carga alcançou os quartos de Baleia, que se pôs
latir desesperadamente.(Página 2, Par 3).”
4. Efeito Único
Não há
reviravolta no conto, ele segue de forma linear até o seu desfecho o parágrafo
inicial leva ao encontro do parágrafo final.
“A CACHORRA Baleia estava para morrer. Tinha emagrecido, o pelo
caíra-lhe em vários pontos, as costelas avultavam num fundo róseo, onde manchas
escuras supuravam e sangravam, cobertas de moscas. As chagas da boca e a
inchação dos beiços dificultavam-lhe a comida e a bebida”( Pag 1, par 1.)
Note-se a informação em maiúscula
na segunda palavra do parágrafo, ele nos diz que a cachorra vai morrer, já
preparou o leitor. E fecha o conto usando como metáfora da morte o verbo
dormir, o sofrimento pela felicidade, a fome pela fartura, perdoando o seu
algoz, voltando a brincar com as crianças. “Baleia
queria dormir. Acordaria feliz, num mundo cheio de preás. E lamberia as mãos de
Fabiano, um Fabiano enorme. As crianças se espojariam com ela, rolariam com ela
num pátio enorme, num chiqueiro enorme. O mundo ficaria todo cheio de preás,
gordos, enormes.”(pag3, Parágrafo Final).
E neste particular o conto é fiel ao
quinto mandamento do perfeito contista , “Não
começa a escrever sem saber, desde a primeira palavra, aonde vais. Num conto
bem-feito, as três primeiras linhas têm quase a mesma importância das três
últimas.” Horácio Quiroga, e
obedece a máxima literalmente de Anton
Tchekov, “se colocar uma espingarda
no conto ela vai ter que disparar até o final.”
O Conto O Barril do Amontillado - Breve Análise
O
Conto O Barril do Amontillado narra
a estória de um homem que tem a determinação ferrenha de vingar-se de “mil e
uma injúrias” de seu desafeto um homem chamado Fortunato, que tem sua cobiça,
soberba e empáfia incentivadas, quando desafiado a provar um vinho que o
comprador desconfia que não seja o verdadeiro amontillado, e sua ganância o leva a subterrâneo do palacete do
narrador, onde um cenário já está preparado para seu emparedamento.
1) Intensidade e Tensão
O conto e
todo permeado por intensidade e tensão, desde a ideia fixa de vingança, a
cooptação da vitima, o seu convencimento, o jogo de gato e rato, a tortura
psicológica, os contra argumentos, e a soberba e ganancia. “.Suportei o melhor que pude as
mil e uma injúrias de Fortunato; mas quando começou a entrar pelo insulto,
jurei vingança”.(Pag 1, par 1.)
2)
Unidade Construção
O conto prende o leitor desde a primeira linha até o
seu desfecho, vive-se intensamente, a desventura de Fortunato ( infortunado),
ironia com seu nome, ficamos embriagados com ele, tossimos desesperadamente, e
sentimos o frio e umidade do salitre, e principalmente o terror e pânico, que
todo o ser humano carrega, o de ser enterrado vivo, o caso neste emparedamento.
E neste desiderato nos socorre Hemingway “
No conto, o escritor ganha por nocaute, no romance por pontos”
3.Efeito
Único
Há
efeito entre a primeira frase do conto e seu desfecho surpreendente, não é
inesperado por ele leva a cabo seu intento, e daqueles contos para ler-se numa
sentada, ficar impactado e depois levar com calma e minucia saboreando cada
palavra e descobrir o motivo de tão cruel vingança.
João de Deus Vieira
Alves
terça-feira, 12 de julho de 2016
Angioplastia (Baseada no Poema Pneumatórax)
Palpitações, isquemia, apneia e tremores noturnos.
A vida inteira que sonhou e que não viveu.
Arritmia, arritmia, arritmia.
Foi levado ao médico.
___ Diga quarenta e cinco.
___ Treze... treze...treze...
___ Inspire.
...................................................................................................
__ O senhor tem duas artérias entupidas e o coração está fraco.
__ Então, doutor, não é possível tentar a cineangiocoronarioplastia?
__ Não. A única coisa a fazer é dançar um funk ostentação.
JOAO DE DEUS VIEIRA ALVES
segunda-feira, 11 de julho de 2016
Soneto de (In) Fidelidade
Se, mudo de amante ,eu não aguento!
Nunca pelo desmazelo, pois sempre sustento
É a velhice chegando nas asas do vento;
Pois, até despir a roupa, causa sofrimento!
Quando a noite o sonho for tormento,
Nem um doutor, nem uma mãe-de-santo
Hão de ver meu siso num esgar de espanto,
Para benzer ou mitigar meu sofrimento,
Em mim tua lembrança, cruel me torture
Quem teve a sorte,e astúcia de detetive
Quem teve a lassidão, na grama e lama.
Rezo que a ereção sempre perdure.
Eu possa te dizer o pavor(que tive):
No bacanal o viagra, jazer sob a cama.
No bacanal o viagra, jazer sob a cama.
JOAO DE DEUS VIEIRA ALVES
sexta-feira, 1 de julho de 2016
PRAÇA XV Nº 16
PRAÇA XV Nº 16
O amigo Oculto
" Alguns segredos devem permanecer escondidos. "
Todo mês de março, após a ressaca das férias, quando a vida começa lentamente a tomar conta de nós e o ano finalmente parece que vai deslanchar, uma das tarefas que não se pode abrir mão, para quem tem filhos em idade escolar.É a romaria de pais, levando a tiracolo as famigeradas listas de materiais a serem comprados, a fim de encarar o ano letivo.
Munidos de paciência, tempo, pouco dinheiro, fomos cumprir a gincana de: Pergunta daqui? Especula dali? Pechincha acolá?
Após semanas de intensa aventura, por livrarias, feiras e a grande novidade do momento: As lojas de preço único. Finalmente, quando se pensa que tudo está resolvido...
A pergunta vem, rascante, seca e implacável, no intervalo do Jornal Nacional, no exato momento do ajeitar da erva na cuia.
__ E a mochila, Pai?
Mochila: serve para causar deslocamento na coluna,carregar livros, cadernos, mini-games, merenda; no caso dos adolescentes o inseparável telefone celular ( que nunca tem cartão e/ou está na caixa postal,e as vezes como certos centroavantes “fora da área de cobertura”), e nos intervalos dos recreios, recheada de jornais serve também de bola.
Isto posto, refeitos do susto , os calos e a bolhas dos pés, já sofrendo de antemão, vamos dormir e ter sonhos coloridos com mochilas, merendeiras, malas e todo o tipo de bagageiro.
Após um dia de trabalho, a caminho de casa, chegamos numa banca de camelôs, com artigos importados, bugigangas “paraguayas”, onde estavam expostas diversas mochilas.
Fomos atendidos por um casal jovem, atenciosos e solícitos, e uma graça de criança que estava no carinho, que chamava atenção pelo intenso azul de seus olhos e os cabelos louros cacheados.
Mas, como filho que estuda pela manhã, e mora dentro da televisão à tarde, se não for mochila do “POWER RANGERS”, não serve.
Voltamos a banca para trocar a mochila. Só que desta vez ao invés do simpático casal com seu lindo bebê, quem nos atende, é um senhor grisalho. Diante da pergunta inevitável, por eles, o surpreso vendedor, nos argumentou que faria a troca da mercadoria, e era proprietário daquela banca naquele local a mais de dez anos, e não conhecia nenhum casal conforme a descrição feita por nós, no que foi corroborado pelo demais proprietários de bancas da rua.
Ainda, sestrosos e incrédulos, fomos abordados por um vendedor de cahorro-quente, que ouvia a conversa:
__ Olha, senhor, um casal com estas características, teve uma banca aqui, há mais ou menos quinze anos, mas foram mortos num assalto junto com seu filhinho.
Pesquisando, nos arquivos da Policia , descobri num jornal de quinze anos atrás, com a seguinte manchete:
CRIME NA PRAÇA
“Casal de artesões é barbaramente assassinado, junto com seu filho.
Nas fotos que ilustravam a reportagem, estava o simpático casal, que nos vendera a mochila e seu filho tinha o sorriso mais radiante, que nunca.
JOAO DE DEUS VIEIRA ALVES
Assinar:
Postagens (Atom)